Por Adelmo Santos, escritor, poeta, e ex-aluno do Colégio Cônego Torres

Fundado em 1954, pelo prefeito Luiz Conrado de Lorena e Sá, o Colégio Municipal Cônego Torres está fazendo 60 anos de história, ensino e saber. O colégio apesar de ser uma escola municipal cobrava mensalidades, era um colégio da elite onde estudava os filhinhos de papai. Era um colégio lindo, além da arquitetura tinha um jardim na frente que era muito bonito e lhe dava muito orgulho. O Colégio Cônego Torres era um cartão postal, todo mundo admirava não havia outro igual.

Tinha muitos estudantes que vinham de outros estados e de outras regiões, ele era conhecido como “ A Faculdade do Sertão.” Eu era um estudante pobre e me empolguei demais, fui estudar num colégio cheio de filhos de papai. Quando alguém me perguntava em que sala eu estudava, eu me sentia orgulhoso e ficava todo prosa, a sala que eu estudava era a “Sala Rui Barbosa.”

figura 028 colegio conego torres antes da inauguraçãoCom o diretor João dos Passos o colégio andou pra trás, e me deu um até logo que pra mim foi nunca mais. Cancelou a minha bolsa com toda a minha bagagem, que era a minha esperança os meus sonhos e muito mais. Eu não estava preparado para acabar assim, um estudo que de graça custava caro pra mim. O jardim foi destruído deu lugar a um calçadão e na frente do colégio o muro virou muralha, deixando o colégio assim, parecendo um presídio onde a pena não tem fim.

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Construíram um muro alto esconderam o colégio, quem passa pela calçada não consegue ver o prédio. Foi um colégio da elite de filhinhos de papai, só em ver dava emoção, hoje parece um presídio uma casa de detenção. Seus desfiles de setembro dava asas à imaginação, deixava o povo feliz com tamanha emoção, era um banho de magias seu poder de criação, foi em suas alegorias que o navio em plena seca, chegou até o Sertão.

Hoje o colégio é blindado cheio de grades de ferros que chamam muita atenção, fica deixando a escola parecendo à detenção. Cadê professor Rabelo? Cadê professor João Carlos? Onde está Dona Lenita? Que saudades de Olegário! Que fizeram o seu passado de vitórias e conquistas, pra mudar o visual devolvendo a bela vista. Para quem passar na rua, não ter dúvidas e perguntar: “Esse prédio é um presídio, ou é um prédio escolar?”

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Meu querido Cônego Torres, quem te viu e quem te ver. Que fizeram com o jardim? Onde foi parar as rosas? Onde estão aquelas flores? Essa escola que estou vendo não parece o Cônego Torres. O Colégio Cônego Torres era cheio de alegrias, ele tinha em cada sala um bocado de poesias, tinha a sala Rui Barbosa, tinha a sala Castro Alves e a sala Gonçalves Dias.

As aves que hoje gorjeiam sentem fome, sentem dores, não lembram os anos 60 do Colégio Cônego Torres. Que tinha um muro baixo, em volta não tinha grades, não existia guarita, era cheio de liberdades. Tinha jardim, tinha flores, parecia uma escola o Colégio Cônego Torres. Não são apenas os estudantes que estão agora presos, Castro Alves, Rui Barbosa e Gonçalves Dias estão presos. Por isso o muro é tão alto, para quem passar na rua não olhar dentro do pátio e ver o “Navio Negreiro.”

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Quando eu olho pro colégio eu vejo o antes e o depois, o antes um colégio alegre com poesias e liberdades, movido pelo talento com muita criatividade. O depois é esse aí, escondido atrás do muro, com guarita e cheio de grades. Agora no mesmo prédio se encontra dois colégios, que tem o mesmo destino, um é feio o outro é lindo, eles se misturam num abraço insano, vão deixando em duvidas quem vai passando, que colégio é esse que tem muros altos, que esconde a vista, que é cheio de grades, e que tem guarita? Os dois se misturam num abraço infindo, onde está o Colégio Municipal Cônego Torres que já foi tão lindo?