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Reportagem- Paulo César Gomes- Fotografias: Farol de Notícias/Alejandro García

o carnavalesco Joãzinho Trinta, levou para a Avenida Marquês de Sapucai, a passarela do samba do Rio de Janeiro, o enredo Ratos e Urubus, larguem minha fantasia! O desfile da escola de samba Beija-Flor entrou para a história por incorporar o lixo ao tradicional luxo das alegorias e adereços. Passados mais de 27 anos da inesquecível epopeia carnavalesca, o lixo voltou ser o tema principal do carnaval, só que agora em Serra Talhada. E ainda que alguns queiram ignorar ou fechar os olhos para o tema, a questão é muito mais séria do que se imagina.

Diante desse paradoxo entre o lixo e o luxo, eu, Paulo César Gomes, e repórter fotográfico do FAROL, Alejandro Garcia, visitamos o lixão  de Serra Talhada, que fica às margens da PE-390, para ouvir as pessoas que buscam no lixo uma forma de construir suas vidas. A matéria será editada em três partes.

O LIXÃO É FONTE DE RENDA PARA MAIS DE 40 FAMÍLIAS

O lixão de Serra Talhada é algo assustador. A síntese do local é  retratada pela enorme quantidade urubus que sobrevoam a região o em busca de alimentos. O mau cheiro é insuportável e pode ser sentido a mais de 1 km do local, um sinal de que ali não é o espaço o adequado para as pessoas trabalharem e muito menos morarem. No entanto, mais de 40 pessoas vivem naquele ambiente insalubre.

A área do lixão é de mais de 10 hectares, parte do lixo já está atravessando a rodovia, uma demonstração clara do aumento da produção de dejetos. Uma equipe da prefeitura vai ao local apenas para abrir caminho entres as montanhas de entulhos que se formam a cada despejo.

Zaquiel, de 34 anos, que há 13 anos trabalha como catador, relata a dura rotina. São seis coletas por dia, feitas depois que os carros do lixo despejam, e também os das empresas privadas que trazem muita coisa. “Tem dia que até a noite a gente trabalha. A gente sai catando os ferros, os alumínios e as garrafas de plásticos, porque são os que têm mais valor,” explica Zaquiel. O catador também descreve o sistema para adquirir os rendimentos, o ganho por produto, sendo que um catador pode chegar a fazer at R$ 700 por mês se for em um período bom.

Edinaldo Gomes da Silva, o Catimbau, de 55 anos, trabalha como catador no lixo a mais de 30 anos e é um dos mais animados catadores. “Eu chego a coletar de três a quatro sacos por dia”, nos conta o divertido coletor, que também mora no local.

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A FALTA DE SEGURANÇA É UMA AMEAÇA

O assunto lixão vem sendo discutido há muitos anos em Serra Talhada. Muitas promessas já foram feitas, mas até agora nada de concreto foi realizado para mudar a realidade de quem precisa sobreviver catando lixo. Os catadores trabalham sem nenhuma proteção, o que coloca em risco a saúde dos trabalhadores. Itens básicos como luvas, botas, capacetes e mascara de gás, não são usados por nenhum dos trabalhadores. A situação é preocupante porque os catadores podem adquirir inúmeras doenças infecto-contagiosas. “De vez em quando a gente fura ou corta a mão ou o pé com tampas de latas de sardinhas, pregos, cacos de vidros e até agulhas de seringas” narra Alexsandro de Lima.

O CARNAVAL DE QUEM VIVE NO LIXO

No final da entrevista, Zaquiel disse que iria passar o final de semana na cidade. Quando perguntado se estaria indo por causa do carnaval ele respondeu com bom humor. “Senhor, estou indo porque estou doente. Carnaval é pra quem pode”. Assim como Zaquiel, a maioria dos catadores dizem que não estão animados com o carnaval, deixando a impressão que a festa mais popular do Brasil é coisa de um outro mundo.

O que na verdade os deixa felizes por não usarem uma fantasia luxuosa ou estarem brincando em um sofisticado camarote, mas no que for deixado pelos foliões em avenidas, ruas e esquinas. Porque para eles, o luxo vem do lixo, pois infelizmente, dos restos deixados pelos outros que ele constroem a vida com dignidade e honestidade. Bom carnaval a todos e até a próxima!

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Edinaldo Silva, o ‘Catimbau’, mora no lixão