Fotos: Farol de Notícias/Max Rodrigues

Publicado às 05h47 desta sexta-feira (28)

O Farol de Notícias revela a trajetória de uma das maiores educadoras serra-talhadenses, Vilma Maria Vieira Jurubeba. Ainda muito nova Vilma Jurubeba foi para Recife fazer o magistério e em seguida o curso de pedagogia, uma jovem cheia de sonhos que voltou para a Capital do Xaxado em grande estilo. Já foi alfabetizadora de crianças, jovens e adultos, professora do ensino básico, professora de graduação, coordenadora pedagógica, gestora e secretária municipal de Educação. Vilma tem um legado respeitável e se sente realizada com tudo que já conquistou.

Ela se apaixonou pela área logo de cara. Já sabia o que queria quando escolheu o magistério e assim que começou o estágio percebeu a importância de se trabalhar com educação. Acredita em uma educação transformadora e sua luta começou cedo. “Quando eu fui fazer o curso de magistério em Recife, eu fiz até o 1° grau como era antigamente, aqui em Serra Talhada, fui aluna do Cornélio Soares, o que a gente chama de 9° ano era o 4° ano ginasial, terminei no Cornélio Soares e fui para o Recife. Fiz a opção por magistério e fui estudar com as Dorotéias no Colégio São José, fiz todo o meu curso de magistério com elas. Quando eu escolhi a opção de magistério eu já sabia exatamente que eu queria ser uma educadora, terminei o curso de magistério e entrei para a Universidade Católica de Pernambuco no curso de Pedagogia”, afirmou Vilma acrescentando:

“Quando eu comecei já trabalhando como estagiária no magistério eu fui vendo a carência das pessoas, fui vendo o quanto a educação era importante, porque quando você educa, orienta a pessoa vai mudando de comportamento, eu acredito que educação só é educação quando ela se transforma em mudança de comportamento. Enquanto você não consegue mudar o comportamento, conscientizar a pessoa que aprender é importante, que através da educação ela vai evoluir como pessoa, ela vai progredir profissionalmente, isso é interessante, isso é muito importante. Você se preocupar com o bem-estar do outro, essa é a grande função, o grande objetivo do educador.”

DE VOLTA À CAPITAL DO XAXADO

Assim que se formou a professora, Vilma Jurubeba retornou à sua cidade natal e já começou a trabalhar como gestora do Colégio Municipal Cônego Torres. Também foi convidada a trabalhar na Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada (Fafopst). Muitas responsabilidades e aprendizados fizeram parte de do início de sua trajetória.

“Eu terminei meu curso de graduação e vim ser gestora do Colégio Municipal Cônego Torres, nesse mesmo período eu fui convidada para ser professora da Faculdade de Formação de Professores de Serra Talhada. Depois eu sai da gestão do Cônego Torres e fui para a gestão da Escola Estadual Irmã Elizabeth, onde fiquei por um bom tempo e agradeço muito aquela equipe que trabalhou comigo, uma equipe maravilhosa de professores, de alunos, de funcionários, todos, os funcionários administrativos, pessoas que faziam a escola crescer. Porque você tem que entender uma coisa, em educação se você não tiver uma equipe comprometida, você não desenvolve seus projetos e era isso que eu sempre passava para a equipe da escola nós somos a Escola Irmã Elizabeth, tudo depende do nosso trabalho, uma coisa muito importante é o compromisso”, detalhou a educadora complementando:

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“Para trabalhar em uma escola com mil alunos, tem que se envolver e outra coisa, na rede estadual, nós que somos professores da rede estadual, da rede municipal, trabalhamos com pessoas carentes, o nosso compromisso é bem maior por conta das carências sociais, nós vivemos em uma sociedade elitista, a desigualdade social é muito grande e a escola deve pelo menos procurar amenizar essa dificuldade, essa desigualdade fazendo um trabalho de qualidade, o que é educação de qualidade? Nada mais, nada menos do que você operacionalizar projetos importantes e que atendam as necessidades da sociedade, nós não trabalhamos para pessoas bem de vida, que já estão totalmente inseridas na sociedade, nós temos que trabalhar com pessoas que ainda precisam serem inseridas nessa sociedade através da educação e educação de qualidade.”

