apollo11_2_finalPor Adelmo dos Santos, escritor e poeta de Serra Talhada

Era mês de julho de 1969, toda a população do planeta estava no mundo da lua para ver a chegada do “Apolo 11” entrando em órbita e pousando. Calcula-se que cerca de um bilhão de pessoas, algo como um em cada quatro seres humanos, estavam assistindo pela televisão o astronauta Neil Armstrong pisar no solo da lua. Em Serra Talhada, o rádio dava a notícia com o locutor narrando, deixando o povo confuso, sem querer acreditar.

Isso era na cidade, imagine pelos sítios nas cabeças dos matutos. Não tinha televisão as pessoas acompanhavam tudo através do rádio, prestando muita atenção. Muita gente duvidava ficando olhando para a lua, para ver se enxergava o “Apolo 11” entrando, dali mesmo da calçada. Zé Piaba viu um vulto dizendo que era o Apolo, João Pindoba duvidava: – Aquilo é Apolo nada.

Chico Tripa coçava a sua cabeça enquanto imaginava: – Ele é do tamanho dum bode. João Pindoba retrucava, mesmo sem entender nada: – É o cavalo de São Jorge. A conversa se esticava, Zé da Jega comentava: – Isso tudo é besteira, só vai dar pra ver direito quando a lua tiver cheia.

Eram uns meninos buchudos que tinham a barriga quebrada, com os peitos todos melados, cheios de caldo de feijão. Com os olhos arremelados, não enxergavam direito, quando olhavam para o céu viam o céu todo nublado.  O que eles não sabiam é que era impossível enxergar de olho nu, e que estava mais fácil confundir um avião com o bicho urubu.

Na Rua da favela os meninos jogavam bola, rodavam pião, jogavam bila sem ligar muito pra vida nas estórias de trancoso, com medo de papa-figo e do bicho lobisomem, quem podia imaginar que na lua entrou homem?