A vice-prefeita Tatiana Duarte concedeu uma entrevista exclusiva ao FAROL repercutindo a sua eterna crise de relação política com o governo Luciano Duque e a sua saída da Secretaria da Mulher. Nessa sexta-feira (27), Duque oficializou a exoneração de Tatiana sem meias palavras

Nesta conversa Tatiana deixa claro o clima de animosidade que vem enfrentando diante o prefeito Duque e vê como positivas críticas que o seu marido Marquinhos Dantas vem fazendo à gestão. Ela afirma ainda que, tecnicamente, Luciano não tem motivos para exonerá-la.

Essa entrevista reveladora foi agendada e concedida pela repórter do FAROL, Emanuelle Silva, na tarde dessa sexta. O conteúdo foi dividido em duas partes, a segunda etapa da conversa será veiculada neste domingo (29). Por isso, siga a luz do FAROL até lá. Vale a pena conferir!

Fotos: Alejandro García/Farol

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ENTREVISTA – TATIANA DUARTE

FAROL: Tatiana Duarte, para começar, gostaríamos que a senhora avaliasse esse período que você ficou a frente da Secretaria da Mulher. Você acha que contribuiu com alguma coisa?

Tatiana Duarte: Fazer uma avaliação é sempre importante, é uma provocação interessante, nós precisamos estar nos avaliando a todo o momento. Eu tenho a felicidade de estar ocupando uma pasta nova, a Secretaria da Mulher, de ser pioneira. Tanto de vice-prefeita, sou a primeira mulher a chegar ao executivo e sou a primeira secretária.

Com dificuldades, porque nós não tínhamos referência, é um equipamento novo, mas uma felicidade tremenda de marcar a história, de consolidar dentro no município uma política para mulher, de saber que vou passar como todos, mas que deixei na história de Serra Talhada a minha marca feminina.

Nós mulheres hoje temos um equipamento que se preocupa com o nosso empoderamento, com a qualidade de vida das mulheres. Então, eu avalio de forma muito positiva. Temos ‘n’ pontos negativos, mas normalmente o ser humano tem a tendência de olhar o que não tem, eu estou em um momento de olhar o que tem. Temos uma secretaria da Mulher, isso é um avanço. As articulações; há politicas hoje, tem um olhar também diferente.

Quando começam as articulações, as discussões políticas, estamos nós mulheres, com um equipamento ali para ser discutido, para ser avaliado, nas tomadas de decisões. Ocupando o espaço que nós lutamos e conquistamos.

Então, para mim é um momento muito feliz. Eu avalio a secretaria da Mulher hoje, a secretaria ela é destaque. Nós fomos para o cenário estadual e fomos para o cenário nacional. Destacamo-nos a nível nacional na Secretaria da Mulher de Serra Talhada. É um momento muito feliz.

FAROL: O prefeito Luciano Duque diz que não tem como conciliar a senhora no cargo, com o seu marido, Marquinhos Dantas, fazendo críticas ao governo. Como você reage à possível exoneração?

T.D.: Tudo que eu fiquei sabendo das declarações do prefeito foram ditas à imprensa, ele nunca chamou, nunca tocou nesse assunto comigo. Eu desconheço a postura dele em relação ao assunto, porque ele nunca tratou comigo. Então, eu preciso ouvi-lo para que eu possa também tomar as minhas decisões. Tudo que chegou até a mim foi ou por boatos, o que é muito comum dentro da política, infelizmente, ou por algumas declarações dele na imprensa.

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É difícil, eu tenho um cargo, eu sou vice-prefeita. Eu não posso tomar decisões ou por boatos ou por declarações pontuais. Eu preciso ir para a mesa de discussão, eu preciso fazer uma tomada de decisão e informar a população disso. Então, até que ele me chame e de fato haja uma conversa a respeito desse assunto, eu ignoro todas as declarações, porque elas não foram oficiais a mim. Então, eu não acho que se possa tratar dessa forma.

