joel-da-harpaA Desembucha, coluna mais contestada de Serra Talhada, retorna para discutir um assunto tão polêmico que ganhou destaque na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). A aceitação de homens e mulheres trans, travestis e transexuais no concurso da Policia Militar do estado, decisão paliativa para ajustar a gafe cometida no edital. O Ministério Público rediscutiu o certame na segunda-feira (16), na terça-feira (17), Dia Internacional de Combate à Homofobia, o deputado estadual Joel da Harpa (PTN) usou a tribuna da Alepe para se posicionar contra a decisão dizendo que a população trans não tem perfil para a carreira.

Cá com meus negros botões fiquei pensando qual seria o perfil de um policial que uma mulher ou homem trans não possa se encaixar, nunca ouvi falar ou li em meus estudos que gênero interfira na construção profissional, assim como a sexualidade, a raça/etnia, nacionalidade etc. O Programa Farol de Notícias transmitido pela rádio Vila Bela FM, no último sábado (21), ajudou a tirar a dúvida e conhecer um pouco mais do deputado. Em entrevista o deputado foi questionado por Giovanni Sá e Paulo César quanto o seu posicionamento em relação à população trans e a participação no concurso. As declaração do deputado foram notoriamente homofóbicas e transfóbicas.

“A questão do homossexualismo é muito particular de cada um. Nós estamos sendo contrários a entrada de transexuais e travestis, porque ao meu ver a instituição (Polícia Militar) não está preparada para receber travestis e homossexuais. Ao meu ver também o travesti não tem perfil para ser um policial militar. Até porque será um transtorno, o travesti ai usar cabelo curto ou comprido na polícia? Vai fazer educação física com homem ou com mulher? A corporação não está preparada para pessoas desse perfil, por isso eu sou contrário”. Mas veja que argumentação pertinente para ser totalmente reconstruída em prol do respeito à comunidade trans.

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Soldado Marcelo Viana dos Santos, policial militar de Pernambuco

A corporação não está preparada? Não está mesmo, e não é apenas por posicionamentos de como esses por parte do agentes ou questões de estrutura física. Mas é a heteronormatividade imperando nas instituições brasileiras. Em meio a entrevista, Joel da Harpa “O policial representa a força do estado, o policial representa a moral. E hoje um travesti não tem esse perfil de ser um policial. Vou dar um exemplo a você, qual banheiro o travesti vai usar? O masculino ou feminino? Vai usar saia ou usar farda. A instituição precisa se definir internamente quanto a isso, o exército precisa se pronunciar”. Pareceu Ana Paula Valadão preocupada com a roupa do povo.

Não fiquei de fora e perguntei se o seu mandato estava refletindo questões de segurança para a população negra, já que o deputado é negro, estava procurando o lado bom desse jovem estar junto dos que cuidam do legislativo pernambucano. Depois de percebê-lo fundamentalista, homofóbico e transfóbico, tive o desprazer de reconhecê-lo como um cidadão que não compreende as dinâmicas raciais de seu país e os processos de discriminação por que passa o povo negro, talvez sequer compreenda os eventos racistas que lhe ocorram. O deputado é daqueles que acredita em democracia racial. Conceito equivocado, clichê e perigoso, sobretudo para um representante do povo.

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“Essa questão da população negra é outro ponto que a gente tem que avaliar. Quem é negro nesse país? Eu sou negro, o nosso país foi povoado por negros, índios, portugueses, holandeses, temos uma população que é uma miscigenação. A grande maioria da população brasileira é negra, então nas estatísticas há um grande número de negros sendo atacados, negros que estão no meio da pobreza. Isso é natural no nosso país, agora lógico, as políticas públicas e sociais devem ser para todos, seja negro, seja branco, seja amarelo, seja índio e não está querendo dar prioridade por questões sexuais”, disse Joel da Harpa, voltando a tocar na sexualidade e fugindo da pergunta.

Em resposta, como colunista me coloco totalmente contrária as declarações do deputado estadual Joel da Harpa (PTN), e como Coletivo FUÁH repudiamos as afirmações homofóbicas, transfóbicas e machistas do deputado. Assim como lamentamos a falta de representação do deputado em relação às pautas levantadas pelos movimentos negros a nível nacional e estadual. Já que o deputado defende as demandas da segurança pernambucana deveria se posicionar em combate ao genocídio da população negra e ao racismo das instituições públicas do estado. Mas nem isso. É lamentável e é mais um nome no caderninho de lembranças eleitorais.