O FAROL entrevistou nesta quarta-feira (17) a futura diretora da XI Geres (Gerência Regional de Saúde), Karla Milena, com o objetivo de descobrir os novos planos que ela tem para ajudar a melhorar o quadro da saúde na. capital do xaxado. Karla deixa, após cerca de dez anos, a direção do Hospam (Hospital Regional) para assumir o lugar do médico Clóvis Carvalho. Nesta conversa ela rebate críticas que tem enfrentado e manda um recado para a população de Serra Talhada.
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FAROL: Qual a avaliação que você sobre a sua passagem pelo Hospam?

KARLA MILENA: Bom dia, FAROL. Bom dia, faroleiros. A minha avaliação é de que ao longo desses sete anosque estou à frente da gestão do hospital, sabemos de todas as dificuldades inerentes a você dirigir um hospital público, que funciona 24 horas por dia, os sete dias da semana, porta aberta. Tendo que receber não só os pacientes de Serra Talhada, mas dos 10 municípios que compõem a XI Geres, como também pacientes vindos de outras geres. Como é o caso que recebemos pacientes que veem da Geres de Salgueiro, de Afogados da Ingazeira, de Arcoverde, e até de outros estados. Porque nós recebemos pacientes que veem, principalmente, do estado da Paraíba.

E aí, temos muitas dificuldades que não são inerentes apenas ao Hospam, mas de muitas outras unidades de saúde de Pernambuco e do Brasil, que é carência de recursos humanos; nós temos dificuldade de encontrar todas as especialidades médicas, para que a gente possa tá cumprindo a escala com uma equipe mínima. Que seria um clínico, um pediatra, um cirurgião, um ortopedista, um anestesista e um obstetra. Na maioria dos dias temos a equipe completa, mas acontecem imprevistos, médico adoece, tira férias, tira licença pra acompanhar um parente doente, e aí a gente não tem o artifício de poder substituí-lo.

Mas, eu posso te dizer que tivemos muitos avanços ao longo desses sete anos, fruto de uma parceria boa com o gerente da XI Geres, Dr. Clóvis Carvalho. E a gente sempre trabalhou alinhado, em sintonia com o mesmo pensamento de cobrar dos servidores o horário de chegada, a permanência no setor de trabalho, horário de saída, atendimento adequado aos pacientes, realização de todos os procedimentos que fossem pertinentes a serem realizados aqui dentro da unidade. Aquilo que não era possível resolver aqui dentro da unidade, a gente buscava tentar resolver dentro do município através da Rede complementar e se não fosse possível, porque às vezes recebemos pacientes gravíssimos vítimas de acidente, TCE politraumatizado, e tínhamos que remover esses pacientes para um hospital de maior porte, de maior estrutura de neurocirurgia, de vascular de UTI, enfim. E nós fazíamos essa transferência, algumas vezes terrestre, outras vezes por meio aéreo, porque sempre que precisamos tivemos esse suporte das aeronaves pra fazer a remoção desses pacientes graves.

Implantamos junto com a XI Geres vários serviços. Trouxemos a Telemedicina, que foi pioneira nesse hospital, e serviu de modelo para todos os hospitais regionais do estado de Pernambuco. Que é um serviço, onde é realizado o exame eletrocardiograma no paciente que chega na unidade com dor torácica, com crise hipertensiva, realizamos esse exame e encaminhamos por endereço eletrônico para o serviço de Telemedicina de Salvador, que é contratado pelo estado, para uma equipe de cardiologistas analisar o exame e orientar os clínicos de como proceder com esse paciente. E ao mesmo tempo fomos pioneiros a adquirir uma medicação chamada metalize, que é um trombolítico, que se usada até duas horas após o início do infarto, salva a vida do paciente, evita o infarto e melhora as condições de recuperação e evita sequelas futuras. Então nós fomos pioneiros nesse serviço, que como eu já te falei serviu de base para ser implantado nos outros hospitais.

Adquirimos um gerador novo para a unidade, construímos a casa para o gerador, estamos em fase de conclusão da nova lavanderia do hospital. O hospital foi reformado, totalmente reformado, adquirimos sempre equipamentos, que hoje, não existe em nenhum outro hospital privado daqui de Serra Talhada. Equipamentos estes que você encontra no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, que é um hospital privado que atende as maiores das autoridades do país. E a gente tem a satisfação de ter aqui no nosso hospital equipamentos de ponta, como os nossos focos cirúrgicos, nossos monitores paramétricos, nossos aparelhos de anestesia, todos com qualidade e servindo à população de Serra Talhada. A gente fica gratificada com isso.

