dilmaaa“Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder, como é próprio dos que não tem caráter, princípios ou utopias a conquistar. Luto pela democracia”, disse a presidenta Dilma Rousseff nessa segunda-feira (29) em seu julgamento no senado.

Diante dos 81 senadores transformados no grande júri que deve decidir na terça-feira se sai ou fica, Dilma Rousseff –num discurso duro e emocionante– apelou aos sentimentos, à sua história política, ao seu caráter e à sua trajetória para deixar claro que está sendo injustamente expulsa. Lembrou, como lembrou muitas vezes (especialmente durante a campanha eleitoral), que em 1971, sendo uma jovem revolucionária de 20 anos, foi capturada e incriminada pelas forças da ditadura. E que então foi julgada pela primeira vez na vida e condenada sem motivo.

Há uma famosa foto desse dia em que aparece olhando de frente os juízes militares que tampam seus rostos para não serem reconhecidos. “Hoje, quatro décadas depois, não há prisão ilegal, não há tortura, meus julgadores chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência”. “Este é o segundo julgamento a que sou submetida em que a democracia tem assento, junto comigo, no banco dos réus”.

Depois, disse que respeita os senadores que votarão contra ela, que agradece aqueles que votarão a favor, e dirigiu-se para aqueles que ainda estão indecisos: . “Lembrem-se do terrível precedente que a decisão pode abrir para outros presidentes, governadores e prefeitos. Condenar sem provas substantivas. Condenar um inocente”, disse. “Faço um apelo final a todos os senadores: não aceitem um golpe que, em vez de solucionar, agravará a crise brasileira”. Foi uma tentativa um tanto melancólica, porque a situação da presidenta reeleita nas urnas em 2014 é muito difícil. No fundo, há muito poucos senadores indecisos e a imensa maioria disse que votará a favor do impeachment. Basta que 54 dos 81 senadores o façam. E há previsões que apontam que serão quase 60.

Ela reconheceu que cometeu erros (durante o segundo mandato a crise econômica se aprofundou no Brasil e mergulhou o país na pior recessão dos últimos 80 anos), mas, numa guinada raivosa, acrescentou que entre os seus erros “não está a covardia”. “Nunca cedi” e “não mudei de lado”, acrescentou, numa alusão direta e desafiadora aos senadores que no passado a apoiaram e agora vão votar contra ela. Estes incluem, por exemplo, ex-ministros e ex-governadores como Cristovam Buarque, que foi membro do PT e agora está inclinado a votar pelo impeachment.

Lembrou também que nunca foi acusada de se colocar um real de dinheiro público no bolso. Nem ela nem ninguém de sua família. E acrescentou que aquele que desencadeou todo o processo, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, é acusado pela Procuradoria Geral da República de possuir contas milionárias no exterior procedentes dos subornos intermináveis da Petrobras. “Curiosamente, serei julgada, por crimes que não cometi, antes do julgamento do ex-presidente da Câmara, acusado de ter praticado gravíssimos atos ilícitos e que liderou as tramas e os ardis que alavancaram as ações voltadas à minha destituição. Ironia da história? Não, de forma nenhuma”, enfatizou. “Estamos a um passo da concretização de um verdadeiro golpe de Estado”, acrescentou.

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