bolso-vazioA inflação elevada e a retração da economia provocaram em fevereiro a primeira queda do rendimento do trabalhador em mais de três anos.

No mês passado, a renda real -ou seja, descontada a inflação– recuou 0,5% na comparação com fevereiro de 2014. Foi a primeira queda do indicador em relação ao ano anterior desde outubro de 2011, quando a perda havia sido de 0,3%, aponta o IBGE. Foi também o maior tombo desde o 0,7% de maio de 2005.

“Nos dois últimos meses houve alta da inflação e retração da renda em razão disso”, disse Adriana Berenguy, porta-voz do IBGE que apresentou os dados da PME (Pesquisa Mensal de Emprego).

A inflação de 2015 até fevereiro é de 2,66% pelo INPC e de 2,48% pelo IPCA.

Se comparado com janeiro, o rendimento real (ou seja, com o valor nominal corrigido dos efeitos da inflação) caiu 1,4%, para R$ 2.163.

Mas não foi só a inflação que derrubou o rendimento, pois o valor nominal de janeiro foi maior que o de fevereiro. Para o economista Pedro Rossi, da Unicamp, o indicador é bastante sensível à atividade econômica, e a queda é consequência da recessão. “E, dada a rotatividade que temos no Brasil, que é alta, quando se repõe o funcionário, é por um salário menor.”

A economista Lúcia Garcia, do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), aponta que a redução não aconteceu para os assalariados formais, mas para os que trabalham sem carteira e por conta própria. “O mercado de trabalho piora primeiro para esses segmentos.”

DESEMPREGO SOBE

A pesquisa aponta também que a taxa de desemprego de fevereiro fechou em 5,9%, o que representa uma piora tanto em relação ao resultado do mesmo mês do ano passado (alta de 0,8%) como o de janeiro (+0,6%).

Economistas consultados pela agência Bloomberg esperavam 5,7%.

A taxa de 5,9% é a maior para um mês de fevereiro desde 2011, quando ficou em 6,4%.

O número de pessoas ocupadas foi de 22,77 milhões, queda de 1% sobre janeiro. Houve aumento no número de pessoas que procuram vaga –10,2%, para 1,4 milhão.

O setor que mais piorou em relação ao mês de janeiro foi o que o IBGE classifica como “outros serviços”, que inclui alimentação, transportes de cargas ou passageiros e serviços pessoais (que incluem trabalhos como manicure e cabeleireiro).

Berenguy diz que houve diminuição de 3,7% no número de trabalhadores nesse setor, impulsionada por demissões em serviços pessoais (perda de 70 mil vagas no mês), alojamento e alimentação (34 mil) e transporte terrestre (30 mil postos).

Na comparação com fevereiro de 2014, os trabalhadores da indústria foram os mais afetados. De um ano para o outro, a porcentagem de gente ocupada caiu 7,1%, uma diminuição de 259 mil postos de trabalho.

Rossi, da Unicamp, afirma que é preciso esperar até o resultado de abril para concluir se há uma degradação significativa no mercado de trabalho do país.

( Jornal do Commercio )