Paulo César Gomes é Professor, escritor e repórter especial do Farol

O título acima é oriundo em um dito popular, e que de certa forma ilustra como o pensamento de alguns seguimentos que defendem a volta dos militares ao poder ou a aplicação de práticas políticas/governamentais conservadores, autoritárias e violentas, mostram-se ultrapassadas pelo tempo e pela história.

É estranho ver surgir em meio a uma geração tão heterogênea e que é essencialmente propensa ao exercício da liberdade, seja no Brasil ou no Oriente Médio, a propagação de ideias reacionárias, e que do ponto de vista prático, nunca resolveram nenhum dos problemas sociais, culturais, econômicos ou político do país.

Os que hoje defendem o golpe de 1964 e a Ditadura Militar que se instaurou até 1985, mal sabem o quanto de retrocesso esse período trouxe ao povo brasileiro. Foram duas gerações que tiveram que conviver com a censura, a intolerância, o autoritarismo, a tortura e o desrespeito aos direitos humanos, promovido por um regime – diferente de governo eleito – que fez da violência a sua principal bandeira. Nessa fase nefasta foram assassinados dezenas de jovens e outros tantos tiveram que deixar o Brasil, outras dezenas ainda hoje são tidos como desaparecidos.

A economia pouco cresceu, em relação a outros nações com menor potencial, isso nos levou a ser definido como uma país do chamado “terceiro mundo”, além de uma herança maldita, a dívida externa – com governos e bancos estrangeiros -, que ao final de 1984, último ano dos militares,  chegou ao equivalente a 53,8% de seu Produto Interno Bruto, ou seja, do valor referente a renda gerada no país, isso representava cerca de US$ 102,1 bilhões para um PIB – que indica a capacidade nacional de pagamento – de US$ 189,7 bilhões. Segundo os dados do IBGE, os ricos ficaram mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

E mesmo com o controle do legislativo, do judiciário e da imprensa, os militares não foram capazes de escapar da divulgação de mais de 15 escândalos de corrupção, que envolveram generais, governadores biônicos, prefeitos e algumas empreiteiras que ainda hoje atuam no mercado.

No tocante a saúde pública a situação foi ainda mais estarrecedora, segundo a entidade internacional World Population, em 1979, morriam 52 crianças por hora no Brasil. A desnutrição foi responsável, neste mesmo ano, por 52,4% dos óbitos entre crianças de até cinco anos de idade.

O IBGE registrou, em 1981, que 70% da população não comia o necessário, e reconhecia de forma oficial a existência de 71 milhões de subnutridos no Brasil. Tudo isso em pleno período de “milagre econômico”. Em 1979, um documento do Banco Mundial apontou que a saúde do brasileiro piorava a cada ano.

No Nordeste, 30% dos menores de 18 anos se alimentavam com 400 calorias diárias, enquanto a cota mínima seria de 3 mil, e que cerca de 80% dos nortistas e nordestinos tinham uma expectativa de vida 14 anos abaixo daquela das elites sociais.

Na educação o números não são animadores, já que enquanto o genial educador Paulo Freire ajudava a erradicar o analfabetismo no mundo, no Brasil ele era perseguido e tratado como subversivo. Desta forma, o alto índice de analfabetos se prolongou até os dias atuais, pois não se tem como recuperar aqueles 21 anos de ‘ignorância’ em poucos anos.

Vale registrar que os militares nunca fizeram uma autocrítica pública sobre as atrocidades cometidas naquele período, a única colaboração foi a de destruir e queimar documentos secretos e que comprometeriam vários líderes de alta patente.

Por fim, é preciso dizer que o que o Brasil precisa é de liberdade. Isso mesmo. Liberdade! Qualquer coisa que não seja no sentido de proporcionar liberdade ao um povo que conviveu com um processo violento de colonização e que por isso corre nas suas veias o desejo de ser livre, é na verdade um discurso hipócrita e demagógico. Mas se ainda assim, os ditos defensores da ética, da moral, dos bons costumes e da violência para combater a violência, insistirem e gritar. Ficar ai o recado do próprio povo: enquanto os cães ladram a caravana passa… E a história é prova disso!

Um forte abraço e até a próxima!