jovemMeu primeiro emprego também consegui por causa do meu pai. Um homem bom, conhecido e querido por muitos. Meu pai fazia sucesso com o seu negócio, mas ao contrário do que se esperava só ganhava o necessário para sobreviver. Meu pai servia arroz vermelho, bode e frango frito em seu pequeno restaurante que abriu depois que perdeu o emprego federal na era Collor. Quando consegui meu primeiro emprego tinha 16 para 17 anos e ganhava R$ 50 por semana ou a cada 15 dias, não me lembro mais. Lembro que lavava pratos, servia os clientes, limpava a cozinha e o chão do restaurante. Sonhava em ser jornalista, mas Recife era longe demais. Fui cursar Letras que era mais perto e acabou dando muito certo.

João também seguiu os passos do pai, mas esse é Silva e não Campos. Esse não tem o genes dos Arraes no sangue. João acorda com os galos, cuida dos bichos, tira o leite, cata os ovos, agoa a roça, arruma a cancela. Ao meio dia almoça a fava que ele mesmo colheu, bebe do suco de fruta que ele mesmo plantou e se banha com a água da cacimba que ele mesmo foi buscar. Depois vai para escola, porque futuro garantido só tem quem estuda, e olhe lá. Pega o carro e enfrenta a estrada de terra nos olhos. João tem 22 anos, mas ainda tenta sair da 8ª série, com tanto trabalho na roça não dá para estudar, às vezes até perde aula na segunda para vir para a feira vender o que a terra lhe dá. O primeiro emprego de João da Silva é remunerado com o sustento da casa, dos seus pais e irmãos.

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empregada-domestica-pec-aprovadaO primeiro emprego de Maria foi servindo ao povo. Varrendo, passando pano, lavando, engomando e cozinhando em uma casa de família. Na época que não tinha esses nomes bonitos de diarista e vínculo empregatício com e-social, o contrato era de boca e a lida do jeito que a patroa determinava dia e hora para o trabalho. O salário irrisório, não precisa pagar muito para uma menina fazer a faxina, com 14 anos tem que aprender é cuidar de casa mesmo se não faz feio para o marido quando casar. Cuidar dos filhos dos outros para saber cuidar dos seus. Qualquer 200 conto paga o mês de humilhação nas casas alheias. Profissão de família, a mãe também trabalha na vizinha e com mais umas três famílias para poder juntar tudo e pagar o papel de água e luz, aluguel e as besteirinhas de casa.

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Não é que a vida seja injusta e João e Maria Eduarda dos Campos não podem mostrar competência nos seus respectivos cargos no governo. A política está no sangue, talvez a humildade não. A pressa na criação do nome em sucessão é iminente. A filha de Barack Obama também não está trabalhando?! Servindo café para atores de um seriado de televisão, ela é estagiária mesmo sendo herdeira do homem mais poderoso do mundo. João, Maria, José ou Damiana, tantos jovens que estão por aí procurando ou dando duro nos seus primeiros empregos, aprendendo o valor do dinheiro. Mas o que nunca vai acontecer é que a maioria da população do nosso estado, do nosso país, jamais terá os mesmo privilégios que os herdeiros políticos de Pernambuco usufruem.