Por Manu Silva, militante do Coletivo FUÁH, Movimento Diverso e repórter/redatora do Farol de Notícias

Publicado às 18h50 desta segunda-feira (4) / Foto: Juan Feres / Nathan Nascimento

No último sábado (2), Serra Talhada elegeu a nova representante da beleza municipal.

Polêmicas a parte, o pomposo concurso não foi suficiente para calar a ignorância de comentários machistas e, principalmente racistas, em uma rede social durante a transmissão ao vivo do evento.

Os comentários de cunho racista foram proferidos contra a Miss Beleza Negra 2018, Thiely Oliveira, que também concorreu ao Miss Serra Talhada.

A única negra entre as candidatas, na cidade que acabou de finalizar o reinado da primeira miss negra na história de seus concursos.

Não repetirei os insultos registrados na rede social, mas em conversa com a modelo está mais que claro a importância de denunciar o racismo deste caso e de todos os outros que surgirem.

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“Racismo é uma coisa séria e que precisa ser discutida. Sofri preconceito racial na minha infância, adolescência e agora não é diferente, mas dessa vez não vou me calar. Vou expor o preconceito aqui em Serra e fazer minha parte para encerrar esse ciclo. Temos que conscientizar os jovens que racismo é crime”, afirmou Thiely.

Lamentável que uma cidade como Serra Talhada, que há dois anos promove eventos que ressaltam a beleza negra; que cada vez mais tem introduzido no mercado da moda e da mídia produtos da cultura negra e modelos pretos e pardos; que têm movimentos sociais que lutam pelo feminismo e o reconhecimento de uma afrobrasilidade; e que têm em suas instituições de ensino superior grupos e núcleos de estudos que pensam as questões raciais, ainda padeça da chaga do racismo de forma tão violenta e explícita.

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O caso de Thiely, infelizmente, é só mais um dos muitos que presenciamos cotidianamente. Foi mais uma injúria racial proferida contra uma mulher negra. Assim como os comentários ofensivos e vexatórios sobre a vencedora do concurso, Rafaela Lopes.

Feitos por pessoas que desconhecem de passarela, desenvoltura, postura ou qualquer outro pré-requisito exigido das candidatas durante o certame. Gosto pessoal e opinião não dão título e coroa a ninguém. E quando é ofensivo e agressivo é que não merece mesmo destaque. Precisamos combater diariamente o racismo e o machismo.

O caso poderia sim gerar um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia Civil de Serra Talhada, no entanto, a miss afirmou que prefere construir conhecimentos, e trilhar o caminho da educação.

Thiely provocou as instituições a levar o debate racial para além do mês e Dia da Consciência Negra. “Escolas, por favor promovam palestras e debates sobre o assunto, racismo tem que ser discutido todos os dias e não só em novembro”, finalizou.

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A título de informação gostaria de destacar que injúria racial é toda e qualquer ofensa verbal ou não proferida contra uma pessoa por sua raça/cor/etnia. É crime previsto no artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal, que pode determinar pena de reclusão de um a três anos e multa, com registro equivalente ao violência.

Assim como Thiely que está usando seu reinado para denunciar as mazelas dessa sociedade, e representar as mulheres negras serra-talhadenses, devemos todos nós respeitar as diferenças e lutar contra o racismo, machismo, classismo e LGBTfobia.