Por Manu Silva, professora, militante do Coletivo Fuáh e Movimento Diverso, repórter do Farol de Notícias

Fotos: Reprodução / Publicado às 04h53 deste domingo (4)

Ontem quase não dormi pensando em como há sobre pessoas sem noção no mundo. A internet fez saber da história da ilustre desconhecida Tata Estaniecki, digital influencer, que compareceu ao Baile da revista Vogue, em São Paulo, nessa quinta-feira (1) com uma fantasia que, segundo ela mesma, homenageava os escravos? Quando me deparei com a fantasia pensei: Sério, mulher? Num tinha uma pior, não? Péssima influência.

Não vou nem me remeter apenas a já conhecida história da herança escravocrata do período colonial contra os negros e negras sequestrados dos países africanos. Só para não virem me acusar de racista inversa (como se isso existisse). Porém, o adereço utilizado pela blogueira faz uma referência bem próxima à ‘Máscara de Flandres’ (foto abaixo), instrumento de tortura que impedia que os negros escravizados pudessem se alimentar ou beber água. Contra fatos…

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Mesmo assim não dá para titubear diante de uma “simples fantasia” quando estamos em um mundo em que mais de 40 milhões de homens, mulheres, jovens, crianças, adolescentes e idosos, de diversas cores e etnias, estão sendo escravizados em campos de trabalho forçado ou de condições insalubres.

São tantos os tipos de escravidão que me vem a mente, como a jovem blogueira não pensou em ao menos uma? Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), atualmente há cerca de 152 milhões de crianças em situação de trabalho infantil, de 5 a 17 anos. Esse povo deveria estar estudando para saber o porquê de não apoiar, cometer, fantasiar ou “homenagear” a escravidão.

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Como se não bastasse, ainda há o fato que nós mulheres e meninas sermos maioria nesses números aterradores. De acordo com o site da ONU Brasil, nós mulheres somos mais vítimas de escravidão moderna. “As mulheres representam 99% das vítimas do trabalho forçado na indústria comercial do sexo e 84% dos casamentos forçados”.

Meu conforto era pensar que esse tipo de ignorância, no sentido amplo da palavra, estava restrita a pessoas privilegiadas, que tiveram acesso às melhores escolas, saúde de qualidade, que moraram nos melhores bairros, sempre comeram bem e, principalmente, nunca saíram da bolha de felicidade que vivem para dar uma boa olhada no mundo ao redor.

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Pessoas que não percebem que seus super privilégios podem comumente implicar na falta deles para milhões de pessoas em situação de extrema pobreza e miséria. Expostas a todos os tipos de perigos, negações de direitos e dignidade. Infelizmente, muitas de camadas menos abastadas da população brasileira, desse mundão de meu Deus, também estão alheios a tudo isso.