relogio[1]Por Luciano Menezes, professor com Pós-graduação em História Geral e do Brasil

O homem controlado e domado pelo relógio caracteriza o funcionamento real, repetitivo e entediante da sociedade moderna.  Nesse contexto histórico, a regra geral é a formação de pessoas cronometradas e acorrentadas ao relógio. O espírito disciplinado do homem moderno, sempre preocupado com o tempo, deixa visível a existência de um relógio cravado em seu âmago. Numa rotina de vida rígida e similar, o sujeito subjugado pelo relógio teve a sua estrutura psicológica afetada tragicamente.

Acordando sempre na mesma hora, percorrendo o mesmo caminho, realizando rotineiramente as mesmas tarefas diárias, alimentando-se da mesma forma, indo para cama, religiosamente nos mesmos horários. Sempre nessa normalidade corriqueira do eterno e idêntico círculo vicioso que se mantém durante décadas. Logo, o sujeito que vive, teoricamente, cem anos, na prática, existiu apenas um único dia de sua vida, os demais, foram simples repetições exaustivas. Esse ingênuo homem moderno se orgulhou de nunca ter faltado sequer um dia de trabalhado, nem mesmo utilizado um atestado médico. Toda a sua pressa ficou escrita em seu instinto decadente, em sua mentalidade servil.

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A escola, a empresa, o trabalho, a igreja, o bar, as instituições se transformaram em santuários para as desgastadas e desgastantes rotinas. Espaços onde se assimilam as mesmices, numa religiosidade pontual, reiterando as heresias das pontualidades. Quase toda pressa humana é justificada pelo princípio ontológico do “ter”, pois, “Chi non ha, non è” (quem não tem, não é; quem não possui, não existe). E, para reforçar a pressa doentia desse homem com espírito de cachorro inteligente e adestrado, ensinaram-lhe que o consumo de hoje não serve para amanhã, assim, é necessário olhar para o relógio e correr ainda muito mais. Então, nessa ocasião, o flagelo imposto pelo relógio constituiu e definiu artificialmente, o tempo da criança, o tempo do adolescente, o tempo do adulto e o tempo do velho. Nessas correrias, as ocupações com atividades inúteis se intensificaram e o homem, por um instante imaginou que o tempo presente corre mais depressa do que no passado. O “corre – corre” repetitivo se estendeu por séculos, consumindo gerações de forma cada vez mais assustadora. Hoje, num piscar de olhos, o “menor aprendiz” se torna “óleo queimado” do sistema capitalista.

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Assim, o homem catequizado e escravizado pela velocidade do tempo, idealizado por ele mesmo, permanece doutrinado pelo relógio. O comportamento cronometrado é cada vez mais espalhado epidemicamente, através de hábitos, tradições e costumes automáticos, determinados por uma pedagogia nebulosa que instiga a mediocridade da rotina como nobreza humana.