Ratos, baratas e muita falta de higiene na cadeia pública de Serra Talhada. Esta é a primeira  imagem de quem visita a unidade prisional, que ao invés de recuperar o condenado amplia seu estado de humilhação diminuindo sua autoestima. Como se não bastasse, a superlotação revelam dados assustadores: 96 detentos estão acumulados em apenas nove cubículos mofados e sem ventilação.

Em média, 11 presos dividem cada cela, que nessas condições assemelham-se a  masmorras. “Aqui é o inferno”, revela um dos presos, que pediu para não ser identificado. Em virtude da superlotação, foi criado  um “rodízio” para passar a noite. Enquanto uns dormem em colchões de segunda categoria, outros deitam no chão e um terceiro grupo repousa nas chamadas “pedras”, uma espécie de dormitório-gambiarra.

Passar o dia na cadeia de Serra Talhada é estar em  contato constante com doenças. Um dos exemplos é a cisterna existente no local que nunca foi limpa, mas que é utilizada por todos os presos. Eles utilizam a água para beber, cozinhar e limpar as celas. O reservatório contém grande número de baratas e a aparência de imundicie é gritante.

As irregularidades não param por aí. Caso ocorra um incêndio, existem poucas chances de sobrevivência porque nenhum dos extintores funciona. Para agravar ainda mais a situação, não há sequer bacias sanitárias nas celas. Os presos, em sistema de rodízio, precisam se espremer entre os outros para defecar dentro de uma vala estreita cavada no cimento. ” Há situações em que não dá tempo nem de chegar ao banheiro”, diz um outro detento.

VISTORIA

Promotor e vereadora realizaram vistoria surpresa

Na última terça-feira (7) a vereadora Vera Gama (PHS) e o promotor de Justiça Vandeci de Souza Leite, realizaram uma visita surpresa na cadeia pública e ficaram espantados com o cenário encontrado. Além de anotarem todas as irregularidades, a parlamentar e o promotor escutaram um verdadeiro “rosário” de lamentações.

“Tem um senhor com 85 anos de idade com uma bolsa de colostomia sem receber qualquer assistência médica aqui”, disse Vera Gama, afirmando que os presos não recebem assistência médica e nem odontólogica. “Foi muito triste ver tudo isso. Nenhum ser humano merece este tipo de tratamento. Eles foram condenados para serem ressocializados. O que existe é um abandono total”, lamentou Vera.

Ela já enviou dois requerimentos ao Governo do  Estado pedindo a ampliação da cadeia e um tratamento mais humano aos detentos. “Não descansarei até conseguir. Esta não deve ser uma luta minha ou do promotor. Mas de toda a sociedade”, diz a vereadora, que fez o convite ao promotor para realizar a vistoria.

Por cerca de duas horas, o promotor e a vereadora visitaram todas as celas, conversaram com os presos e fizeram fotos das  irregularidades constatadas. Segundo o promotor Vandeci de Souza Leite, uma das primeras medidas a serem tomadas é separar os presos pela tipificação do crime. Hoje, detentos considerados muito perigosos convivem na mesma cela com pessoas que cometeram crimes leves.

Uma reunião será marcada nos próximos dias com representantes de igrejas, vigilância sanitária, diretor da cadeia pública e a vereadora Vera Gama  para tentar solucionar alguns dos problemas constatados na cadeia pública da cidade. “Há problemas inclusive com relação ao banho de sol. Vamos ter que resolver pelo menos isso”, garantiu Vera Gama.