111anos (5)

Colaborou Jamilys Nogueira – Fotos: Farol de Notícias / Alejandro García

Aos que se dizem tão jovens e acham que não têm tempo a perder. Parem um pouco para escutar a voz dos antigos, pedir a benção à longevidade. O FAROL de muitos personagens se encanta fácil por centenários. É muita história para contar. Tem uma mulher bonita danada, uma guerreira de 111 anos. Mas antes teve o Pedro rezador (relembre). Agora o nosso personagem é Alexandrina Maria Francisca da Conceição, da Pedra Ferrada, em Floresta, residente há 20 anos em Serra Talhada, no bairro do Ipsep. Nascida em 1905, ela fala com a simplicidade de uma catadora de nuvens de algodão.

Alexandrina, a grande, foi soberana de um império de sete filhos que pegou para criar e uma lavoura de algodão para tirar o sustento. “Peguei porque sempre tive vontade de criar, é tudo família”. Uma aula contra a intolerância e o desamor. Hoje em dia tem para mais de dez netos. Pense numa cabeça boa para contar que ainda chegou a casar. Só não alcançou a lua de mel. A febre amarela tomava de conta e junto ao marido não pode se esquentar na camarinha. Enviuvou com um mês e dois dias de matrimônio, só não perdeu a estribeira.

111anos (1)

“Tirava era uma parede desse tamanho de algodão”, no tempo que era barato e só dava para o de comer. Eu vendia, hoje tá é tudo caro”. relembra, a senhorinha entendida de inflação. Entre um sorriso e outro confidenciou a reportagem  do FAROL que de vez em quando tomava uma birita e fumava, aqui ou acolá ainda diz que dá um trago. “Mas nunca queria deixar”. Parece que uma gripe lhe deixou esmorecida, até reconheceu que tem que largar o fumo, as doses parou foi de vez. Danada que só ela, a centenária garantiu que dançou foi muito nesse Sertão.

O  juízo encurtou para a política, não lembra mais em quem votou das últimas vezes. Mas a figura do sertanejo que se faz de retirante conhece bem. Uma certa ocasião, saiu da Fazenda Pedra Ferrada, no município de Floresta, desceu de pé por sete léguas, 12 horas de chão, para Serra Talhada. Numa festa de setembro, veio a pé junto com um irmão fogoso que a iludiu dizendo que era perto. Essa lembrança não saiu da cabeça, igual os lenços que o pai botou no costume. Sem saber mais dessas datas, Dona Alexandrina não teve o prazer da festa, os pés ficaram inchados da tirada.

111anos (10)

HERANÇA DO CANGAÇO

O povo antigo tem uma história de rezador. Dona Alexandrina, teve um pai que chamavam Antônio Capu, agricultor que curava os baleados de Virgolino Ferreira Lampião e seu bando. Em agradecimento, o concedeu o apadrinhamento que não o livrou de escapar fedendo de ver a morte. “Eu sou afilhada desde que era desse tamanho, mas dizem que ele morreu”. Foi no tempo que nem Maria Bonita tinha chegado. Do padrinho, que achava muito bonito, recebeu um mimo de guardar dinheiro e meio mundo de pratas. Uma lembrança do Cangaço.

Mário Quintana, o poeta, dizia que não são todos que realizam os velhos sonhos da infância. Alexandrina é a mulher que trouxe para a velhice a felicidade e o riso frouxo de uma criança. Qual o segredo para viver desse tanto? “Só quem sabe é Deus”. E botou a gargalhar.

3111anos (7) 111anos (8) 111anos (9)