Publicado às 05h22 deste sábado (27)

Por Paulo César Gomes, professor, escritor, pesquisador, mestre pela UFCG e colunista do Farol de Notícias

Na noite de ontem (sexta-feira,26) a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) anunciou que a cidade chegou à marca de 466 casos confirmados do covid-19, ou seja, 442 casos a mais do que foi registrados no dia 1º de junho, isso da uma média de quase 14 casos por dia.

A realidade é que estamos literalmente sentados em cima de uma bomba relógio preste a explodir a qualquer momento, porque à medida que os casos aumentam, o Hospam passa a ser a única alternativa de socorro para quem, infelizmente, venha a precisar. O problema é se vier a ocorrer uma superlotação na unidade. Ainda mais, muita gente aproveitou o São João para realizar confraternizações, principalmente na zona rural, e por isso não será surpresa se os casos aumentarem nas próximas semanas.

Mesmo com esse cenário, as barreiras sanitárias diminuíram, trava-se um debate pequeno e mesquinho por aqueles que poderiam estar lutando na mesma trincheira para vencer o coronavírus. O que estamos assistindo é um embate entre dois grupos políticos, que, de forma indireta, estão fazendo de uma questão de saúde pública uma das maiores pandemia da história da humanidade um ringue de luta política.

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O problema é que temos um Hospital de Campanha no meio do mato e da lama, sem um colchão para colocar um doente, e os leitos de retaguarda sem ter um espaço decente para poderem ser instalados. Sem contar que os hospitais privados fecharam as portas para os doentes do Covid. Parece até piada, mas esse é o famoso 4º Polo Médico do Estado de Pernambuco. Então sobrou tudo para as costas dos profissionais e das estruturas do velho Hospital Regional Professor Agamenon Magalhães, ironicamente, o espaço de saúde público mais criticado na cidade nas últimas décadas.

É válido registrar a falta de solidariedade e de respeito de diversos setores da sociedade em relação às vítimas do vírus. Desde o dia 10 de maio já morreram nove pessoas, nove seres humanos, e tantos outros serra-talhadenses faleceram em outras cidades do Brasil. Até agora não tivemos um gesto de solidariedade que represente a nossa dor pela partida de nossos irmãos. Nenhuma briga de família ou tragédia matou tantas pessoas em tão pouco tempo como o Covid-19 assassinou.

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Quantas vezes o comércio de Serra Talhada não fechou as portas em sinal de luto ou em respeito a uma pessoa que faleceu? Quantas vezes os políticos fizeram filas nos velórios e literalmente brigaram para segurar na alça de um caixão de alguém que morreu? É bem verdade que temos que evitar aglomerações, mas isso não quer dizer que as pessoas perderam a língua e os dedos.

Políticos, autoridades religiosas e do judiciário, poderiam no mínimo se manifestar em respeito à memória dessas pessoas. Muita gente não sabe sequer o nome, são vítimas anônimas, ignoradas em função do preconceito e da intolerância. Infelizmente, o nove que aparece nos boletins diariamente representa apenas um algarismo.

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Feito este desabafo, quero agora questionar as autoridades locais e regionais, independe de posição na hierarquia de poder. Caso venha ocorrer uma superlotação no Hospam e nem o Hospital de Campanha saia da maquete, e os leitos de retaguarda encontrem um abrigo, o que será feito para proteger a vida dos cidadãos e cidadãs serra-talhadenses e das cidades vizinhas?

O Ministério Público, o governador do estado, os deputados, os vereadores, o governo municipal vão fazer o quê? Assistir o crescimento dos dados estáticos? Ou vão de fato agir e resolver os problemas referentes à garantia de que seja oferecido mais leitos de retaguarda e de UTIs? Ou quem sabe, tomar uma atitude, ainda que seja mais radical, mas que de fato venham salvar pessoas, que é o fechamento da cidade. Mas, agora seria para fechar a cidade de verdade.