Mastro NogueiraPor Adelmo da Favela, de Serra Talhada

Toda Festa de Setembro eu me lembro de professor Nogueira, dos ensaios na banda do Ginásio Industrial, colégio onde eu estudei, dos dobrados na corneta e das broncas que eu levei. Eu não entendia de música, não entendia de letras, mas ficava todo besta quando ouvia professor Nogueira tocando a sua corneta. Os seus dobrados eram lindos quando eu lembro eu fico trêmulo, chegando a voltar no tempo de quando eu era menino.

Foi no período de 1970 a 1973 que estudei no Ginásio Industrial, onde a farda era de cáqui com uma listra encarnada em cada perna da calça. E nas mangas da camisa ficavam as divisas que mostravam em que série o aluno estudava. No Ginásio Industrial a disciplina era braba, não entrava cabeludo e quem estivesse com o uniforme irregular. Com vinte metros de distância o professor Nogueira avistava a cor da meia que o estudante usava. O Ginásio Industrial era um colégio grande, ensinava nos três turnos pra mais de mil estudantes. Dentro das aulas de artes tinham sonhos e esperanças encontrados nos bordados, marcenaria e mecânica.

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O professor Nogueira era querido, ele tinha uma magia e conhecia os pais dos estudantes com toda a sua família. Mesmo nos anos 70, na época da ditadura, professor Nogueira endurecia, mas não perdia a ternura. A sua marca registrada era o grito de “Ei Siô!” e o grito de “Ei Siá!” Um grito de advertência que tanto me ajudou, esse foi o único grito que na vida me ensinou.

Eu aprendi andar no mundo me comportando direito nos lugares aonde eu vou. Quando o professor gritava os estudantes escutavam, professor Nogueira estava firme corrigindo coisa errada. Isso era tanto na entrada como também na saída. Professor Nogueira estava ali, ensinando aos alunos como ser gente na vida. Ele sempre reparava do primeiro ao derradeiro, do portão até a sala, dava o grito de “Ei Siô!” dava o grito de “Ei Siá!” quando ele via alguma coisa errada.

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Cada bronca que ele dava os alunos obedeciam, todo mundo respeitava, aprender andar no mundo era o que todos queriam, e com professor Nogueira os estudantes aprendiam. Não ensinou português, não ensinou geografia, mas ensinou para os alunos tudo de cidadania. E no pátio do colégio quando os alunos entravam, em cada rosto um destino, cada um com a sua história, professor Nogueira observava os alunos entrando em forma pra poder cantar o hino.