Fotos: Farol de Notícias / Celso Garcia

Publicado às 04h55 desta terça-feira (31)

Pelas idas e vindas de Serra Talhada, sempre há uma bela história para contar. O perfil de hoje vem do bairro Cagep, o distinto senhor Adinarto Bernardo da Silva, 62 anos, nascido em Sertânia e vindo para Serra Talhada de jumento com os pais aos 12 anos de idade. Cresceu junto com os outros sete irmãos vendo o pai ‘Seu José Ozório’ vigiar a cidade e tomou para si o ofício do cuidar.

Apelidado de ‘Parêa’, pois é assim que trata a todos que lhe arrodeiam, o nobre vigilante trabalhou por 35 anos nos bairros da cidade, com uma bicicleta e um apito observando as casas e cuidando para que ninguém mexesse em seus clientes. Junto com outros 22 companheiros ganhavam R$ 200,00 por semana para dividir por todos. Cada um ficava com cerca de R$ 30,00 para pagar as contas e se alimentar.

Aos 22 anos casou com a mãe de seus cinco filhos, com quem viveu 26 anos. Após a dolorosa separação, passou por muita dificuldade, ficou sem nada e foi acolhido por bons homens que chama de amigos. Até fome passou, catou comida do lixo de bairros chiques para sobreviver. Em conversa franca com a reportagem do Farol de Notícias desabafou que há 7 anos sua vida mudou e empregado pelo município cuida da Creche Francisco Epaminondas Torres, no bairro Caxixola.

Veja também:   Caminhoneiro perde o controle e carga em PE

“A minha história, moça. É uma história muito bacana. Eu trabalhava de servente na rua, fazendo calçamento. E um caba disse: ‘Parêa, tu quer trabalhar vigiando a rua?’, e eu disse: ‘quero!’. E fiquei na rua trabalhando na faixa de 35 anos, passei muita coisa. Fazia AABB, Cohab, Mutirão, eu tinha uma equipe de 22 pessoas. Andando de bicicleta, era aqueles guardas com o apito. Até resto de comida que estava na rua a gente pegava e comia, porque não tinha outro meio. O dinheirinho era muito pouco, ganhava R$ 200,00 por semana para dividir por tudinho. A gente chegava nas casas e pedia mesmo ajuda, davam macarrão e dava arroz”, relembrou Adinarto, já emocionado:

Veja também:   Defesa Civil reconhece situação de emergência

“Deus me ajudou que eu achei um ‘fi de Deus’ que eu fiquei ajudando na prefeitura. E ele viu que eu estava sofrido, e esse sargento do exército foi quem me ajudou, eu não lembro mais como é o nome dele, ele era do Rio Grande do Sul, e me deu cama, fogão, máquina de lavar. Depois dois guardas amigos meus me ajudaram, Marinho e Gilson, viram minha história e me ajeitaram conseguiram esse emprego pela Prefeitura e eu estou como vigia tem 7 anos já. Já trabalhei em outras escolas e nessa creche já tem uns 6 anos. Devo muito favor a Luciano Duque e Márcia Conrado, que me ajeitam. Eu sou uma pessoa analfabeta e eles me deram essa oportunidade. Meus filhos já são tudo criado, casado. Tem um deles que é pastor, o outro mataram”.

VIGILANTE YOUTUBER

Com a veia artística da família, Adinarto Eduardo, ou o famoso ‘Matuto dos Pés Rachados’, criou um canal do Youtube para dublar gravações de suas canções favoritas, que compartilha com seus amigos e colegas de trabalho. Incentivado por outros artistas da cidade, João Carlos, seu primo; o poeta Cícero de Souza; e Cosmo dos Teclados, Parêa se diverte produzindo com frequência conteúdo para a plataforma.

Veja também:   Betânia distribui 4 toneladas de peixes

“Rapaz, Cícero de Souza só vive lá em casa, João Carlos, Cosminho. Eu moro na Rua Dr. Carlos Chagas da Cagep e eles são uns ‘cabas’ que me ajudam bastante. Domingo agora almocei mais eles e sabe que minha história é muito sofrida. E eu estava no mato, e me deu aquele negócio: ‘rapaz, faz o vídeo do Matuto dos Pés Rachado’. E eu fiz, peguei e soltei. Comecei a cantar e tá aí graças a Deus esse sucesso”, afirmou com orgulho de seu canal.