Tivemos também, a realização de vários concursos públicos nesse período. A chegada de novos médicos, mas a chegada de novos médicos e a saída de outros, porque chegou o tempo de aposentadoria, alguns foram embora pediram transferência. Mas, na medida do possível, hoje a gente tem uma escala que favorece uma assistência melhor, um atendimento mais rápido. Diante do perfil desse hospital, que é realmente atender os pacientes de emergência, com risco de vida ou de urgência. O nosso perfil nunca foi o de atender consulta, nem aquelas pequenas urgências e as coisas que a gente pode, assim dizer, que são da atenção básica. Nesse hospital é atendido clínica medica, cirúrgica, pediatria, obstetrícia, traumato-ortopedia, mas em pacientes que estão na situação de risco, de urgência ou emergência.

FAROL: As críticas são quase frequentes com relação ao hospital. Isto lhe incomodou?

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KM: Muitas vezes nós somos mal interpretados aqui, por gente que chegava querendo fazer consulta, check-up, conseguir atestado médico. E não é a nossa função, não é o nosso perfil. E a partir de junho desde ano, nós implantamos acolhimento de classificação de risco, que melhorou, que procurou agilizar os pacientes que precisavam ser atendidos com velocidade na emergência. E já observamos, já comparando, que no segundo semestre de 2013 com o segundo semestre de 2014, 15% dos atendimentos, que são casos que o paciente não deveria estar no hospital, mas sim na atenção básica, no PSF, no posto de saúde.

E 15% no atendimento de adulto e 21% no atendimento de criança. Esse paciente não deixa de ser atendido, ele é acolhido por uma enfermeira, por uma assistente social. É classificado, após a classificação feita pelo enfermeiro, o assistente social acolhe esse usuário, orienta como deve ser realizado o procedimento e encaminha para o posto de saúde mais próximo. Então, a gente já observa que após a implantação desse serviço, que já vem funcionando há seis meses, houve redução dos atendimentos na nossa urgência. Atendimentos esses que deveriam estar indo pra a atenção básica.

Conseguimos implantar a Vigilância Epidemiológica Hospitalar, que não existia, inicialmente funcionava 12 horas e agora funciona 24 horas, os sete dias da semana. E esse vigilância saiba de todas as notificações que estão chegando aqui no hospital, na maior rapidez, para que a gente possa dar uma velocidade no seguimento dos casos. Tanto notificação compulsória, como por exemplo, o nosso foco agora está sendo com a febre Chicungunya e com a Leshimaniose. Então, assim, a gente consegue, mais rápido, saber o que é para dar o direcionamento; paciente com suspeita de Meningite. A gente já consegue atender e já referenciando aos hospitais de referência da Meningite, como o Correia de Campos, o Oswaldo Cruz. Foi um ganho pra unidade ter esse serviço vigilância aqui no hospital.

Implantamos também o programa “Superando Barreiras” que já completou um ano, que é um programa que acolhe a mulher ou a criança vítima de abuso e violência sexual. Então, tem uma equipe multiprofissional que faz o acolhimento dessa criança, dessa mulher e dá o direcionamento com base no protocolo do Ministério da Saúde. Implantamos, também, o programa de planejamento familiar, onde uma equipe multiprofissional atende essa mulher que deseja um método contraceptivo definitivo, ou o homem. E aí realizamos a cirurgia de vasectomia no homem e a laqueadura tubária na mulher, dentro do protocolo do Ministério da Saúde, realizando todos os exames, faixa etária e o número de prole e podendo estar realizando de forma segura e adequada aqui na nossa unidade.

FAROL: O fato de fazer parte de um grupo político pode ter contribuído para ser alvo de críticas?

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KM: A gente entende que a crítica quando é construtiva ela é ótima para gestão, então as críticas construtivas sempre serviram para nortear o direcionamento da gestão e da nossa equipe aqui na unidade. Mas a gente entende que há alguns segmentos políticos que acabam criticando por conta da questão política, e torcendo que a gestão sendo quanto pior, melhor para esse grupo político. Infelizmente, algumas pessoas não entendem que a saúde, ela é uma responsabilidade compartilhada entre município, estado e governo federal, independente de quem esteja à frente da gestão, seja municipal, estadual ou federal. Se é ligado ou não a um grupo político, eu acho que a saúde tem que caminhar de mãos dadas em prol de melhorar a assistência pra a pessoa principal nessa história, que é o usuário. Não gosto nem de direcionar pro lado político, mas a gente sabe que muitas críticas eram feitas por pessoas vinculadas a outros grupos políticos incidentes ou pessoas que tinham algum interesse, que não era atendido, que não eram negados.

