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Por Adrielio Moreno, Educador

“[…] Aí quando acordei, a luz ‘tava’ acesa e um monte de gente assim em cima de mim. Eu me sinto um lixo hoje. Eu não queria que outra pessoa se sentisse assim”. (Trecho da fala da garota de 16 anos que foi estuprada no Rio de Janeiro)

Quando li essa declaração da jovem que fui estuprada por 30 homens parei para refletir sobre a sociedade machista, esse bicho papão que tanto tem aterrorizado as nossas vidas. Essa cultura é perpassada de geração em geração e que não consegue ser interrompida, estamos no século XXI e o mundo ainda não cansou de me surpreender. Meu sentimento agora é de revolta e muita tristeza. Fiquei estarrecido com tal fato,  porque não me entra a ideia de que uma moça de apenas 16 anos possa ser submetida a um algo tão cruel e desumano, é assustador e deprimente perceber que existem no mundo pessoas que tenham capacidade e coragem de realizar tal ato com uma garota.

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Percebi que as mídias e redes sociais têm divulgado a campanha: A culpa não é dela. Eu concordo, a culpa realmente não é dela, a culpa é da cultura machista que faz tudo isso ativamente. A culpa é minha que faço parte dessa sociedade e pouco ajo para mudá-la. A culpa é do estuprador, que não se vê como tal e se sente no “papel de homem” configurando uma posição prepotente e egocêntrica. A culpa é dele. Dele. Especialmente dele.

A culpa não é da vítima. Nunca será da vítima. Mesmo que esta esteja bêbada, drogada, com roupa curta, sem roupa, sensual ou não, isso não importa. A culpa jamais será da vítima, 30 homens estupraram uma mulher. Filmaram. Não tiveram vergonha de seus atos e ainda divulgaram, acredito que no pensamento de que seu ato sendo divulgado os tornariam mais viris dando o sentimento a eles de macho alfa.

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Ao ler  me senti revoltado, indignado e incapaz, incapaz por fazer parte dessa sociedade que dissemina o machismo e a ignorância nos homens e que manipula e perpetua o machismo. A vítima: é cada uma e todas as mulheres e até mesmo os homens civilizados, que se põe contra a barbárie deste crime, “escancarado feito cancro de perversidade e horror a todo mundo”, conforme palavras  divulgadas em  uma carta onde a ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal,  manifestou também sua indignação.

Ato lamentável e desumano, cruel e acima de tudo covarde. Ainda sobre a carta a ministra fez uma tocante reflexão onde ela se inclui por ser mulher e por tomar para si a dor da vitima, ela colocou “nosso corpo como flagelo, nossa alma como lixo. É o que pensam e praticam os criminosos que haverão de ser devida e rapidamente responsabilizados”.

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Concordo com ela, e eu, na minha função de cidadão farei minha parte, para tentar exterminar ao máximo o machismo da sociedade irei educar meus alunos com um compromisso, para que os mesmos não sejam reprodutores de tamanha barbárie como esta e possam sepultar esse bicho papão chamado de sociedade machista.