Paulo CésarPor Paulo César Gomes, professor, escritor e colunista do Farol

Recentemente tive um sonho – se é que isso pode ser chamado de sonho – muito sombrio. Nele os redatores do Farol de Notícias, me incumbiam de cobrir, junto com o Nabucodonosor da fotografia, Alejandro García, a celebração da união política entre Luciano Duque e Sebastião Oliveira, num evento em Recife.

Antes de entramos no local encontro – uma sofisticada casa de recepções – percebemos que em um bar de esquina estavam tomando uísque o ex-prefeito Carlos Evandro, Dr. Nena, Dr. Fonseca, Dr. Jaílson, Israel Silveira, Duquinho, Dedinha Ignácio e o Deputado Augusto César, o único a tomar água de coco era Marquinhos Dantas. Ao nos aproximarmos da mesa, sentimos que o clima era de fim de velório. Alguém ainda tentou empolgar a turma propondo que o candidato fosse escolhido ali, através do “palitinho”, mas a sugestão acabou gerando mais uma briga interminável e todo mundo foi pra casa mais cedo.

Seguimos então para o evento. Lá dentro demos de cara com um banner gigante do governador Paulo Câmara, e ao fundo do salão, três quadros emoldurados, um de Eduardo Campos, um de Miguel Arraes e outro de Inocêncio Oliveira. Uma espécie de santíssima trindade para abençoar a união política entre ‘Lulu’ e ‘Sebá’.

Na primeira fila estava a primeira dama, alguns secretários da prefeitura e vereadores da bancada governista. Nos Sebastião e Luciano Duquedemais assentos estavam os vários cargos de segundo escalão do governo do estado e da prefeitura, e um ‘moi’ de puxa saco. O clima era de desconcentração e de muita animação. Muitos já usavam adesivos no peito com a frase: Eu já sabia!

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A mesa onde o acordo ia ser celebrado estava decorada com as cores vermelha e azul. No centro, estava sentado o secretário Faeca Melo, que vestia uma camisa muito elegante, de linho vindo da França, nas cores branca, vermelho e azul.  Do lado esquerdo, estava sentado o prefeito Luciano Duque, que sem perder tempo, expôs o seu belo sorriso para as lentes de Alejandro García. Ao lado do prefeito sentava-se; o secretário Márcio Oliveira e o vereador Marquinhos Oliveira. Do lado oposto, estava o Secretário Sebastião Oliveira e o seu irmão, Waldemar Oliveira.

Antes da assinatura do acordo, ocorreu um momento de descontração, o ‘prefeito sorriso’, em gesto de cortesia para com o seu novo aliado, que já foi adversário e aliado anteriormente, soltou a voz e cantou a música “Bandeira Branca”, de Dalva de Oliveira. Sebá não se conteve e bastante emocionado cantou “A Raposa e as Uvas”, do seu ídolo Reginaldo Rossi, e dedicou especialmente a canção a toda militância vermelha e azul presentes a cerimônia.

A REUNIÃO

Após esse momento de puro êxtase sensorial, a reunião teve início. O primeiro a falar foi ‘Fafá’, que murmurou algumas palavras que praticamente não foram compreendidas. O secretário concluiu com a seguinte frase: “Eu estava certo! Taí… calei a boca de muita gente! Viva a união ‘Lubá’! E encerou fazendo um “L” com os dedos de uma das mãos e um “V” com os dedos da outra mão.

Seba e duqueEm seguida falou o prefeito. Luciano iniciou o discurso dizendo que ali estava nascendo à união política mais importante da história de Serra Talhada e que a estrada para Brasília estava muito esburacada, por isso era melhor mudar a direção e aproveitar que a estrada até Recife estava mais bem pavimentada. Isso graças ao trabalho brilhante do secretário Sebastião Oliveira que bate na porta do governador Paulo Câmara. Duque aproveitou o momento para pedir desculpas a ‘Sebá’ por tê-lo chamado de “coronel” e pela militância que o chamava de “boneco” na eleição de 2012.

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O secretário então fez uso da palavra. Inicialmente ele teceu muitos elogios a Duque, e resignado, disse que suas críticas feitas a gestão foram ditas no calor das emoções e que agora estava tudo zerado entre eles. Sem mais delongas, o coordenador Fafá leu os pontos do acordo, que entre outras coisas, previa que Duque seria o cabeça de chapa e a vice seria uma indicação de Oliveira. Sendo que os cargos seriam divididos em igualdade, 50% para cada grupo. Luciano se comprometia em apoiar a reeleição de Paulo Câmara e a votar para as vagas no senador, em Danilo Cabral e André de Paula.

Feita a leitura dos pontos, Fafá perguntou se tinha alguém que queria contestar a união, caso contrário, ficasse em silêncio para sempre. Eis que suje a turma do PT, que viajou de ônibus fretado, de Serra Talhada até Recife, com intuito de impedir a união. O salão foi invadido por Toinho da Fetape, Sinézio Rodrigues, Manoel Enfermeiro, Domá, Zé Pereira e mais uma dúzia de militantes que empunhava a bandeira do PT com muito orgulho.

“Parem essa união!” Gritou um dirigente do PT. “Luciano, você nos traiu. Logo conosco que o recebemos de braços DUQUE E SEBASTIÃOabertos, demos a chance de você ser candidato, quando as portas se fecharam no PR e você acabou se elegendo com ajuda do nosso partido. Isso não se faz com quem nos dá a mão nas horas de aperreio”, disse um dos petistas, sem conseguir segurar a emoção. “A política é arte dos espertos!”, respondeu o prefeito, para a alegria da plateia.

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Outro petista ainda apelou: “Companheiro Luciano, não se vá. A gente entrega as três secretarias que a gente têm e mais os “carguinhos”  que você nos deu, só para você não nos abandonar. E olha que Humberto ainda vai trazer Dilma mais um três vezes aqui só pra te abraçar. Fica Lulu! Fica meu prefeito!…”

Em meio ao melodrama petista, acordei com o som do aparelho telefônico, do outro lado da linha uma gravação me avisava que seu eu não pagasse a conta até o final da tarde a linha seria bloqueada. Confesso que pela primeira vez na vida fiquei feliz com uma cobrança, pois foi graças aquela ligação que o pesadelo que estava tendo chegou ao fim.

O que ficou deste pesadelo é a sensação de que a política em Serra Talhada é feita com olhar, exclusivamente, voltado para o próprio umbigo. Com projetos políticos que são imorais e demagógicos. Como no caso dessa suposta união ‘Lubá’. Na verdade, muitos políticos de Serra Talhada agem com o seguinte pensamento: “É eu por mim e o povo que se lasque!”

Bons sonhos a todos e um forte abraço!