As imagens produzidas por essa que é considerada a maior seca dos últimos 50 anos tem chocado a opinião pública em diversos cantos do Brasil. São imagens fortes de centenas de animais mortos, açudes secos e com o solo rachado, mulheres e crianças carregando água em latas, baldes e potes de barro. Homens queimando cactos para alimentar o que ainda resta do rebanho, enfim, um cenário de desolação e de barbárie, aonde vários seres, racionais e irracionais, são expostos ao que há de mais desumano na face da Terra.

Contrastando com essa catástrofe natural, e porque não dizer política, temos um outro Brasil, o que vive a contagem regressiva para a realização de um dos maiores eventos esportivo do mundo, a Copa do Mundo de 2014. Para esse evento o país está gastando bilhões de reais na construção de novos estádios, rodovias e anéis viários e ampliação de aeroportos, sem falar do incentivo generoso ao setor hoteleiro. Segundo a presidenta Dilma Rousseff (PT), e no nosso caso, o governador Eduardo Campos (PSB), a realização da Copa do Mundo vai deixar um legado de desenvolvimento econômico e social tanto para o Brasil, como também para Pernambuco.

Partindo desse raciocínio, é possível dizer que a seca não deixa para o nordeste um legado de desenvolvimento econômico e social. Estaria a resposta para a falta de iniciativas que busquem amenizar os problemas causados a cada grande seca? Claro que sim! Seca gera despesas para a União e um retrocesso econômico para a região, porém, para alguns políticos é a grande “tábua de salvação”, ou seja, quanto pior para o povo, melhor para eles. Imagine  que o político que consegue, via órgãos públicos, a construção de um poço artesiano ou de açude em uma comunidade carente da zona rural, passa a ser automaticamente o dono dos votos daquela área. Isso é o que nós conhecemos como a “indústria da seca”, uma indústria que não cria nem empregos e nem gera renda, mas que acaba atraindo muitos votos para a classe política.

Um exemplo bem claro é o que estamos vendo nos últimos dias. O deputado Inocêncio Oliveira (PR) já declarou que  é o “pai” da obra do Açude de Serrinha, e o deputado estadual Augusto César (PTB) também se manifestou como sendo o “pai” da Adutora do Pajeu. Sendo assim, fica claro que para alguns existe um lado bom na seca, pois permite que os oportunistas de plantão construam palanques políticos em cima questões que são para atender a necessidade da população.

Na verdade caro (a) leitor (a), a seca realmente é um sinônimo de atraso na economia do nordeste, bem como também possibilita aos políticos a aquisição de votos em troca de obras que ajudam a amenizar os efeitos da estiagem. Isso só ocorre porque estamos passando por um momento no qual a sociedade brasileira opta pelo comodismo. Há tempos atrás, mesmo que piores, a população se manifestava como mais veemência, e se preciso fosse, ia pra rua manifestar sua opinião. Hoje, os protestos ocorrem através do mundo virtual (facebook, twitter), porém é bom lembrar que a seca é fenômeno real, assim como as próximas que virão.

Por isso deveriam aproveitar a oportunidade e realizar um grande movimento popular exigindo das autoridades governamentais e políticas o término das obras, em caráter de urgência, de açudes, de adutoras e da transposição das águas do Rio São Francisco. Além disso, a criação de um Programa Nacional de Combate a Estiagem no Nordeste Brasileiro. Se agíssemos assim, com certeza iríamos deixar para as futuras gerações de sertanejos um legado positivo dessa grande seca, o que possibilitaria a decretação do fim da “indústria da seca” e diminuição gradativa de imagens tristes como as que estamos vendo nos últimos meses.

* Paulo César Gomes é professor com especialidade em História Geral

!Um forte abraço a todos e até a próxima!