E o quarto polo médico do estado, como se costuma batizar Serra Talhada, não teve condições de salvar a vida de um bebê de apenas onze meses. Esta é a conclusão a que chegaram os familiares do pequeno Adryan Kauan de Lima, que foi sepultado nessa quarta-feira (25) após um diagnóstico de insuficiência respiratória. Os pais de Kauan deram entrada no Hospital Regional Agamenon Magalhães (Hospam) no domingo (22). Segundo o tio da criança, Rony Fábio Ângelo Silva, 31 anos, a falta de uma Unidade de Tratamento Intensivo neo-natal (UTI) e diagnósticos confusos aceleraram a morte do bebê, que se deu por vencido depois das 10 horas da última terça-feira (24).

“Lutamos desesperados na busca de uma vaga numa UTI em Recife. O Hospam ficava repetindo que estavam tentando uma vaga lá. As enfermeiras ficavam se revezando fazendo respiração manual (no bebê) porque não tinham um aparelho respiratório no hospital. É uma vergonha para Serra Talhada”, lamentou Rony Silva. “Dizem que Serra Talhada é o quarto polo médico de Pernambuco. Isto é uma mentira e a prova é que a criança não está mais conosco”, desabafou Rony Fábio  Silva. Ele acompanhou a “via-crucis” enfrentada pelo bebê e os pais, que perderam o único filho, e agora buscam consolo em fotografias, quando Adryan Kauan mostra, com sorrisos, a felicidade de viver.

LUTA PELO TRANSPORTE AÉREO

Um dos capítulos dessa tragédia vai de encontro ao discurso de lideranças políticas quanto aos serviços da UTI Aérea Móvel. A família questiona para o que serve o heliporto do Hospam. “Aqui, em Serra Talhada, só quem tem vez é rico. Aqui não é o quarto polo médico. Pode ser na cabeça deles (políticos), mas isso não funciona”, reclamou Rony Silva.

Ele relata que após conseguirem um leito em Recife, na madrugada da terça-feira, começou o drama para encontrar uma aeronave para levar a criança. “Depois que Kauan estava entubado, recebemos a notícia que o avião não vinha. Aí informaram que o avião iria para Fernando de Noronha, depois voltaria para Recife e só depois é que viria para Serra”.

Desesperados, os familiares tiveram que pedir ajuda à secretária de Saúde Socorro Brito e ao prefeito Carlos Evandro. “O prefeito acionou o senador Humberto Costa (PT) e os deputados Gonzaga Patriota (PSB) e Manoel  Santos (PT), que acabaram conseguindo um avião”, relembra Rony Silva. A aeronave pousou às 10 horas da terça-feira em Serra Talhada.

A FATALIDADE

De acordo com os pais de pequeno Kauan Almeida, o que aconteceu durante o trajeto do Hospam até o avião piorou o quadro de saúde da criança, acelerando a morte. “Ele saiu vivo do Hospam, mas quando chegou ao aeroporto a bateria do equipamento que sustentava o meu filho pifou e ele (Kauan) sofreu uma parada cardíaca. Se tivesse sido bem atendido de imediato estaria vivo. Ele ficou mais de 24 horas lutando pela vida”, recorda o jovem Marcelo Almeida, 24 anos, pai do bebê.

Com lágrimas nos olhos e na companhia da mãe de Kauan, Adriana Viana, 21 anos, Marcelo aproveitou para cobrar responsabilidades aos políticos de Serra Talhada. “Eu só quero que melhore a saúde da nossa cidade. Não acuso ninguém. Mas não quero que isto aconteça com outras crianças. Não quero que isto aconteça com os outros”, disse Almeida, aproveitando para agradecer o apoio que recebeu durante o drama.