Fotos: Arquivo Pessoal

Publicado às 05h22 desta terça-feira (18)

Há 18 anos, Luiza Isabel da Silva Bezerra, 52, chegou a Serra Talhada. Ela é natural de Itaíba (PE) e moradora do bairro Nossa Senhora da Conceição. Sem nenhuma pretensão, Luiza pisou em solo serra-talhadense pela primeira vez em 2003 trazendo consigo uma filhinha de 3 anos e uma iguaria da cultura baiana.

Apesar de ser de Itaíba-PE, ela mudou-se para Juazeiro da Bahia em 1991, onde morou durante 13 anos, e também aprendeu a fazer acarajé, especialidade gastronômica das culinárias africana e afro-brasileira, prato típico da Bahia, e trouxe para Serra Talhada, em 2003, e continua mantendo, apesar das dificuldades da pandemia.

”Quando eu cheguei em Juazeiro, trabalhava vendendo cachorro-quente, depois aprendi fazer acarajé com uma colega minha, nós andávamos nas festas vendendo. Em uma das festas, uma colega da gente foi vendendo acarajé, ela passou 3 dias na festa vendendo e aprendi com ela só vendo ela fazer. Depois deixei de vender cachorro-quente e comecei vender o acarajé, tinha meu ponto na Bahia. Passei uns 5 anos vendendo lá e em 2003 em vim para cá”, relembrou Luiza.

CHEGADA EM SERRA TALHADA

Em entrevista ao Farol, Baiana do Acarajé revelou que nunca havia visitado a cidade, tampouco, conhecia alguém em Serra Talhada e que a chegada à Capital do Xaxado não foi nada planejada. Tudo aconteceu após chegar a rodoviária de Petrolina com o objetivo de viajar para Recife, onde dois irmãos dela moram, porém, perdeu o ônibus. Na ocasião, chegou uma lotação de Salgueiro e ela decidiu ir para a rodoviária da referida cidade, ao chegar em Salgueiro, pegou lotação para Serra Talhada a fim de pegar ônibus para seu destino, mal sabia ela que fixaria moradia na Terra de Lampião.

”Vinha uma mulher no carro, que eu peguei para Serra, que eu nunca tinha visto, chamada Penha, e quando eu comentei que não conhecia ninguém aqui ela disse: ‘não se preocupe, mulher que você não vai ficar no meio da rua. Você vai lá para casa, janta, toma banho, dorme e amanhã você decide para onde você vai.’ Chegamos e eu fiquei na casa dela. No dia seguinte, fomos para a casa da mãe dela no Alto da Conceição e tinha uma casa desocupada e eu aluguei”, afirmou continuando:

”Ela perguntou o que sabia fazer para vender eu disse: sei fazer acarajé, cachorro-quente, pastel e ela disse: ‘Pois pronto! Você vai botar o acarajé na faculdade.’ Logo eu comecei e dia 5 do mês que vem vai fazer 18 anos que eu vendo na faculdade. Quando eu cheguei aqui em 2003 não tinha ninguém que vendia, a primeira fui eu, só tinha gente de fora na Festa de Setembro. Eu me sinto feliz por trazer essa cultura para Serra Talhada e é o meu trabalho, que eu aprendi e que ganhei dinheiro.”

INÍCIO NADA FÁCIL

No início não foi nada fácil, mas de segunda a sexta das 18h às 22h lá estava Luiza acompanhada da filha, Juciária, 3 anos, em frente a Autarquia Educacional de Serra Talhada (AESET) levando sabor baiano aos estudantes e quem passava na avenida tentando garantir o sustento da filha. Ela morou de aluguel muitos anos, e com muito esforço conseguiu comprar um terreno no bairro Nossa Senhora da Conceição, só com um cômodo construído. Continuou trabalhando vendendo acarajé e economizando até que conseguiu construir sua casa.

TRADIÇÃO E VENDAS

Questionada sobre a tradição da caracterização na hora das vendas, Luiza afirmou que faz parte da cultura e que também é uma forma de identificarem que produto está sendo vendido por ser exclusiva dos vendedores de acarajé.

”Para vender acarajé, a pessoa tem que colocar uma mesa branca, a pessoa também vestida de branco, com a touca de renda na cabeça, saia branca rodada, toda limpinha. Tem que ter a roupa, é uma questão de tradição. Quando as pessoas vêm uma mulher vestida de branco, com a touca de renda na cabeça, um colar e a mesa com a toalha branca já sabe que é acarajé. Eu trabalho assim e minhas coisas todo mundo gosta de comprar, eu sou a mais procurada na cidade porque já faz 18 anos que eu vendo aqui”, disse Baiana do Acarajé.

EFEITO PANDEMIA

Assim como milhares de brasileiros, a vendedora de acarajé ficou muito prejudicada por não poder vender seu produto como costumava ao longo dos anos. Mesmo vendendo em casa, via redes sociais, a queda foi drástica. Ela revelou ao Farol que a semana passada não conseguiu vender um acarajé sequer, logo comprometeu bastante a renda. Luiza não foi contemplada com o auxílio emergencial e o esposo também é trabalhador informal.

”Agora, depois da pandemia, eu estou vendendo em casa, mas está muito difícil, essa semana mesmo eu não vendi nenhum. Tem dia que vendo 1, 2, às vezes passo 2, 3 dias sem vender nada. Eu tenho o WhatsApp dos clientes, quando eles querem eles pedem e quando não vão buscar eu mando o mototáxi entregar. Antes, era difícil um final de semana que eu não tivesse com R$ 400, R$ 500 reais livre e agora está difícil, mas quando Deus quiser que tudo volte ao normal eu volto de novo a vender na faculdade,” lamentou.

DETALHE DO PRATO

Apesar de ser um prato trabalhoso, para ela, os longos anos de prática tornaram algo fácil. De forma breve, ela comentou sobre o processo de preparação da massa e o que leva os recheios.

”Eu pego o feijão branco, cato, passo no moinho seco, sacudo as palhas, coloco de molho e quando ele incha eu vou lavar para tirar a palha todinha porque se não tirar fica amargando. Depois vou moer de novo e fica aquela massinha fininha, depois coloco num balde com uma colher de pau grande, coloca cebola e alho passado no liquidificador e vou bater. Cada vez que vou batendo a massa vai inchando e o acarajé fica bem fofinho, mas se não bater fica duro, depois faço o bolinho e asso no azeite de dendê”, revelou e acrescentou comentando:

”O vatapá e o caruru a gente coloca dentro do acarajé para rechear. Depois que assa o bolinho com a massa, parte ele e coloca o vatapá, ele é feito de farinha de trigo, castanha, amendoim, camarão, sardinha, cebola, alho, coentro e outras coisas. O caruru é feito só do quiabo, pega ele novinho, corta em rodelas, coloca para cozinhar com sal e vinagre para tirar aquele liga. Quando cozinhar, escorre e tempera com cebola, alho, castanha, amendoim e o azeite de dendê para ficar vermelhinho, tomante, pimenta, para quem gosta.”

PEDIDOS

Baiana do Acarajé recebe pedidos pelo WhatsApp (87) 99976-2232, tanto para fazer retirada, no bairro Nossa Senhora da Conceição, quanto para delivery.

Os valores são variados. Ela tem acarajé de R$ 10 reais, de R$ 12 reais, tem a porção de mini acarajé com 20 unidades por R$ 25,  de 15 unidades por R$ 20 e de 20 por R$ 25 reais.