Publicado às 18h40 desta quinta-feira (28)

Nesta semana Serra Talhada foi abalada por dois casos de suicídio que mexeram com a população e reacenderam a luz amarela em atenção à saúde mental. Na última segunda-feira (25), no bairro Bom Jesus, e nesta quinta-feira (28), na Caxixola, foram registrados casos envolvendo enforcamentos de pessoas jovens.

Preocupado com a incidência deste fenômeno aterrador, o Farol de Notícias buscou a opinião de especialistas sobre a depressão e psicopatologias que podem levar uma pessoa tentar tirar a própria vida. Também conversamos com um jovem em tratamento de depressão e transtorno de pânico que tem superado os efeitos negativos da doença.

“A CADA 4 SEGUNDOS, UMA PESSOA SE SUICIDA NO MUNDO”

No Brasil, foram registrados 13.467 casos de suicídio em 2016, segundo a OMS. O médico especialista em Psiquiatria, Jaime Santana, com 43 anos de experiência em seu consultório e cerca de 6 anos atendendo no CAPS Transtorno de Serra Talhada, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, é uma das referências da área na cidade e chamou a atenção para a necessidade de mais informação sobre doenças mentais e a procura de tratamento como peça chave para a prevenção ao suicídio.

“A cada 4 segundos uma pessoa se suicida no mundo. Temos campanhas como o Setembro Amarelo que chama muito a atenção para a depressão e a prevenção ao suicídio, no entanto carecemos de mais informação. É necessário falar sobre o assunto. Quando soube do caso dessa quinta-feira (28) busquei mais informações sobre a pessoa, se havia sido meu paciente em meu consultório ou no próprio CAPS onde atendo, mas infelizmente não obtive detalhes. As pessoas ainda resistem a procurar ajuda profissional, ou por medo ou por vergonha evitam. E infelizmente, os resultados têm sido esses. O conhecimento sobre a doença e o apoio de familiares, amigos e entes queridos também deve fazer parte do cotidiano de um paciente”, afirmou Dr. Jaime.

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O QUE DIZ A PSICOLOGIA?

A psicóloga Adriana Fernanda, de 24 anos, que atua há dois anos em seu consultório e na Apae Serra Talhada, comentou que a incidência da depressão e de psicopatologias é cada vez maior devido a negligência do tratamento. Segundo ela, outras patologias também podem desencadear tentativas e até mesmo atos de suicídio como: transtorno bipolar, transtorno depressivo maior, transtorno de personalidade borderline e etc.

“A depressão é apontada como o mal do século e se configura como principal doença para desencadear o suicídio. Os sentimentos de desesperança – consigo, ao redor e sobre o futuro – acabam dando lugar a uma vida repleta de incertezas e dores que não conseguem imaginar um outro fim a não ser tirar a própria vida. A psicologia procura acolher o sujeito em sofrimento. Tratar o suicídio é um termo genérico, uma vez que sua causa é multifatorial, logo o tratamento consiste na identificação de problemas que geram o ato de suicídio. O tempo de tratamento depende bastante de cada caso. Em terapia cognitivo comportamental o tratamento dura de 5 a 6 meses, tempo esse que prioriza psicoeducar. Além da terapia, quando diagnosticado outro transtorno como depressão associado, é necessário a terapia medicamentosa junto com a psicoterapia”, elucidou.

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A VOLTA POR CIMA

Nenhum diagnóstico de depressão deve vir acompanhado a uma carta de despedida. É possível vencer a doença e voltar a levar uma vida normal. O Farol tentou garimpar histórias que contassem o lado positivo desta luta. Encontramos um jovem estudante (que iremos preservar sua identidade), de 26 anos, que realiza tratamento com psiquiatra e psicólogo há cerca de três meses em Serra Talhada. Segundo ele, o tratamento não é milagre, mas o possibilitou o autoconhecimento e o retorno para atividades cotidianas.

“Passei cerca de dois anos me isolando mais e mais, dia após dia. Eu tinha o hábito de sempre esperar passar qualquer coisa que sentia, desde uma gripe, até algo mais sério. Mas isso nunca passava, até o momento que comecei a ter pensamentos em relação a me machucar, querer dar um fim ao que sentia, tentar alguma coisa para passar. E estar com depressão é diferente de tudo que já havia lido ou ouvido em palestras. A depressão é muito romantizada, mas o tratamento ajuda muito. Falo por mim, não é milagre. Há dias que estou bem e consigo fazer tudo, mas há dias que os pensamentos voltam”, relatou o jovem, continuando:

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“Mas foi com o tratamento com a psicóloga, a cada 15 dias pelo SUS, e a medicação prescrita pelo psiquiatra, que passei a me conhecer mais. A cuidar de mim, evitar os gatilhos, lugares e situações que me causavam pânico. Quando não estou com a psicóloga procuro escrever, desenhar e ouvir música, em busca de uma ocupação. Hoje sei como evitar lugares, pessoas e ações que me fazem mal. Percebo também que nos dias bons eu consigo pagar uma conta ou ir ao mercado, mas há ainda os dias ruins que não posso fazer isso. Como eu disse, é por dia”.