d053996ad707d263986a52620cb56dc1“Você está doido? Medicina é coisa para filho de rico.” Essa foi a resposta que Márcio Nascimento, 29 anos, ouviu do pai, um porteiro da cidade de Floresta, no Sertão de Pernambuco, quando ele disse que queria prestar vestibular para medicina, 12 anos atrás. Márcio não se conformou. Encarou o desafio de viver longe da família, com pouco dinheiro e decidiu mudar seu destino. Com histórias parecidas – egressos de escola pública, de origem humilde, vindos do interior e moradores da Casa do Estudante de Pernambuco (CEP) – Jonas Lopes, 30; Paulo Cézar Alencar, 30; e Josimar Torres, 29, fizeram o mesmo. Na próxima quarta-feira (29) os quatro jovens colam grau no Teatro Guararapes na 95ª turma de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE), depois de muito suor, lágrimas, fome e, sobretudo, vontade de construir um futuro diferente.

Veja também:   Caminhoneiro perde o controle e carga em PE

Embora a colação seja daqui a três dias, oficialmente os quatro já são médicos. Tiraram o registro no Conselho Regional de Medicina (Cremepe) semana passada. Não perderam tempo e arrumaram logo plantões em unidades de saúde do Grande Recife e interior. “O coração bateu acelerado. Peguei meu CRM de manhã e no fim da tarde estava na UPA de Nova Descoberta (Zona Norte do Recife). Deu um frio na barriga. No caminho fui refletindo, pensando: será que eu consigo? Graças a Deus deu tudo certo, encontrei amigos com quem convivi na faculdade e foi tudo bem”, relembra Márcio, que se despede da CEP após 11 anos morando lá. “Não dormi direito, estava nervoso para pegar o CRM. Fiquei um tempão olhando para a carteira de médico”, relata Jonas.

Veja também:   Idoso é arremessado em capotamento na PE-365

Entre os 7 e 15 anos, Jonas trabalhou ao lado da mãe, cortando e limpando cana-de-açúcar, nos engenhos da cidade de Joaquim Nabuco, na Zona da Mata pernambucana, onde reside sua família. Desse tempo, lembra do sol forte e da dor nas costas. Acordava cedo, ainda de madrugada, e seguia para os canaviais. Café e farofa de fubá misturada com charque eram o combustível para a lida. “Foi um tempo difícil. Meu pai é pedreiro, somos sete filhos. Ele viajava para outros Estados para arrumar trabalho, enquanto minha mãe cuidava da gente. Se não trabalhássemos, não havia o que comer”, diz Jonas, que também vendeu picolé, carregou frete, vendeu frutas e deu aula particular.

Veja também:   Homem é alvo de ataque e é ferido no pescoço e cabeça em ST

Leia Mais no JC Online