tecnologiaPor Goottembergue Mangueira, professor da escola pública estadual

No mundo da indústria da comunicação, segundo Augusto Cury, o ser humano não consegue viver na experiência do seu próprio eu, que está meio em desequilíbrio existencial pelos efeitos que esse universo promove na vida de cada indivíduo. As pessoas, mesmo com seus smartfones, ipad, celulares, tabletes, conectados dia e noite à internet, paradoxalmente, vivem num estado terrível de solidão e de angústia, depressivas, já não sabem mais discernir o imoral do moral, o que convém e o que deteriora a alma. Não valorizam mais aquela amizade verdadeira, construída por atitudes e gestos humanos, mas pelos bate-papos quase sempre agenésicos das redes sociais.

Apegam-se, entre outras coisas, à linha tênue das ideologias efêmeras que surgem pela manhã e desaparecem à noite, murcham no próprio dia em que se desabrocham.

Não conseguem colocar sequer um tijolo na reconstrução do seu eu, ocupam o tempo copiando os outros ( uma preguiça cognitiva desgraçada) seguindo os passos da mesmice, sem um pensamento capaz de colaborar para uma mudança significativa no meio em que vivem. São meros reprodutores da futilidade. Um amontoado de zumbis, nubívagos a serviço do nada.

Assim é muito difícil acreditar numa sociedade melhor, pois a ignorância e o analfabetismo funcionam como uma enorme parede, protegendo pessoas que na verdade só têm a intenção de transformar o mundo num deserto de incerteza, numa aldeia de “homos imbecilis” manipulados, esclerosados, medrosos, onde o conhecimento e a informação ( quando se tem) não se transformam em senso crítico.

As famílias não conseguem mais educar seus filhos, a escola não tem estrutura para garantir cidadania aos nossos jovens porque os governos preferem mantê-la no fundo do poço, mentindo, dizendo que investem em educação, quando na verdade investem neles mesmos, na sua carreira política. Essa falta de sensibilidade e de escrúpulo me impressiona. É necessário que exista inferno, do contrário prevalecerá a ideia de que ser bom e honesto não vale a pena.

Sem a educação, que opera como um fator de mobilidade social e promoção humana, não é possível encontrar o caminho do eu como construtor de sua história. Abrindo alas para o determinismo. (antigo alerta de Paulo Freire). Vive, a maioria das pessoas, portanto, nas trincheiras de uma guerra sem fim, lutando consigo mesmas, na sua via crúcis, tentando fugir do epicentro dos conflitos existenciais que invadem a sua mente para encontrar refúgio fora de si, procurando-o no corredor escuro de uma vida fragilizada por decisões erradas, e como diz o filósofo espanhol Ignácio Quintanilla, numa eterna busca do sentido da vida, percorrendo longas jornadas tentando encontrar algo que as leve a se encaixar em algum lugar no mundo

Esse “perambulare” do eu, muitas vezes, amarra os indivíduos a um vazio ideológico e cria um ser humano “desumano,” Impregnado de patologias morais. Um eu que não consegue mais enxergar a alteridade como algo necessário para sua existência social.

Ele se isola, se esconde e vive a vida de forma egoísta, cheia de maldades, de péssimas intenções, sem se importar com as dores dos seus semelhantes, na base do “eu pelo eu” à luz de uma concepção “inconexa” de convivência.

É preciso que deixemos de reverenciar o mal, e que façamos uma leitura mais consciente das atitudes daqueles que visam robotizar o ser humano, transformá-lo em produto de mercado, criando assim, condições favoráveis para o recrudescimento da ignorância como uma praga desestruturadora da vida social. Uma doença que precisa ser curada, que vem evoluindo negativamente e estancando o desenvolvimento das pessoas em todos os sentidos da vida, provocando descontroles emocionais avassaladores, comprometendo o equilíbrio psíquico dos indivíduos, segundo Bauman, o homem moderno é capaz de entender tudo exterior a ele, porém está se perdendo nos labirintos do seu próprio eu, deixando que sua história seja construída pelos outros, transformando a sua vida num inferno, se adaptando a tudo quando não presta, abrindo mão da sua liberdade, dando vez aos seus medos e a um futuro sombrio. Se estamos condenados a ser livres, como diz o existencialista Jean Paul Sartre, então, melhor é não fugir dessa condenação.