A indignação com o jogo Baleia Azul, que induz jovens a se mutilarem e até cometer suicídio, fez nascer no mundo virtual algumas baleias do bem. Uma, em especial, está tendo grande repercussão em várias redes: a Baleia Rosa. Nadando contra a maré de tormentos que se espalhou na web, ela convida os internautas a focarem em pensamentos e atitudes positivas. São 50 tarefas estimulando a autoestima, a gentileza, a valorização da família e dos amigos. Até o início da noite de ontem, sexto dia no ar, a página do Facebook (@eusoubaleiarosa), já tinha quase 150 mil seguidores.

“Com uma canetinha, escreva na pele de alguém o quanto você a ama”, diz a primeira tarefa. “Faça uma lista das suas qualidades em um minuto, agora leia em voz alta olhando para o espelho”, manda outra. Entre as demais missões estão ligar para um amigo, procurar os avós, fazer carinho em alguém, gritar que se ama, registrar os sonhos, brincar, perdoar. O último desafio é salvar uma vida. Os seguidores da página (chamados de filhotes rosa) precisam postam as tarefas acompanhadas da hashtag #BaleiaRosa.

“Eu estava mostrando a uma amiga, que é designer, as tarefas (terríveis) do Baleia Azul. Saímos para tomar um suco e resolvemos listar missões ao contrário daquelas e em pouco tempo a gente tinha 80 frases. Selecionamos 50 e lançamos no outro dia no Facebook, Instagram, Twitter e no site eusoubaleiarosa.com.br”, relata o publicitário criador da página, que prefere não se identificar para não estragar a brincadeira.

Em pouco tempo, os amigos foram surpreendidos com o alcance das publicações. Entre as muitas mensagens de apoio, eles também se depararam com jovens em situação de risco, inclusive que se mutilam. “A gente só queria criar uma corrente do bem. Quando recebemos uma foto de uma pessoa que se corta foi um baque. Aí falamos com uma especialista e ela tomou as rédeas e passou a responder a essa demanda. Estamos encaminhando algumas pessoas para o CVV (Centro de Valorização da Vida, que atende gratuitamente pessoas com pensamentos suicidas no telefone 141)”.

Na página, há pessoas que questionam o fato de se criar uma expectativa de ajuda a pessoas que precisam de um tratamento especializado e não poder dar conta dessa demanda. A psicóloga Priscila Bastos analisou a proposta e acredita que só o fato de se buscar ajuda em um ambiente positivo já é lucro. “É um ambiente onde os jovens se encontram com iguais buscando ajuda e não o suicídio”, observa. “É um movimento que a própria sociedade está pedindo”.

AJUDA PROFISSIONAL

A profissional salienta que a possibilidade de ajuda vai depender do encaminhamento. “A proposta do Baleia Rosa é desafiar as pessoas a enxergarem o que se tem de bom na vida, não focar só no ruim. Mas quem está em um nível de comprometimento emocional mais grave, como a depressão, tem necessidade de atenção e também de acompanhamento de psicólogo e psiquiatra”, alerta.

Há páginas (inclusive com o mesmo nome) em que as pessoas procuram ajuda ou se oferecem como curador de alguém que esteja em sofrimento. “Tudo tem um lado positivo e negativo. A partir do momento em que se abre um canal para ajudar as pessoas, elas vão pedir ajuda. É importante que ela encontre o caminho de um profissional e que outras pessoas não saiam dando conselhos e atropelem isso”, observa Priscila. “Mas mesmo se não dá para ajudar a todos, pode ser que algumas tenham retorno e sejam salvas”.

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