educação-1Por  Luciano Menezes, professor com Pós-graduação em História Geral e do Brasil

Quando pensamos na formulação dos conceitos “alfabetizado” e “não alfabetizado”, imaginamos um distanciamento estabelecido entre a palavra escrita e a palavra falada. A fala parece que, pouco a pouco, foi sufocada pela escrita diante dessas construções sociais e de suas mudanças. Essas fabricações se tornaram flexíveis, afirmando, dentre outras coisas, categorias de analfabetismos, como: analfabetos funcionais, semianalfabetos, analfabetos musicais e etc.

É importante ressaltar que o aspecto aquisição de conhecimento é fundamental na vida das pessoas, porém, o que separa o alfabetizado do não alfabetizado é muito mais complexo do que o mero jogo das exclusões. Apesar do considerado grau hegemônico dos sujeitos alfabetizados, é comum, muitos exaltarem exaustivamente o “conhecimento” das inutilidades, além das devoções aos inúteis. Às vezes até, apresentando e reproduzindo historinhas para o convencimento geral – lições colonizadas que chegam, em graus diferenciados, aos alfabetizados e aos analfabetos.

O flagelo social do alfabetizado que santifica e engole o estúpido como conhecimento, fortaleceu o pensamento de Mark Twain, quando afirmava: “o homem que ler livros medíocres não terá nenhuma vantagem sobre o analfabeto”. O fato pertinente é que, esse conhecimento banal é partilhado intensamente – a dispersão da mediocridade, que é sempre bem elaborado de forma cuidadosa, como destacava Kierkegaard.

Os livros da moda, com suas “aventuras”, figuras e capas multicoloridas; as revistas neuróticas da irracionalidade objetiva, informativas sobre: futebol, novelas, carros, motos, motores, roupas, fama e famosos, horóscopos, “ração” do próximo concurso ou do ENEM. Literaturas onde a essência costuma perder espaços para uma ficção tautológica que grita: “acreditamos porque acreditamos.” Conteúdos que, quando não desligam os cérebros, são dogmáticos, positivistas, de curiosidades banais, às vezes até, ultras sintéticos.

Essas instruções embaraçam o real sentido do processo de conhecimento e educação, num agonizante desfecho sócio educacional. Assim, os instrutores se espalharam pelas universidades, escolas, institutos, dando suas contribuições para o mundo metafórico dos propósitos vazios ou externos – alheios. Essas ilusões absorvidas pelo sujeito alfabetizado, de ethos submisso e reverência cega em relação às tecnologias e a ciência, deu-lhe uma enganosamente ideia de uma ampla visão de si mesmo e do mundo, aumentando também a sua eterna sensação de insuficiência, em todas as esferas.

Como o Tântalo, sem nunca saciar a sua fome e a sua sede, caiu também numa desgraça cíclica e eterna: nada é suficiente para a sua carga hereditária de usura. Enquanto isso, alguns afirmam que, a visão mais limitada do não alfabetizado, pode ser uma ferramenta útil para uma vida menos ansiosa e trágica.

“É uma pena não ser burro, eu não sofreria tanto.” (Raul Seixas)