Exposição AlejandroPor Alejandro J. García, repórter fotográfico do Farol de Notícias

O repórter Alejandro García cobriu uma pauta do FAROL, neste último final de semana, no distrito de Tauapiranga, zona rural de Serra Talhada. A chegada até o distrito foi uma beleza. Sem dificuldades. Ao retornar, nosso intrépido repórter decidiu viver na pele a experiência dos estudantes que utilizam o caminhão ‘pau de arara’, todos os dias, para buscar conhecimento na Capital do Xaxado. Leia na íntegra a opinião de Alejandro sobre um modelo arcaico que é financiado pelo Estado. Ele cobra mudanças e respostas dos governantes.

OS CAMINHOS TORTUOSOS DA PÁTRIA EDUCADORA

“O ser humano tem uma enorme capacidade de adaptação ao meio e as dificuldades que este lhe apresenta. Seja a altura, o frio ou o calor extremo. O sofrimento que nós homens acomodados na civilização passamos para sobreviver num meio extremamente rigoroso como o semiárido, as gerações de jovens formadas nele não sofrem. Trabalham de sol a sol na roça, e ainda têm coragem para tomar um banho e viajar até a escola em Serra Talhada, já que o ensino médio está na meta de quase todos eles (parabéns!). Eles irão conformar a futura “Pátria Educadora”, participando dessa maratona em que os que ficam, infelizmente, serão abandonados na beira da estrada.

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Nós, que assistimos aos jornais e vemos a quebra dos conceitos e a confusão dos valores que apodrecem num caldo infecto sustentado por todos. Que postamos fotos e declarações que acabam banalizando e minimizando a importância enorme que tudo isso tem nas nossas vidas, vemos bem na frente de nossos olhos o adolescente chegar a rua num caminhão, como os que levavam nordestinos a São Paulo há cinquenta anos. E achamos natural.

Achamos natural que essa menina, esse menino, tenham viajado uma hora sentado numa tábua, sem lugar para botar os pés, sem ter onde se encostar, aguentando a poeira, sofrendo com os solavancos que lhe empurram contra os ferros da carroceria. Sem poder mudar de posição. O nome do transporte é “Pau de Arara”, mesmo do instrumento de tortura que inspirou o monumento “Nunca mais” existente em Recife. O nome de um instrumento de tortura. Alunos e alunas de Serra Talhada que irão fazer o futuro da “Pátria Educadora,” chegam a escola depois de ter passado uma hora num instrumento de tortura. E terão que voltar para casa do mesmo modo. Todos os dias letivos do ano. Como podem adquirir informação com o cérebro nesse estado? Qual a chance com os meninos que estudam sem passar por essas condições extremas?

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Existem em todo o território de nosso município lideranças políticas e poderes constituídos para tomar uma atitude que mude essa situação.

Assim como os adolescentes vão se adaptando às dificuldades, os poderes políticos também desenvolvem essa capacidade, e acabam por não ver. Mas o desenvolvimento humano não se baseia na adaptação. Se baseia na capacidade de gerar mudanças, ações que modifiquem e alterem as dificuldades para facilitar o progresso. Não fosse assim, estaríamos carregando pedras, em lugar de coloca-las num carro. Não é para o político ficar incomodado com a situação que tem que resolver. É para encontrar a solução. Ainda que tenha que sair de sua “zona de conforto”. Político é para isso. Acha ruim? Então não seja.

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