A provável chegada da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer (PMDB) na Câmara Federal, nos próximos dias, coloca mais uma vez em evidência a posição do PSDB no Congresso, o fiel da balança. Sustentáculo do governo peemedebista, o partido deliberou, na semana passada, pela permanência junto a Temer.

Mas, na visão do cientista político Rudá Ricci, a decisão só gera desgaste perante a opinião pública, ameaçando sua projeção nacional. Para ele, caso a legenda continue “fazendo de tudo para se manter no poder”, “vai se tornar um novo PMDB”.

O procurador Rodrigo Janot deve apresentar até o fim de junho a acusação formal contra o presidente em decorrência da delação dos executivos da JBS. Para a denúncia ser levada até o Supremo Tribunal Federal (STF), é preciso que a Câmara autorize a abertura do processo que pode afastar Temer, com 342 votos favoráveis.

O peemedebista precisaria de 172 votos contrários ou ausências para barrar a ação. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM), já deixou claro que o recesso parlamentar pode ser suspenso para não atrasar a análise da denúncia.

Na última terça-feira, o PSDB se reuniu durante seis horas com toda sua representação, inclusive quatro ministros e quatro dos seis governadores, para deliberar sobre a permanência no governo Temer. A decisão de continuar na base, contudo, foi contraposta pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que, no final de semana, cobrou um gesto de grandeza de Temer e reivindicou a antecipação das eleições gerais. A colocação só deixa claro o racha dentro do partido, já que a ala mais jovem – os “cabeças-pretas” – também exigiu o desembarque da base.

Rudá Ricci acredita que a aliança com o governo Temer só prejudicou a imagem dos tucanos perante o eleitorado. “O PSDB está tendo perdas (por sua posição no governo Temer). Segundo pesquisas prospectivas, o partido perdeu força no Nordeste. A saída para 2018 seria investir no Sudeste, o maior colégio eleitoral, mas em Minas Gerais, por exemplo, a legenda está destroçada por conta do Aécio”, analisa. Para o cientista, a nota de FHC mais destrói do que ajuda o partido, “porque o estrago já está feito”.

A solução proposta por Fernando Henrique seria uma forma de recuperar a projeção nacional do partido. “Do jeito que está, o PSDB vai se tornar um novo PMDB, sem alinhamento ideológico claro e fazendo de tudo para permanecer no poder. E se o Aécio for preso, piora ainda mais a situação. Vai ficar nítido que não é um partido de confiança”, pontua Ricci.

Com a posição tucana sendo reavaliada diariamente, o presidente interino da sigla, o senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE), afirma que “ninguém votou para ficar no governo até o fim”. Apesar de ser alto o número de votos para a saída de Temer, Rudá Ricci considera que a mudança de lado do PSDB enfraqueceria definitivamente o governo peemedebista.

D Folha de PE