afogamentoPor Adelmo Santos, poeta e escritor serra-talhadense

No dia 15 de setembro o Brasil se emocionou com a morte de um ator nas águas do Velho Chico. Na década de 60, o povo de Serra Talhada também passou por isso. A tragédia aconteceu com Seu Vicente Coringa, um pacato cidadão que trabalhava na “Sanbra” carregando e descarregando caminhão com algodão. Ele tinha uma roça do outro lado do Rio Pajeú, como um grande ganha pão. Quando era época da seca passava muitos aperreios pra poder criar seus filhos, só encontrava esperança quando chovia na roça e tinha água no rio.

De tantas idas e voltas para atravessar o rio, o Seu Vicente Coringa nem sequer imaginava que estava correndo perigo, tinha o Rio Pajeú como um grande pai e amigo. Mas um dia Seu Vicente acabou sendo traído quando atravessava o rio. De manhã, quando passou o rio estava vazio, ele atravessou andando. À tarde, quando voltava da roça pra sua casa, o rio estava cheio, o rio pedia canoa, Seu Vicente não atendeu, quis atravessar nadando e o Rio Pajeú que tanto lhe ajudava a criar sua família, acabou lhe afogando bem no meio da travessia. Um ‘remanso’ pavoroso matou Vicente Coringa e não devolveu o corpo.

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Essa história até hoje é um mistério a desvendar, Vicente Coringa sumiu nas águas do rio, ninguém sabe onde ele está. Foi no fim dos anos 60 que a tragédia aconteceu, foi de cortar coração, o Rio Pajeú deu um banho na cidade de tristeza e comoção. A notícia se espalhava pelas ruas e nas esquinas, as pessoas comentavam o mergulho e o destino. Uns perguntavam aos outros onde foi parar o corpo, tinha até quem explicava que a natureza pune, quando um rio fica revolto ele acaba dando o troco quando é desafiado.

No rádio o que mais tocava era a música “O Riacho do Navio” do cantor Luiz Gonzaga. As pessoas se assustavam num trecho que diz assim: “O Rio Pajeú Vai Despejar No São Francisco, Rio São Francisco Vai Bater No Meio Do Mar”. Era época de inverno a safra estava boa, o Rio entrava nas casas deixando a Rua do Correio totalmente alagada.

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Vicente Coringa amava o rio, o rio era o seu mar. Faz mais de 50 anos o rio também se perdeu, ficou sem margem e sem leito e Seu Vicente Coringa não chegou do outro lado, até hoje não apareceu. Já passaram tantos anos, às vezes eu fico pensando, não dar para acreditar. Será que o Rio Pajeú pegou o seu melhor amigo, despejou no São Francisco, e pediu pro Velho Chico levar para o meio do mar?