nena 3Giovanni Filho é jornalista e editor do Farol de Notícias 

O naufrágio de Nena Magalhães (PTB) nas eleições 2016 confirma, na humilde opinião deste colunista, o seu sepultamento político. Sou muito jovem para entender a fundo os motivos da trágica odisseia do médico na luta pela prefeitura em outros anos, mas posso falar dessa, a qual acompanhei como entusiasta a favor da pluralidade na oferta de candidatos, numa terra marcada por dicotomias entre azul e vermelho.

Nena tentou assumir a cor do povo, criticando tanto Luciano Duque e o PT, como o grupo do PR e Sebastião Oliveira. Nos últimos oito meses, arregimentou um discurso buscando afastar-se dessa polarização que resume a política local há décadas. Ergueu um ethos de solidariedade, coerência e virtude, colocando a palavra empenhada num pedestal indissociável da prática política.

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Mas o médico, no meio do caminho, deixou-se afetar, misturando no mesmo caldeirão ético a mágoa contra Sebastião e outros ex-aliados versus a razão que o seu discurso de coerência lhe impunha. Falou mais alto o emotivismo e dentro dele há disposição para tudo, fato que levou o petebista a engolir os próprios valores e afogar-se nas próprias vírgulas. Conversando com os mais experientes da política local, que já acompanharam as derrocadas do médico em outras eleições, ouvi essa frase:

‘Quem conhece Nena de verdade, não pode estranhar essa adesão ao PT’. Isso quer dizer que uma postura de neutralidade do médico seria não só um grande ensinamento para as eleições 2016, mas representaria uma semente a favor de uma política realmente virtuosa, que poderia florescer a favor dele nos próximos anos, creditada pelas novas gerações.

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No entanto, não só se fez o contrário: assistimos à vida e à morte de um discurso que escondeu, na verdade, profundas marcas de demagogia e que Nena continua sustentando ao dizer que vota na ‘pessoa de Luciano’, mas ‘não no seu partido’. Agir assim é desrespeitar todos que acreditaram nele. Pelo menos dessa maneira, Nena Magalhães nos ofereceu uma aula de vida daquelas.

De como podemos virar presas das nossas próprias paixões e de uma ética de convicção, onde os erros dos outros justificam as suas atitudes, afastando-o de uma autocrítica. Uma lição que passarei aos meus filhos. Para o bem ou para o mal, Nena nos ensina que a política pode ser mesmo muito cruel com os pseudo-sonhadores.