Por Paulo César Gomes, professor e escritor

Durante a semana que se passou foram divulgados os números avaliativos dos primeiros 100 dias de gestão de prefeitos eleitos e reeleitos em todo o país em 2012. O que chamou atenção não foi o fato de quase nenhum atingiu a meta dos 100% das ações planejada para o período, mas o fato de que praticamente todos deixaram de lado os “clichês” bastante usados nas campanhas, como por exemplo, “choque de gestão” e “gestão de excelência”. Mas o que isso esse clichês têm a ver com os resultados apresentados nos últimos dias? A resposta é simples. Tantos os números quanto os clichês não passam de uma balela e uma grande falácia.

A questão não é que os prefeitos, os governadores ou presidentes estejam errados em querem empregar o “choque de gestão” ou qual outra coisa parecida. O problema é vender essa ilusão para a população em épocas de campanha eleitoral. Infelizmente a população não entende que no modelo democrático adotado no Brasil, o poder Executivo depende dos poderes Legislativo e do Judiciário, essa tripartição dos três poderes é uma teoria desenvolvida por Charles de Montesquieu,  na obra o “O Espírito  das  Leis”, (1748), um pensamento que se contrapôs ao “absolutismo”, que era um modelo político da época e no qual os reis concentravam todos os poderes do Estado, ou seja, faziam e desfaziam sem que existisse qualquer forma de controle.

Na prática isso implica em dizer que os governantes planejam, mas não executam sozinho, eles precisam das emendas feitas pelo poder legislativo, das verbas liberadas por governadores ou presidentes, além da autorização do judiciário para executar determinadas obras. Até para montar um secretariado é preciso satisfazer as vontades dos aliados políticos. O pior é que nessa hora, além de pessoas de competência, acabam entrando “gatos e cachorros”, jogando o discurso da eficiência pelo ralo. Sendo assim, não adianta o gestor dizer que vai trabalhar no município aos moldes de uma empresa privada por que isso é praticamente impossível, uma das únicas coisas que o gestor é capaz de fazer sem o conhecimento dos demais poderes é desviar recursos públicos.

O que muitos não entendem é que entre os princípios que norteiam “a democracia” e “o serviço público”, que têm suas origem na Grécia Antiga, está a participação popular, que não está restrita apenas ao voto no período eleitoral, pois lá Grécia Antiga, as questões relevantes para a Pólis (cidade) eram discutida e decididas pela própria população, cabendo aos gestores a tarefa de “executar”. No Brasil, o único projeto político que se aproxima, mesmo com muita distância, da proposta grega é o O.P. (Orçamento Participativo). Esse projeto permite que a população participe diretamente da elaboração, do direcionamento e da aplicação das verbas do município. Talvez desta forma consigamos banir essa hipocrisia que é avaliação dos 100 dias ou dos quatro anos, e também a falácia que o choque de gestão.