DEDICAÇÃO E COMPROMISSO COM A EDUCAÇÃO 

Vilma Jurubeba foi aluna da Escola Cornélio Soares e voltou como gestora, trabalhou 18 anos no cargo, sempre teve orgulho da sua equipe de professores e todos os funcionários administrativos. O desafio foi gigante, afinal era a maior escola de Serra Talhada, muitos alunos e professores e todos unidos com um só objetivo de fazer história na educação serra-talhadense.

“Quando eu sai da Escola Irmã Elizabeth eu fui convidada para assumir a gestão da escola Cornélio Soares, a maior escola de Serra Talhada com todos os graus de ensino, o ensino fundamental desde a primeira série até a 8º, o ensino médio e o curso de magistério, então eu assumi também o Cornélio Soares e foi lá a minha maior trajetória como gestora educacional porque foi lá que eu tive a oportunidade de trabalhar mais, uma escola com 2 mil alunos, 65 professores, fora os funcionários administrativos, então era uma cidade e nós tivemos a sorte mais uma vez, a grande alegria de ter uma equipe valorosa, professores, alunos, funcionários administrativos, funcionários pedagógicos”, ressaltou Vilma Jurubeba completando:

“É preciso que você seja uma pessoa comprometida com o trabalho, é preciso que você goste de trabalhar com educação, porque caso contrário vai se tornar para você uma tarefa cansativa e quando a gente gosta do que faz a gente não cansa nunca, aquilo ali se torna um prazer e isso é importante. Eu terminei minha carreira na rede estadual como professora do Cornélio Soares, eu deixei a gestão porque completou meu tempo de serviço e voltei para a sala de aula até sair minha aposentadoria na rede estadual”.

O ENSINO SUPERIOR 

A educadora conseguiu construir uma carreira grandiosa, indo da alfabetização até o ensino superior. Ela pontuou algumas diferenças, mas afirmou que não existe uma preferência, pois cada etapa da educação é única e assim cada experiência é um degrau para o crescimento como profissional.

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“O aluno do ensino superior ele já tem um nível de escolaridade mais avançado e o aluno do ensino médio, do ensino fundamental ele ainda está em formação de aprendizagem, está começando a fazer aquela base de conhecimentos até ele chegar no nível superior. O importante para o professor é saber exatamente se localizar na realidade que ele está, se estou em uma sala do ensino superior é lógico que minha prática pedagógica vai ser uma prática de acordo com o nível dos meus alunos até porque meu vocabulário tem que ser outro e quando eu estiver em uma sala de aula com meus alunos do ensino fundamental e com meus alunos do ensino médio o meu vocabulário vai atender as necessidades de aprendizagem desses alunos”, pontuou a professora acrescentando:

“Eu passei por todos os níveis de ensino que uma professora pode passar. Eu ensinei da alfabetização até o nível superior. Em Recife fui alfabetizadora de crianças, também alfabetizei jovens e adultos, que eram pessoas que tinham a necessidade de aprender, eram pessoas adultas, jovens que não conseguiam trabalho porque não sabiam ler nem escrever e nós fomos para esse trabalho.”

A LUTA POR UMA ESCOLA INCLUSIVA

Algo que ficou muito marcado em sua carreira foi a luta pela educação inclusiva, onde Vilma Jurubeba lutou para trazer para a Escola Estadual Cornélio Soares professores capacitados para alfabetizar deficientes auditivos. Assim a escola deu um ponta pé inicial em toda a região, chamando alunos para que pudessem ter a oportunidade de aprender a ler e escrever para maiores chances de trabalho no sertão do Pajeú.

