Fotos: Arquivo Rádio Líder do Vale / Farol de Notícias – Alejandro García

O rádio é visto por muitos historiadores como o grande responsável pela integração brasileira ainda nos anos de 1930. Podemos também dizer que esse veículo de comunicação tenha sido o pioneiro no processo de globalização, antecedendo de forma pontual, a internet. Um bom exemplo é que o início e o fim da Segunda Guerra Mundial foram anunciados ao mundo pelas ondas do rádio.

A primeira emissora de rádio do Sertão pernambucano foi a Rádio Pajeú AM, de Afogados da Ingazeira. Em Serra Talhada, a primeira emissora foi inaugurada em 8 de janeiro de 1979, a rádio A Voz do Sertão, que pertencia ao ex-deputado Inocêncio Oliveira. Os estúdios da rádio foi instalados no prédio da gráfica O Sertanejo (Foto), que também pertencia ao político.

A antena que retransmitia os programas da emissora, através das ondas modulares (AM), ficava localizada no bairro da Cohab. A Voz do Sertão deu nova perspectiva de comunicação e socialização à cidade, que na época vivia ascensão dos aparelhos de TV. Os primeiros aparelhos com válvula chegaram à cidade nos 70 ainda em preto e branco e com o declínio dos cinemas.

Pelos microfones da rádio passaram nomes que marcaram a história da radiodifusão em Pernambuco, entre eles, Octávio Júnior, José Honório, Wiston Monteclaro, Moacir Alexandre e Nildo Gomes. Um dos últimos remanescentes da geração dos anos 80, que se projetaram na “Pioneira da Cidade”, foi o comentarista esportivo, Agnaldo Silva. O comunicador hoje faz parte da equipe de esporte da rádio VilaBela FM.

Nevinha, a funcionária mais antiga da rádio, relembra histórias e relação com o ex-deputado Inocêncio Oliveira

HISTÓRIAS MARCANTES

Com o processo de migração da frequência das rádios AM para FM (frequência modulada), A Voz do Sertão silenciou, restando apenas alguns aparelhos dos antigos estúdios e muitas histórias que fazem parte da vida de ouvintes e funcionários da extinta rádio.

“Cheguei aqui na rádio em meados dos anos 1980, fiz muitas amizades e sempre me lembro do carinho do deputado Inocêncio Oliveira com os funcionários. Uma das histórias que mais me marcaram foi quando uma mulher que se apaixonou por um radialista, que ela apenas ouvia a voz. A ouvinte resolveu acampar aqui na rádio com uma mala, dizendo que só saia casada com o locutor. Depois de muita conversa, eu conseguiu fazer com que ela mudasse de ideia, mas pense que foi um sufoco”, relata Neves Rodrigues, popular Nevinha, a mais antiga funcionária da empresa.

O radialista Gilberto Lima começou sua carreira na A Voz do Sertão, hoje ele faz parte da Rádio Líder FM, que pertence ao mesmo grupo. Segundo Gilberto, uma das histórias marcantes sobre a emissora, é sobre um locutor que conseguiu passar várias horas no ar, sem intervalos e falando todo o tempo.

“Na época se usava ‘pickup’ onde se tocava os LP (discos de vinil) e os comerciais eram gravados em fitas cassetes. Acontece que as duas ‘picakps’ quebraram e os tocas-fitas também. O locutor ficou falando sem para no microfone para a rádio não sair do ar. Não sei onde achou tanto assunto para falar, mas dizem que ele falou por horas a fio até  que outro funcionário percebeu e entrou nos estúdios para ajudar o rapaz”, conta Lima.

O radialista Gilberto Lima, também começou sua carreira na A Voz do Sertão e hoje atua na Líder FM

O FUTURO DA RÁDIO

As empresas radiofônicas do grupo Inocêncio Oliveira estão sob a administração do jovem empresário Victor Oliveira. O herdeiro e neto do ex-deputado fala com orgulho da história da emissora e do amor que o seu avô tem pelas rádios que construiu.

“Tudo começou ainda nas dependências da gráfica do meu vô. A Voz do Sertão conseguiu ser ouvida em vários lugares do Brasil e até do mundo, já recebemos cartas de outros países. O vô sempre fala sobre o sentimento que tem pelas rádios e já disse que não é para se desfazer delas de jeito nenhum, porque ele tem um carinho muito especial por elas”, comentou Victor.

Atualmente A Voz do Sertão AM virou Líder do Vale FM e é comandada pelo empresário e neto de Inocêncio, Victor Oliveira