Fotos: Max Rodrigues/Farol de Notícias

Publicado às 05h33 deste sábado (3)

É fato que cada profissão tem sua relevância na sociedade e conforme o Sargento Fábio do 3º Grupamento de Bombeiros Militar de Pernambuco (GBMPE), uma das mais reconhecida é a de Bombeiros. Nesta sexta-feira, 2 de julho, foi comemorado o Dia Nacional do Bombeiro, data dedicada a esses profissionais que arriscam diariamente suas próprias vidas em prol de salvar a vida do próximo.

A reportagem do Farol visitou a sede do 3º Grupamento de Bombeiros em Serra Talhada para prestar homenagem à corporação e conversou com Fábio Guimarães Bezerra, Sargento do Corpo Militar de Pernambuco. Ele é bombeiro há 27 anos e serve no quartel da Capital do Xaxado há 17 anos.

”Dos Bombeiros remanescentes daqui de Serra, eu sou o que ainda está na corporação desde da fundação no prédio antigo. Chegamos aqui em meados de outubro de 2004. Éramos um tenente-coronel, um major e dois soldados, esses três foram embora para a reserva remunerada e eu ainda sou o remanescente daquela época, sou o mais antigo, em tempo, do 3º Grupamento de Bombeiros.

Sargento Fábio é natural de Recife, dos 27 anos de profissão, 11 anos ele serviu na capital trabalhando no Grupamento de Bombeiros de Atendimento Pré-Hospitalar. O bombeiro constituiu família na Capital do Xaxado, é casado há 15 anos e fez da cidade berço para os seus filhos serra-talhadenses. Todo esse tempo na cidade fez com que ele desenvolvesse um grande apreço pela Terra de Lampião e já se considera serra-talhadense.

DESAFIOS E PERIGO

Questionado, durante A entrevista, sobre os principais desafios da profissão, o Sargento Fábio se emocionou ao revelar que as ocorrências mais difíceis psicologicamente são as que envolvem crianças, principalmente quando elas não resistem e vêm a óbito, como no caso de duas crianças num desabamento em Recife vivenciado por ele durante a ocorrência.

”Quando nos deparamos com ocorrências que envolve crianças, a gente tem o maior apreço, a maior compaixão, a gente se sensibiliza mais, principalmente os Bombeiros que são pais porque a gente coloca como se fosse nosso filho que estivesse naquela situação. Comigo aqui não tive ocorrência com criança que não resistiu, mas em Recife, no período chuvoso, tem muito incidente com deslizamento de barreiras e a ocorrência que mexe com minha vida foi uma no Córrego do Boleiro, uma região de Casa Amarela”, revelou relembrando:

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”Esse córrego desabou na madrugada e foram soterradas cerca de 30 pessoas e a gente trabalhou demais para tentar resgatar o máximo de pessoas com vida. Eu estava já cansado, frustrado, não aguentava mais nada, foi quando a gente encontrou duas criancinhas. Conseguimos localizar elas só com a mão, sentimos o cabelo delas, cavamos, mas elas estavam mortas abraçadas. Acredito que na hora do deslizamento elas tentaram se proteger uma abraçando a outra para dar um apoio, mas infelizmente quando tem um deslizamento, a barreira já vem sobrecarregada de água. Então, não forma porções de ar, compacta e você fica sem oxigênio e a maioria dos casos vem a óbito.”

O receio dos perigos e do medo de morte acidental é uma realidade das famílias dos Bombeiros. Segundo o Sargento Fábio, no começo é mais difícil de aceitarem. Algumas  esposas não aceitavam, chegam ao ponto de pedir para eles trabalharem no administrativo porque correrá menos riscos, pedem para estudarem para  outros concursos e migrarem de área, no entanto, com o tempo começam a acostumar. Porém, quando ocorre casos como da perda de um companheiro desencadeia o medo novamente e eles têm que trabalhar o psicológico da família em casa.