Tecnicamente eu não vejo motivos para ser exonerada. Porque a secretaria hoje é destaque e não é o que eu acho, os fatos estão aí e não podem ser negados. Somos destaque a nível nacional, a nível estadual. Nosso trabalho tem crescido é referência, então, eu tenho plena consciência do trabalho que fiz e que faço. O prefeito não tem, tecnicamente, motivos para me exonerar. Politicamente, ele tem todos os motivos.

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FAROL: Você acredita que lhe tirar da secretaria da Mulher é uma estratégia para enfraquecer a sua imagem, diminuir seus espaços políticos de atuação? 

T.D.: Claro, existe isso nos bastidores. Na verdade, quando a gente parte para o público, a gente vem com essa fala mais… É um velho ditado, “não dê asas”, “não crie cobra para lhe engolir lá na frente”. É mais ou menos isso aí, mas eu digo o seguinte, a que Deus ensinou voar, ninguém impede o voo. Enfim, não precisa dar asas a quem já nasceu sabendo voar e não precisaria isso.

Acho que a conversa tem que ser mais legítima. O que é que você quer? O que é que você não quer? Podemos trabalhar assim, assim não. Eu acho que deveria ser assim nas mesas de discussão, mas eu não compartilho de decidir o destino de um povo, de mais de 80 mil habitantes em uma salinha com meia dúzia de pessoas. Não acho correto, eu acho que quem tem que dizer quem voa e quem não voa é o povo.

FAROL: Com relação às críticas que Marquinhos Dantas vem fazendo ao governo Duque. A senhora concorda com tudo o que ele vem dizendo? Não fica preocupada em arranhar ainda mais a sua relação com o prefeito Duque?

T.D.: O fato de estar hoje no governo, de ser governo não significa que eu não sou mais cidadã. As pessoas quando chegam ao cargo, elas esquecem que foram e que é ainda povo, que é um cidadão. Você não é vice-prefeito, você está. Daqui a pouco eu não estou mais e eu continuo sendo cidadã. Então, eu jamais por estar em uma gestão ou em um determinado partido eu vou fechar os olhos para uma realidade. Meu esposo é político, Dantas é político. É pré-candidato e está legitimamente fazendo o papel dele, legitimamente.

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E mesmo estando no governo, ou em qualquer outro governo eu farei minhas críticas também. Você não pode se calar porque está em um cargo, especialmente o meu que não foi dado pelo prefeito, foi dado pelo povo. Então, eu tenho legitimidade e autonomia para criticar e acho que um gestor deve saber lidar com essas críticas. Essa história de o governo todinho defender o governo mesmo estando errado, não. De forma alguma.

Na minha casa eu amo minha família, mas eu faço críticas, dentro da minha casa e à minha família. Porque eu quero o melhor para eles. E você só tem o melhor se você reconhece os erros e tenta corrigir, mas se toda vez que você me fizer uma crítica, eu lhe tiver como inimiga,  difícil a gente construir. Então, crítica deve ser construtiva. Dantas tem a autonomia dele, e lembrando da sua reportagem, eu tenho a minha. Nós não caminhamos na sombra do outro, inclusive nós criticamos um ao outro.

Para ficar bem claro, eu também critico, eu também critico o governo, se for necessário ou se eu não concordar com determinadas coisas, embora eu entre vencida na maioria das discursões. Eu quero deixar isso bem claro, na maioria das discussões eu entro vencida, mas eu não deixo de entrar. Minha voz sempre é ouvida, porque eu preciso falar nesses espaços.

FAROL: As críticas que a senhora tem ao governo municipal são as mesmas que faz o seu marido, Marquinhos Dantas?

T.D.: Marquinhos tem um olhar crítico e eu tenho outro, até porque eu estou dentro da gestão e ele não. Então, muitas vezes, sabe aquela história de quem vê de longe vê melhor? Em muitas coisas ele tem um ponto de vista e eu tenho outro, muitas vezes comungamos do mesmo ponto de vista, mas eu acho que é legítima a postura de Marquinhos, assim como a de qualquer outro cidadão.

