Foto: Farol de Notícias/Jéssica Guabiraba

Publicado às 05h10 desta quinta-feira (23)

Nessa quarta-feira (22) o Farol de Notícias publicou o pedido do professor serra-talhadense, recém-formado e desempregado, Cícero Marinho dos Santos, 28 anos, morador do Sitio Conceição do Meio, em Serra Talhada (relembre aqui). Com a repercussão da matéria ele conseguiu o valor que precisava para fazer a prova em Arapiraca (AL). O professor visitou a redação do Farol, para agradecer, e contou sua árdua luta para conseguir se formar e afirma que quer honrar cada um que o ajudou.

“Eu sempre tentei fazer o ENEM, nunca consegui passar, fiz 7 vezes e nunca consegui o meu objetivo que era entrar em uma universidade pública. Certa vez tentei entrar em Licenciatura em Matemática na Fafopst, mas não tive coragem de fazer o vestibular, em 2016 me deu a vontade de fazer o vestibular na Fafopst. Fui fazer, mas quando eu fiz a inscrição faltava só 3 dias para a prova, eu não tinha estudado tanto, eu até disse a minha que tia que iria fazer a prova, mas que sabia que não passava, assim como Gil do Vigor disse, em Ana Maria Braga, que ninguém acreditava nele, era como eu que ninguém acreditava em mim”, explicou o professor, acrescentando:

“Fiquei na casa de meus parentes aqui na cidade, para fazer a prova, um dia fui para a casa de meus vizinhos que tinham uma venda e eles perguntaram se eu tinha passado, quando foi de tarde uma pessoa da venda ligou para a faculdade e perguntou se eu tinha passado e falaram que eu tinha passado, na hora eu não acreditei, eu fiquei 10 minutos em pé sem acreditar, todo mundo me aplaudindo e eu não acreditei. Fui para casa e disse a minha mãe que não tinha passado, ela disse “tá bom, eu sabia”, foi quando eu disse que era brincadeira e que tinha passado, ela ficou muito animada e perguntando se eu tinha passado mesmo”.

“SE VIRE” FOI O QUE ELE ESCUTOU POR NÃO TER DINHEIRO

Com toda a dificuldade para entrar na faculdade ele ainda estava por enfrentar algo pior, que era o fato de não ter dinheiro. Cícero não sabia que tinha que pagar a matrícula e ao pedir para pagar depois ainda foi humilhado por uma funcionária da Fafopst, mas ele não desistiu, saiu procurando dinheiro emprestado até que conseguiu e voltou para fazer a sua matrícula.

“Outra bronca foi a matrícula, porque para entrar na faculdade tinha que pagar a matrícula e eu não tinha nem 1 centavo, eu pensava que quando chegava lá não ia pagar, na época custava R$ 290 fui bater na coordenação para ver se conseguia bolsa, perguntei se podia pagar depois e nunca vou esquecer o que a mulher me disse que foi “se vire, aqui não fazemos fiado”, eu andei por toda a cidade para arrumar dinheiro emprestado, fui numa igreja evangélica e ninguém emprestou, o único lugar que consegui foi numa padaria perto da prefeitura, um senhor que estava lá me emprestou o dinheiro, eu tinha uns carneiros em casa acabei vendendo e devolvendo o dinheiro da matrícula ao senhor, mas foi muito sofrimento”, relatou.

NÃO CONSEGUIU A BOLSA

Foram 8 períodos de muita luta para conseguir a formação, arrumou uma dívida e até pensou em desistir, mas levantou a cabeça e conseguiu ajuda de uma pessoa para poder pagar as mensalidades. “Eu acreditava que tinha bolsa, quando eu entrei na faculdade foi no período que o governo do estado tinha o problema com o Proupe, acabei arrumando uma dívida grande, pensei em desistir, só que meu professor Ferreira Jr. me disse uma coisa, “quem desiste é fraco”, e eu coloquei na minha cabeça que se eu desistisse eu seria fraco, fui buscar ajuda de uma pessoa e essa pessoa me ajudou na faculdade e assim eu consegui concluir o curso”, ressaltou.

A DIFICULDADE DE MORAR LONGE

Outro problema que Cícero Marinho teve durante a graduação foi o fato de morar no sítio, com isso ele dependia do transporte que é oferecido aos alunos da rede estadual. Ele relatou que a sorte foi ter parentes em Serra Talhada, porque se não teria dormido na rua várias vezes, pois tinha dia que todos os alunos eram liberados 1 hora antes dele.

“Eu consegui o transporte público para vir para Serra estudar, mas o carro vinha com os estudantes, muitas vezes os alunos saiam às 20h30 e eu só sai às 21h30, minha sorte é que eu tenho parentes na cidade, se não eu teria ficado muitas vezes na rua, tinha dia que eu tinha que sair correndo no meio da rua para ver se conseguia pegar o transporte”, revelou.

A COLAÇÃO DE GRAU

Para Cícero a colação de grau foi um momento muito especial, pois muitas vezes pensou em desistir e ver seu diploma se tornando real foi muito gratificante. “A colação de grau foi um momento muito bom, porque tinha hora que eu não imagina que estaria lá, um filho de agricultor e tinha tanta gente lá, os professores que ajudaram e sempre estiveram conosco eu me senti uma pessoa gratificada por estar ali naquele momento”, salientou.

“QUERO HONRAR A TODOS QUE ME AJUDARAM”

Com a repercussão da matéria o professor de História conseguiu arrecadar mais do que precisava para pagar a passagem, ele agradeceu a todos e não se mostrou muito feliz. “Estou estudando dia e noite para esse concurso, meu sonho é ser servidor público”, destacou Cícero, completando:

“Da última vez que olhei eu já tinha mais de R$ 300 já consegui o dinheiro de ir fazer minha prova, primeiramente quero agradecer a cada pessoa que me ajudou, mesmo sem me conhecer, mesmo nesse momento de pandemia, com muitas pessoas sofrendo com todos os aumentos, ainda assim me ajudaram, que Deus abençoe cada um, peço desculpa por estar pedindo dinheiro, não é minha intenção, porque eu sei que todo mundo tem sua dificuldade, muito obrigado mesmo, que eu possa honrar, fazer uma boa prova e dar o meu máximo”.