“Amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito… dentro do coração”. Este trecho é da “Canção da América”, do compositor Milton Nascimento, que considero um dos ícones da Música Popular Brasileira (MPB). Neste primeiro domingo de julho, mês de férias escolares, vou tecer alguns fios de memória em torno da verdadeira amizade. Algo, aliás, que o tempo não tem força para apagar.

A distância pode ser um castigo, mas o amigo ou a amiga vem a lembrança quase sempre e nos deixa, muitas vezes, com os olhos perdidos no horizonte e marejados de lágrimas. Na infância as provas de amizades são muitas. Quem nunca dividiu a alegria de correr descalço num dia de chuva pelas ruas de Serra Talhada, gritando pela força da liberdade, batendo nas portas, se abraçando na hora do trovão mais estridente?

Amigo é  aquele que divide com você o sonho de ver o avião pousar no antigo Pico da Bandeira. Durante a corrida até o local, e na vontade de chegar primeiro, você se estarracha numa queda espetacular e o amigo para, lhe dar a mão e deixa o avião em segundo plano. Amigo é aquele que após ver você triste por não ter aquele figurinha carimbada do álbum, se arrisca em lhe presentear a preciosidade com a desculpa que tem outra igual.

O amigo divide a única garrafinha do famigerado “qui-suco” e a metade do pão doce comprado na bodega do “seu” Elias. Amigo lhe dá o passe pro gol e ainda vibra caso você se torne artilheiro da competição. O amigo te empresta o melhor jogador do  time de botão, empresta sua bola canarinho, toma suas dores se na brincadeira do garrafão você levou uma chapuletada mais forte. Faz questão de assistir, mesmo numa TV preto e branco, os seriados “Daniel Boone” e “Viagem ao Fundo do Mar”. Enfim, amizade é jóia rara.

Mudei o rumo da prosa domingueira em virdude do comportamento da minha neta, Giovanna Mariah, de apenas 4 anos. Ela tem um negócio de falar que determinada coleguinha de escola é a sua melhor amiga. E tem orgulho disso. Todos os dias, Mariah conta uma historinha que dividiu alguma coisa com a melhor amiga. Aliás, Mariah adora o verbo compartilhar. Acho tudo isso mágico porque poderíamos ter um mundo mais solidário se nossos laços de amizade fossem sólidos e sinceros.

Hoje, ainda tenho um amigo que me trata como “amigão”. O mesmo cumprimento da época de infância. Aliás, ele me deu uma grande prova de amizade quando perdi o meu primeiro filho, aos 18 anos. Dividiu comigo uma garrafa de cana e chorou numa mesa de bar como se tivesse perdido o próprio filho. Que os bons amigos fiquem vivos para sempre em nossas lembranças. Bom domingo a todos e mandem recados para seus melhores amigos e amigas!