Dilma Rousseff começou o dia ontem no Twitter fazendo uma exegese da palavra República. Nada poderia ser tão premonitório.

“Hoje [ontem] comemoramos o 124º aniversário da Proclamação da República. A origem da palavra República nos ensina muito. Vem do latim e significa ‘coisa pública’. Ser a presidenta da República significa exatamente zelar e proteger a ‘coisa pública’, cuidar do bem comum, prevenir e combater a corrupção”, escreveu Dilma Rousseff.

No final do dia, no aniversário da República, a Polícia Federal recebeu os mandados de prisão dos condenados no mensalão. Estão no grupo políticos famosos, inclusive o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. O simbolismo desse fato é fortíssimo.

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Há dezenas de anos na cobertura de assuntos políticos, presenciando casos de corrupção impunes, confesso que cheguei a duvidar da chegada do dia de ontem. É bem verdade que a lentidão do processo beirou o inaceitável. O mensalão é de 2005. Estamos em 2013. Justiça que tarda não é Justiça, costuma repetir o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.

Mas, mesmo com todas as ressalvas, não é pouca coisa para um país patrimonialista e protetor dos mais fortes como o Brasil assistir a tantos poderosos serem levados para a cadeia, onde cumprirão suas penas. Ninguém deve imaginar que a nação amanhecerá hoje 100% limpa e livre de corrupção. Isso não existe. O combate à corrupção e a diminuição da impunidade é o que mais importam num processo civilizatório no qual o Brasil parece ter entrado já há cerca de duas décadas.

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É imenso o exemplo cívico das prisões de réus condenados no mensalão. Mesmo com todos os seus excessos e protelações, a Justiça está sendo realizada. O país vai ficando melhor. Mais justo. E tudo acabou ocorrendo no dia da República. Uma grande homenagem a valores dos quais o Brasil não pode se privar.

Por Fernando Rodrigues, jornalista da Folha de São Paulo