“Outra coisa muito importante no Cornélio Soares foi quando elaboramos um projeto para educação especial, nós começamos com os alunos surdos. Aqui em Serra Talhada, devido aos casamentos entre familiares surgiram muitos problemas de pessoas surdas nas famílias e essas pessoas, inclusive já pessoas adultas, elas não tinham como ir para escola, elas eram pessoas analfabetas, então nós elaboramos um projeto junto a professora Luciene Pulça, ela foi para o Recife fazer uma especialização em linguagem de sinais”, detalhou com muito orgulho, acrescentando:

“Nós fomos para as rádios, conclamamos as famílias onde existia esse problema e nós tivemos a oportunidade de ter alunos adultos e alunos pequenos na mesma sala de aula e foi assim um projeto vitorioso porque se conseguiu inserir esses alunos no ensino fundamental regular. Quando esses alunos foram alfabetizados, conseguiam ler e nós tivemos a oportunidade de desenvolver para reles o conhecimento da leitura labial, então eles conseguiam ir para uma sala de aula regular, porque eles liam o lábio do professor.”

EDUCAÇÃO NA ATUALIDADE

A educadora ainda afirma que a educação brasileira vem sofrendo por conta de muitos valores sociais que foram se perdendo ao longo do tempo. Para ela não é nada fácil conseguir êxito nos estudos quando a estrutura básica familiar se rompe, pois o trabalho deve ser conjunto entre escola e família.

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“Nós temos que nos conscientizar do seguinte, são outros tempos, são outras situações sociais, nós estamos passando por uma pandemia, o mundo todo está perplexo com essa pandemia e os valores sociais mesmo antes da pandemia mudaram muito. Os valores sociais que nós desenvolvemos, que nós trabalhamos, hoje eles têm outro significado, eu percebo isso que as pessoas dão outro significado a valores sociais, valores familiares, o que eu vejo hoje com muito pesar é que as famílias estão se dilacerando, o pai deixa a mãe, a mãe deixa o pai e os filhos ficam naquela situação como se sabe, com quem os filhos vão ficar? Aí vem o juiz para determinar, isso é terrível para as famílias, principalmente para os filhos que ficam sem assistência do pai, muitas vezes ficam o pai sem assistência da mãe, isso quando é uma separação amigável e quando é uma separação litigiosa o problema é bem maior. Hoje é muito difícil a situação das relações sociais, do entendimento”, disse Vilma, acrescentando:

“Hoje está faltando muito na nossa sociedade o diálogo, através do diálogo você consegue muita coisa, eu aprendi isso quando eu fui secretária de educação de Serra Talhada, no governo de Dr. Carlos Evandro, outro trabalho maravilhoso, equipe sensacional, os professores da rede municipal de Serra Talhada são competentes e comprometidos com a educação, nós não deixamos de realizar , de operacionalizar nenhum projeto, porque todos os projetos tiveram a adesão dos professores da rede municipal e nós crescemos, nós temos parcerias com o ministério da educação.”

O LEGADO

Vilma Jurubeba encerrou sua carreira deixando um legado de conhecimentos para muitos educadores da região. Deixou memórias afetivas com os alunos e hoje tem muito orgulho de toda sua dedicação. Nada é em vão quando todo o esforço é feito por amor, uma mulher que nasceu para educar, aprender e ensinar só dá orgulho a todos que tiveram a honra de tê-la, seja como gestora, seja como professora.

“Educação é parceria, educação é diálogo, educação é doação, educação é compromisso. Eu tenho mais orgulho do que arrependimento, arrependimento eu tenho do que eu não pude fazer, porque muitas vezes não depende só de você realizar as coisas, você depende de outras pessoas, agora eu digo a você eu sou uma pessoa realizada, em educação eu passei por todos os caminhos, por todas as fases, eu fui professora, eu fui coordenadora pedagógica e eu fui gestora e terminei como secretária municipal de educação, passei por todos os cargos da profissão e isso é muito bom, nos dá respaldo e nos dá muita experiência. Eu sou uma pessoa realizada como educadora”, afirmou.