imagesA Desembucha hoje vai falar sobre fatos que causaram muita treta nas redes sociais nas últimas semanas. Tudo começou com uma consciente campanha da rede de lojas C&A que propõe roupas sem gênero ou unissex, lançadas em um comercial para o Dia dos Namorados, no clipe os casais se beijam e trocam de roupa. A propaganda provocou a “santa indignação” da cantora gospel e pastora, Ana Paula Valadão, se posicionando contra a ideologia de gênero. Semanas antes, os vereadores de Recife e deputados estaduais protagonizaram o debate se posicionando contra materiais didáticos sobre gênero nas escolas pernambucanas.

Como a semana terminou? Com a mídia nacional e internacional noticiando um caso de estupro coletivo no Rio de Janeiro. Uma adolescente de 16 anos foi vítima de 30 abusadores, as cenas da violência foram divulgadas nas redes sociais e uma mobilização nacional se formou contra a cultura do estupro no país. Bonito, né? Sinto uma incoerência tão grande desses cidadãos que prestam um desserviço a sua comunidade, a cantora querendo enfatizar valores da família tradicional e que papéis sociais de homens e mulheres estejam separadamente estabelecidos: “mulher veste roupa de mulher”, “homem veste roupa de homem”. Discussão tão desnecessária para esses dias.

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Enquanto setores fundamentalistas da sociedade enfatizarem essas diferenças o patriarcado permanece encrostado nas relações humanas, o machismo se fortalece e a rede de preconceitos se amplia, resvalando na educação das novas gerações. Enquanto meninas nascem apenas para usar rosa, brincar de boneca, casinha e ouvir da família: ‘já é uma moça, tem que saber cuidar da casa para quando casar’; a socialização masculina é bem diferente, antes mesmo da puberdade há uma pressão social para afirmação da masculinidade, tudo em torno do órgão sexual. O falocentrismo atrelado a obrigatoriedade da heterossexualidade. Meninos aprendem que têm que ser machos a todo custo.

Imagina esse processo na terra do patriarcado, do coronelismo, na terra de Lampião, o cabra macho por excelência do Sertão. Os homens comandam e as mulheres lhe servem, na mesa e na cama. E não há nada de romântico nisso, violência sexual é também quando o marido ou namorado força o sexo mesmo quando a mulher não quer. Tudo gira em torno do prazer do homem, e na sociedade machista os meninos aprendem que as mulheres são seus objetos. Eles compreendem que podem estuprar e esse ato, infelizmente é bem humano. Não há nada de monstruosidade, nem todos os estupradores têm doenças mentais. São homens cometendo atos brutais motivados pelo machismo.

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Mas e agora, o que fazer? Punir, discutir, reeducar e apertar as leis ao invés de querer culpar a vitima ou criar justificativas para reafirmar a cultura do estupro. Castramento químico resolve? Não, nada que vem de Jair Bolsonaro deveria ser ouvido. Retirar o órgão sexual de um homem não faz com que ele deixe de ser um abusador, só enfatiza que a masculinidade está atrelada ao pênis. Que só o órgão sexual é suficiente para definir o que é homem e o que é mulher. Gênero não pode ser compreendido a partir de premissas da Biologia. Estamos falando de relações sociais e identidade dos sujeitos. A escola e todas as outras instituições de formação devem discutir gênero.

Nesse domingo (29), a Parada do Orgulho LGBT de São Paulo foi para as ruas pedindo “Lei de Identidade de Gênero, já! – Todas as pessoas juntas contra a Transfobia!”. Os deputados e a Justiça brasileira não estão interessados nas leis de proteção e garantia de direitos para pessoas LGBT’s, o concurso da Polícia Militar de Pernambuco é um exemplo. Precisamos discutir gênero na escola por todos os vieses possíveis. O tema não é de interesse apenas para lésbicas,gays, bissexuais, transexuais e travestis, mas também para heterossexuais e cisgêneros (aquelas que afirmam a identidade de gênero correspondente ao sexo biológico que nasceram). É tema para todos nós.

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