img20140505133984914821MEDPor Emmanuelle Silva, redatora e repórter do Farol de Notícias

O assunto da vez é a Câmara de Deputados Federais e o Estatuto da Família, quando todos achavam que o ilustríssimo presidente da Câmara, Eduardo Cunha não poderia fazer mais nada de surpreendente e pavoroso, eis que mais uma vez a Constituição é colocada à margem de preceitos religiosos. Na última quinta-feira (24), a comissão criada para se debruçar sobre a matéria aprova o texto principal, afirmando que uma família é formada pela união entre um homem e uma mulher, ou um dos pais e seus filhos. Se esse é o texto principal, imaginem o que ainda está por vir. A título de registro o estatuto foi elaborado pelo deputado pernambucano Anderson Ferreira (PR) e teve como relator o paranaense Diego Garcia (PHS).

Para a Constituição, esse Estatuto da Família foi pensado para assegurar políticas públicas de acesso à saúde, educação, segurança e demais bens públicos às famílias brasileiras. O problema é que nossos caros deputados não compreendem que as famílias no mundo inteiro não são mais as mesmas a muito tempo. Você pode acessar esses recursos contanto que sua família seja formada por casais heterossexuais, casados “de papel passado” ou que tenham uma união estável. Você mulher conservadora e você homem religioso, se forem “amasiados” também não têm uma família perante a lei máxima deste país. Você rapaz criado pela avó e você menina criada por tias, também não têm uma família, assim como os casais homossexuais e seus filhos que vocês julgam e fazem questão de discriminar.

charge-estatuto-familia-thumb-900x533-123017Estamos todos na mesma situação, fui criada por seis tias, duas avós, um pai viúvo, dois irmãos, um cachorro, uma dezena de amigos, alguns professores, patrões e tudo isso sempre chamei de família. Creio que o núcleo de uma família deve ser o amor, instituído a partir da reunião de seres que se amam e que almejam compartilhar a vida e suas experiências juntos. Crescer juntos, compartilhar saberes religiosos, culturais, éticos e de justiça etc. Uma criança que cresce no seio de uma família de verdade, independente da sexualidade, crença, cor, etnia e ideologia dos seus pais ou mães, terá consciência que discriminar um homossexual, uma transexual, um evangélico, uma umbandista, um negro, uma pessoa com deficiência… é errado tanto para um quanto para outro.

A Constituição não pode discriminar, excluir e nem privilegiar. Entendedores entenderão que essa decisão privilegia uma ideologia, uma bancada fundamentalista, uma parte da população. A crise política que temos nesse país é justamente essa, legislação e religião não devem andar juntas para assegurar direitos a cidadãos.