Porque, infelizmente, existem muitos conflitos. Porque a administração, ela cobra, ela exige e algumas pessoas têm interesses variados e acabam não gostando e ao invés de elogiar, é lógico que vão criticar. É natural, quando seus desejos não são atendidos é natural, por parte de funcionários ou de usuários, a gente tem plena consciência disso. Existe o bônus e existe o ônus. Quem tá à frente de um cargo público, de um hospital que funciona como eu já falei, porta aberta, 24 horas, com mais ou menos 400 funcionários. Então, é natural que existam conflitos, que existam diferenças, que existam dissidências, mas a gente sempre tentou fazer aquilo que a gente acha o certo, o correto e o melhor pra população. Se a gente cometeu alguma falha, que a gente comete que somos seres humanos, a gente errou tentando acertar.

FAROL: Você está estimulada para assumir a tarefa de coordenar a XI Geres?

KM: Bem, eu sou funcionária pública estadual, eu milito no SUS desde 1998, quando eu me formei, 10 anos após a criação do SUS, eu me formava pra trabalhar na saúde pública. Sou enfermeira, graduada pela Universidade Federal de Pernambuco e meu foco sempre foi a saúde pública e a gestão. Já fui coordenadora de enfermagem desse hospital, já fui diretora interina nesse hospital, já fui secretária de Saúde de Serra Talhada, já fui coordenadora de atenção primária, já trabalhei como enfermeira das equipes dos programas de saúde da família das cidades de Mirandiba, Salgueiro, São José do Belmonte, e sou funcionária pública estadual de carreira.

O nosso ex-governador, falecido em agosto, Eduardo Campos, tinha um propósito de valorizar o servidor público, de trabalhar a meritocracia. Que só pode ser diretor de hospital público servidor funcionário do quadro e para ser gerente de Geres, Gerência Regional de Saúde ou Gerência Regional de Educação, o candidato tem que participar de uma seleção pública e assim nós fizemos no ano de 2011, quando foi aberta a seletiva no final do segundo mandato do governador Eduardo Campos.

E fizemos a seleção, não no intuito de concorrer com Dr. Clóvis, gerente da XI Geres, mas com o intuito de ajudar a gestão, caso houvesse necessidade. E eu sou enfermeira de formação, milito na saúde há muitos anos, seria também uma oportunidade de crescimento profissional e de poder continuar trabalhando com saúde pública, com atenção básica, que eu gosto. É o papel da XI Geres, acompanhar monitorar e avaliar o trabalho dos municípios que compõem a XI Geres, no âmbito da atenção primária. Então, nós fizemos essa escolha com esse intuito de continuar trabalhando com a saúde pública e trabalhar com a atenção primária dos municípios.

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FAROL: Que mensagem envia ao povo de Serra Talhada?

KM: A mensagem que a gente quer deixar pra população, não só de Serra Talhada, mas da região, das outras regionais, é que é muito difícil trabalhar num órgão público, a população tão carente e necessitada de assistência em seus municípios muitas vezes chegam aqui porque eles não sabem para onde ir.

E vêm tentando buscar uma orientação, uma palavra de conforto, muitas vezes ele quer só atenção. A gente quer dizer que as falhas que houveram, ou por parte da nosso equipe, dos funcionários ou da nossa parte, faz parte porque somos humanos e que se a gente errou foi com o intuito de acertar e procurar fazer o bem, e procurar sempre tá melhorando a qualidade, a assistência.

E as pessoas que não saíram satisfeitas com o atendimento da unidade ou com o atendimento de algum funcionário da unidade, a gente só tem a pedir desculpa e dizer que não é isso que a gente quer, que a população saia insatisfeita. Mas que, infelizmente, quando isso acontece a gente recebe a crítica e o desejo da gente é sempre o de tá acertando, de tá fazendo o melhor e de tá resolvendo o problema do cidadão, do usuário que chega na gente buscando a solução desse problema.