saudade1[1]Por Adelmo da Favela, escritor e poeta serratalhadense

Saudade daqueles tempos que respeitavam os mais velhos, respeitavam os professores, os padres e os evangélicos. Não tinha intolerância o trem passava na linha, o bang bang era no cinema, os roubos eram de galinhas. A feira era bem livre espalhada pelas ruas, era em volta do mercado, em volta da prefeitura. Tinha tecidos e calçados era tudo misturado com cereais e verduras.

Seu Otacílio Batista tinha loja de fazenda, a feira era bonita. João do Bode e João Arlindo foram dois comerciantes importantes conhecidos na cidade. Gregório Ferraz  e Quinzeiro Melo deixavam a feira com tudo, do parafuso ao chinelo. Chegava a Semana Santa o respeito era guardado, a carne ficava fora da comida e do cardápio. Os  ricos comiam bacalhau, os pobres comiam peixes, ovo frito e ‘estralado’, só o kitute e a sardinha existiam de enlatados. O óleo de cozinha era o óleo de salada, era vendido nas bodegas nas medidas de mercado.

As mercearias e as bodegas faziam às vezes do mercado, nesse tempo a cidade não tinha supermercados. Na sexta-feira santa as famílias eram marcadas com muita superstição, o povo era reservado, o respeito era sagrado. Ninguém tomava banhos nos açudes pra não morrer entrevado. O gato preto dava azar e os calçados emborcados dentro de casa no chão eram coisas que as famílias temiam com devoção. As casas eram varridas da porta para dentro, nunca de dentro pra fora. Rezavam ao acordar, rezavam para almoçar e rezavam pra dormir, tinha reza toda hora. O abacaxi com leite misturado nem pensar, pois podia fazer mal chegando a empanzinar.

No governo brasileiro só tinha quatro ministros: Delfim Neto e mais três, se havia inflação isso o povo não sabia, não aparecia nas contas e o povo não sentia, Delfim Neto era o mágico na pasta da economia. O ensino de Serra Talhada começava com o “Primário” depois vinha o “Admissão” o curso “Ginasial” e terminava com o “Científico” não havia faculdade pra ter continuação.

Não tinha televisão, a novela era no rádio, sem constranger as famílias na sua concepção, preservando os bons costumes de uma boa educação. “O Direito De Nascer” era o maior sucesso do momento, só porque Isabel Cristina teve um filho fora do seu casamento. Na sexta-feira santa tinha muita comoção a cidade se vestia numa grande emoção, o respeito era mútuo em toda população

Os adultos se continham não falavam palavrão até mesmo às crianças não tinha a malcriação. As igrejas eram solidárias sempre de portas abertas pra receber os cristãos, que entravam a qualquer hora pra fazer suas orações. Era o tempo que o rapaz pra namorar uma moça pedia licença aos pais.

Na sexta-feira santa a Rua da Favela ficava muito agitada, em frente a bodega de Dona Antônia Badú a malhação do Judas era uma tradição, Tinha um poste de madeira que ficava exclusivo para colocar o Judas e fazer a malhação. Quando chegava essa hora juntava uma multidão, era um boneco de pano vestido num paletó, tinha o nome de um político que chamava atenção. As pessoas se juntavam pra poder malhar o Judas na maior empolgação. Eu ainda era menino sonhava ganhar o mundo não pensava que o futuro tinha tanta obrigação, eu fazia o catecismo queria ser um adulto cheio de educação.