Não é porque ele é esposo da vice-prefeita que ele vai aplaudir e dizer que está tudo lindo. Ele não deve fazer isso como político, como pré-candidato. Ele tem a legitimidade dele e eu entendo naturalmente. Inclusive de criticar o meu próprio trabalho, que ele faz. Ele faz, Tatiana isso ou aquilo com relação às questões da mulher.

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FAROL: Por que a senhora ainda sente-se escanteada pelo prefeito Luciano Duque?

T.D.: Na verdade, eu volto a discussão, o machismo ainda é muito presente. A mulher ainda dentro da política é tida como uma figura decorativa e talvez esse teria sido o meu problema, eles não me conheciam. Assim como eu também não tinha conhecimento mais profundo de cada pessoa. Então, talvez eles imaginassem que ela simplesmente vai sair na chapa como vice e vice não vai opinar, não vai dizer muita coisa e vai ficar tudo bem. E não foi essa a minha postura, como mulher.

E a partir do momento que eu começo a me impor em determinados assuntos e dar a minha opinião eu realmente sou um problema, se eu estivesse calada eu estaria sendo aplaudida, com certeza. Então, eu não digo a postura de A ou B, do prefeito ou de outros, mas como um todo dentro da política há ainda muito machismo e nós mulheres sofremos muito com esse preconceito.

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FAROL: O diálogo com o prefeito Luciano Duque existiu em algum momento na sua trajetória como secretária da Mulher e vice-prefeita?

T.D.: Se eu disser que há um diálogo eu estaria sendo hipócrita, pois não há. Eu acredito que eu fui a única vice-prefeita que tive que brigar para trabalhar, porque eu tive que brigar para trabalhar. E eu sempre buscava me colocar nos espaços de discussão e cobrar participação, mas houve um afastamento muito grande.

FAROL: A senhora concorda com a tese que o seu marido vem defendendo que, diante a má avaliação do governo, você não pode ser culpada de nada, já que vice não ordena despesas?

T.D. Eu gosto de conversar com pessoas politizadas. E quem é politizado, de fato, entende que o cargo de vice-prefeita não ordena despesas. Concordo com o que Marquinhos vem dizendo neste sentido. O problema é que acho interessante que quando querem aparecer, aí neste momento, a vice é só vice. Não serve pra nada, é uma figura decorativa e sem atuação. Mas, diante certas situações, é possível entender a estratégia de querer atrelar a nossa imagem quando o momento não é bom.

FAROL: Quais seus planos para 2016? A senhora pensa em sair candidata?

T.D.: Vai acontecer tanta coisa daqui para 2016, mas o momento é de apoiar Dantas. Ele é o pré-candidato e para onde ele for eu vou. Nós não temos um grupo, mas estamos com esse projeto juntos e eu vou apoiá-lo e seguir com ele aonde ele for. Mas ainda muita coisa pode acontecer, estamos nos articulando e nos preparando para isso. A princípio não tem como apoiar outros quando ele é pré-candidato.

FAROL: E com relação à formação de uma possível chapa 100% feminina nas eleições de 2016?

T.D.: Eu acho que tudo que vem para fortalecer a mulher na política é maravilhoso. Não foi nem a questão de quem com quem, mas uma chapa feminina eu achei uma coisa muito interessante. Para eu que estou dentro da política, lutando pelo fortalecimento da mulher, pelo empoderamento dela, pela participação dela nos espaços de poder, e acho fantástico.

Só que no momento eu compartilho de um projeto com o meu esposo o pré-candidato é ele. Então assim, eu não cogitaria nesse momento, porque hoje, o pré-candidato é ele não sou eu. Se isso vier a mudar nós vamos ter uma nova conversa, mas nesse momento eu não posso. Isso descaracterizaria o nosso projeto, nós já lançamos.

Ele é o pré-candidato, como é que eu venho também pré-candidata? Eu não venho a repercutir tanto para não descaracterizar, mas hoje o nosso projeto é o momento dele, é a pré-candidatura de Dantas.

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