”O meu filho mais velho tem treze anos e a gente faz um serviço com carro do IML e muitas vezes temos que viajar de madrugada e ele chora quando eu vou viajar de noite, pede para eu ter cuidado, pergunta porque eu estou fazendo isso e eu digo que é nossa profissão que temos que fazer porque se não fizermos não tem quem faça. Chamam o Corpo de Bombeiros para tudo que se possa imaginar e mesmo que a gente não faça temos que dar satisfação  a sociedade porque não é atoa que a profissão de bombeiro é a mais relevante e aceita por toda população brasileira e acredito eu mundial. A gente preza por um serviço de excelência, se eu não posso fazer o que você está me pedindo, mas vou te dar os meios”, disse, continuando:

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”Nossa profissão é muito perigosa, o serviço do Corpo de Bombeiros é diferente do serviço da polícia. O da polícia é um serviço ostensivo, tem que estar na rua para mostrar a sociedade para deixá-la com mais segurança. Quando a sociedade precisa dos Bombeiros é porque alguém está numa necessidade, alguém está passando por dificuldades. Nosso serviço é aquartelado e às vezes as pessoas comentam: ‘não, vocês ficam dentro do quartel.’ A gente fica aguardando e esperando que não haja uma chamada porque na hora que há é porque alguém está em dificuldade e vamos ao encontro para resolver esse problema”.

PERDA DE COMPANHEIRO DE CORPORAÇÃO

Infelizmente as perdas não são apenas das vítimas que eles prestam socorro, duramente precisam lidar com a perda de companheiros de corporação, afinal todos estão sempre em situação de perigo. O sargento falou sobre estas situações e também relembrou a perda do Sargento Felix que veio a óbito durante uma ocorrência.

”A gente vai para uma ocorrência de colisão de veículo numa BR, isolamos a área da maneira correta, mas infelizmente outros não respeitam. Já houve casos de pessoas violarem o isolamento, perder o controle e atingir guarnições nossas. Já perdemos amigos fazendo ocorrência de mergulho, mergulhou e não voltou mais, ficou enganchado lá embaixo, acabou o oxigênio, ele não subiu e quando a gente foi buscar ele já estava morto”, afirmou continuando:

”Ele era amigo nosso, o Sargento Felix, servia aqui com a gente. Essa ocorrência foi em Jatobá, na divisa com Paulo Afonso-BA. Foram fazer uma busca por uma pessoa desaparecida, fizeram busca, ele desceu, tinha muito mato e ele ficou preso. O rio estava muito turvo, não tinha uma visibilidade adequada, houve um problema num cabo e infelizmente ele veio a óbito e a gente perder nosso amigo, um brilhante mergulhador, experiente, forjado em Recife, serviu vários anos na Ilha de Fernando de Noronha. A gente se especializa numa área, mas infelizmente seguimos com o risco da vida nas operações, pode acontecer com qualquer um.”

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GRATIDÃO

Mesmo diante dos perigos os quais o Sargente Fábio e toda corporação estão sujeitos diariamente e ciente dos riscos da profissão, o bombeiro se sente grato por fazer parte do Corpo de Bombeiros e satisfeito por estar no agrupamento de Serra Talhada, cidade a qual considera sua terra. Ele também é grato a sociedade pela confiança e reforçou que estão sempre de prontidão para atendê-la.

”Trabalho muito satisfeito nessa região de Serra Talhada e hoje não quero mais voltar para a Capital e tudo que eu tenho é graças ao meu bom Deus e ao Corpo de Bombeiros. Eu fico triste porque nesse dia de hoje nós teríamos realização de solenidades militares e infelizmente por causa da situação desse período pandêmico fica impossível, mas logo logo, com fé em Deus isso vai passar, vai ser uma fase que vamos jogar no lixo e devemos esquecer para o resto da vida para poder ter um recomeço”, disse, reforçando:

”Eu só tenho a agradecer ao Corpo de Bombeiros porque ele transforma uma pessoa que tiver algum problema no coração, se tiver um coração ruim, o Corpo de Bombeiros transforma numa pessoa boa porque a missão é de salvar.  Eu quero agradecer a toda sociedade pelo respeito, pela consideração que tem por nós Bombeiros e dizer que nós do 3º Grupamento de Bombeiros que atendemos essa região e temos mais quatro SBs que são seções de Bombeiros, uma em Belmonte, uma em São José do Egito, uma em Afogados da Ingazeira e outra em Petrolândia que a gente está aqui para bem servi-lá e que a hora que precisar pode ligar 193 que nós iremos atender com o maior prazer e a maior satisfação.”