Publicado às 05h57 deste domingo (4)

A reportagem do Farol foi conhecer a história do sapateiro de rua mais novo de Serra Talhada, André Pereira, 40 anos. André recebeu o ofício do seu pai que recebeu do pai dele, já são três gerações de muito trabalho e tradição nas ruas de Serra Talhada.

André trabalhava de pedreiro, mas quando seu pai adoeceu pediu a ele para que continuasse o seu trabalho e ele atendeu o pedido por amor e respeito, depois de mais de uma década, ele continua na banquinha que um dia foi de seu avô.

“A banquinha vem passando de família, meu avô foi sapateiro, meu pai e agora eu. Trabalho como sapateiro há 13 anos, a profissão vem do meu pai que trabalhou por mais de 20 anos, ele teve AVC, como não pôde mais trabalhar eu tomei de conta. Eu trabalhava de pedreiro, mas com o pedido dele, que gostava muito daqui, era a paixão dele então comecei a exercer a profissão dele e hoje é o meu ganha-pão”, detalhou o sapateiro acrescentando:

“Não é uma profissão valorizada, as pessoas hoje em dia acham que por estar trabalhando consertando calçados, elas acham que não é uma pessoa adequada para um relacionamento ou outras coisas, mas, todo trabalho é digno o que vale é ganhar dinheiro”.

A PANDEMIA

Para André, assim como para milhares de brasileiros que trabalham de forma artesanal, a pandemia prejudicou muito a procura pelo serviço. O dinheiro do auxílio não dá para se manter e tudo fica mais complicado, mas ele segue na luta.

“Nesse período de pandemia foi difícil demais, me senti agoniado demais, para quem paga aluguel mesmo, hoje estão pagando R$ 150, para quem paga um aluguel de R$ 200 não dá para nada e a barriga? Tem água, luz, em cima de R$ 150 não estou reclamando, mas acho que o governo devia olhar mais isso, para fazer um seleção de quem tem e quem não tem, eu vivo disso aqui, é a minha profissão se eu sair daqui eu tenho que correr para casa dos parentes para comer. No dia que aparece cliente eu tenho um dinheirinho, no dia que não vem cliente eu fico sem”, afirmou.

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A CLIENTELA

O sapateiro não tem só clientes na Capital do Xaxado, vem gente de Recife a procura de seus serviços e ele diz com orgulho que procura sempre fazer o melhor para o seus clientes. São técnicas e dedicação aplicadas em sua mão-de-obra, é um trabalho minucioso.

“Tenho muitos clientes fieis, tem gente de Recife, de Caruaru, ligam para mim avisando que estão vindo para eu consertar os sapatos. Eu busco trabalhar bem, fazer um serviço bacana, eu troco o solado dos coturnos dos policiais, faço todo tipo de conserto, engraxo também. Com certeza eu me sinto feliz com o meu trabalho, é uma coisa que eu gosto de fazer e estou ganhando meu dinheiro, é um trabalho honesto, eu prefiro estar trabalhando aqui do que estar por aí praticando o que não presta, isso não é de Deus, Deus fala que a gente tem que trabalhar e viver do seu suor e é dele que eu vivo”, afirmou André completando:

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“Muita gente joga os sapatos fora, eu penso que é porque tem condições de comprar outros, mas, muitos trazem para eu consertar, só que no momento dessa pandemia mesmo muita gente ficou cismado de vir, eu tinha bastante cliente, as pessoas ficaram mais em casa, os da zona rural não quiseram vir mais, foi onde dificultou muito para mim”.

O MAIS JOVEM SAPATEIRO DA REGIÃO

Os sapateiros de rua já salvaram muitos perrengues no centro de Serra Talhada, uma sandália que descola, uma correia que se quebra, não importa sua classe social, sempre é o sapateiro quem vai ajudar nesses momentos. Mas, a verdade é que a profissão está quase extinta, ao todo são 5 sapateiros de rua e uma cidade com mais de 80 mil moradores. André é o mais jovem deles e lamenta que quando ele precisar parar, não terá mais nenhum sapateiro no centro da cidade.

“Somos 5 sapateiros aqui em Serra Talhada e é a única cidade da região que ainda tem sapateiros trabalhando na rua, dando assistência quando algum calçado tora na rua, muitas cidades como Princesa, Floresta, Salgueiro, sem contar as outras cidades, todas vem para cá. O pessoal gosta muito de correr boi no mato e as botas descolam, eles sabem que em Serra Talhada tem os sapateiros”, ressaltou o sapateiro, complementando:

“Aqui nesse local já tem sapateiros há mais de 30 anos, o mais jovem sou eu, os outros estão passando dos 55 anos e logo logo estão parando, para eu que sou mais jovem vou continuar, mas um dia eu também vou ficar velho e quem vai vir no nosso lugar? Acho que é uma tradição que vai acabar. Muitos deveriam dar valor e saber que faz parte do comércio de Serra Talhada, não é todo canto que tem sapateiro, aqui cada um tem seu pontinho, a prefeitura sabe do nosso trabalho, quando os mais velhos pararem só fica eu, que logo chego aos 50 anos, quero viver até os 100 e vou parar e não vai ter quem continuar”.

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Mesmo com todas as dificuldades, a falta de valorização financeira e também a falta de reconhecimento da sua profissão, André esbanja alegria com o que faz, se sente honrado de ter herdado o dom de seu pai, pois ele tem um trabalho digno.

“Estando com saúde eu sou feliz em tudo, meu trabalho é digno, eu faço o que eu gosto e é aqui que Deus me abençoou e vou continuar. O que vem no coração das pessoas, que elas façam, o que elas sabem fazer, façam sem medo e se você trabalha com artesanato faça seu artesanato, não ligue para as criticas. Olhem para quem quer trabalhar, quem ficou para olhar bandido foi a polícia, a sociedade tem que olhar para quem trabalha”, afirmou.