Fotos: Farol de Notícias / Max Rodrigues

Publicado às 14h12 desta quinta-feira (9)

Afonso Carvalho Sobrinho completou, no último ano, cinco décadas da sua chegada como padre a Serra Talhada. E para registrar essa passagem histórica, a reportagem do FAROL DE NOTÍCIAS visitou o sacerdote em sua casa.

Carvalho Sobrinho, de 82 anos, sofre há alguns anos com problemas de visão, apesar disso, conseguiu se movimentar tranquilamente por sua casa, com total independência, mostrando a vitalidade que o caracterizou desde que assumiu a Paróquia de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em 1967.

Um bom exemplo disso, é que ele ainda hoje continua exercendo o sacerdócio ativamente, celebrando a Santa Missa uma vez por semana, sempre às seis e meia da manhã do domingo, na Igreja do Bom Jesus Ressuscitado, que sempre é lotada com mais de dois mil fiéis.

Durante a longa conversa com a reportagem, o sacerdote falou sobre vários temas, sempre se expressando com firmeza e convicção. Ao ser indagado sobre como via os crescentes números da violência em Serra Talhada, Carvalho Sobrinho foi enfático ao afirmar que “a droga está generalizando a violência”.

Para ele, a valorização da família e a geração de emprego são os caminhos para garantir “a sobrevivência humana”, frente ao cenário cada vez mais violento e desumano. “São as duas coisas importante para garantir a sobrevivência humana. A família está de desmoronando. Primeiro a família, depois o trabalho. Sem família e sem trabalho a vida humana fica comprometida”.

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Ainda sobre tema, o Padre fez questão de refutar as ideias de alguns seguimentos sociais e de políticos que pregam a aplicação da violência para combater a violência. “Violência só gera violência, não soluciona. O maior risco é a droga e a desocupação”, afirmou o Afonso Carvalho.

O sacerdote também se manifestou contra a participação de cristãos na política, tanto evangélicos quanto católicos.

“O religioso na política não tem bom resultado, nem o evangélico, nem o católico. É melhor a pessoa não ser um religioso político. Aí onde está a história: religioso e político não têm jeito. Isso não têm validade. Deus não quer isso. Veja o exemplo do Paraguai!? (Presidência do Bispo Fernando Lugo). É melhor ser um religioso coerente, que exerça a função. A política no Brasil é rasteira. Quem manda no Congresso Nacional é a corrupção”.

Sobre o fato de alguns religiosos políticos afirmarem que são candidatos por um chamamento divino, o padre Afonso fez a seguinte comentário: “Eu acho que é um fanatismo curto que eles têm. Deus não se vale da política”.

Afonso Carvalho também se manifestou em relação há alguns temas polêmicos, como a atuação dos novos sacerdotes e sobre o marco divisório entre Serra Talhada e São José do Belmonte.

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“Os padres não estão atendendo bem os fiéis, como eles precisam. Atendem conforme o gosto, e assim não dá. Estão muito preocupados com o moderno. A Pedra do Reino pertence a São José do Belmonte e a Serra Talhada. É o marco divisório entre os dois municípios, e se tem alguém com alguma dúvida é só olhar o livro ‘Enciclopédia dos Municípios do IBGE’. O ex-prefeito Zé Carvalho (de São José do Belmonte) comprou apenas um hectare de terra (Serra do Catolé). O ideal era que as duas cidades comprassem as terras e fizessem uma reserva, para assim preservar a mata (a caatinga) e a paisagem do local”.

O HÁBITO DE OUVIR O RÁDIO

Além do sacerdócio, o Padre Afonso também foi Professor do Colégio da Imaculada Conceição, a antiga Escola Normal, isso por que ele é formado em Licenciatura em Filosofia. Outra curiosidade é o fato de cultivar o hábito diário de ouvir os programas de notícias vinculados nas rádios locais durante o horário do almoço.

“Ainda quando jovem eu sentia à vontade de receber informações. E passei a ouvir rádio pelas ondas AM (Amplitude Modulada). Ouvia rádio de Madri (Espanha), a BBB de Londres (Inglaterra), da França, da Rússia, dos Estados Unidos e até de Cuba. Quando a notícia chegava em Pernambuco eu já estava sabendo. Escuto as manchetes dos programas (das rádios de Serra Talhada), e depois vou ouvir as entrevistas, nas entrevistas a gente aprende mais”, disse Afonso.

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A PAIXÃO PELO VELHO JEEP

O Padre também conserva consigo um sentimento bastante peculiar em relação ao seu Jeep 1961, o automóvel que chegou as suas mãos em 1967, foi usado para catequizar e levar a mensagem da fé católica crista por várias localidades de Serra Talhada e regiões vizinhas.

“Comprei o Jeep em 1967, foi comprado em inicialmente em Salvador–BA. Até agora utilizo ele, está funcionado bem. Ainda essa semana saí com o motorista para dar um a volta com ele”, relatou.

Preocupado com o destino do carro após a sua morte, o Padre Afonso já teve a precaução de escolher o herdeiro que irá cuidar e continuar usando o Jeep para as tarefas de evangelização.

“Já deixei registrado no testamento que o JEEP é pra ficar com o Padre Custódio Sá”, declarou o Padre. Afonso Carvalho.