Publicado às 14h11 desta sexta, 27

Após perder a mãe de 84 anos, nessa sexta-feira (27), que faleceu de Covid-19, no Hospital Eduardo Campos em Serra Talhada, o filho dela Nivaldo Virgulino Soares, 61 anos, não encontrou coveiro no cemitério do distrito de Sítio dos Nunes, no município de Flores, local onde a família mora. Assim, ele realizou o sepultamento da própria mãe e gravou um vídeo entristecedor que acabou viralizando nas redes sociais.

Em meio ao luto e à dor, Nivaldo quebrou o cadeado do cemitério e abriu com uma pá a cova da mãe enquanto reclamava da inoperância da Prefeitura de Flores num desabafo sobre o absurdo que vivia naquele momento. ”Bonito, o próprio filho enterrando a própria mãe porque não tem um coveiro nessa po… Isso é bonito para vocês, bucado de político.”

VEJA O VÍDEO! E LEIA A SEGUIR A ENTREVISTA DE NIVALDO AO FAROL!

FAROL ENTREVISTA – NIVALDO SOARES

FAROL – Primeiro nossos pêsames pela sua perda, o senhor viu a resposta da Prefeitura de Flores sobre o seu vídeo?

NIVALDO – É uma nota [da Prefeitura] sem vergonha, eles podem fazer o que quiserem, podem me processar. É como eu falei, se colocar cadeado naquela p…. eu vou lá e quebro, eu estou revoltado com a falta de humanidade e de vergonha, como é que pode um filho enterrar a própria mãe?

Veja também:   Colisão com viatura policial deixa jovem ferido em ST

FAROL – Você não teve nenhuma assistência do poder público? Nada?

NIVALDO – Não tem uma assistência, aí vem com história que não teve cuidados médicos, mas a pessoa vai atrás de um, mandam ir para outro e ninguém resolve, a pessoa vira um saco de pancada. Aqui eu não tenho amigos, são todos puxa saco do prefeito, todo mundo se esconde quando me ver na rua, sabe que eu vou falar mesmo.

FAROL – Como você se sentiu ao se ver naquela situação, naquele momento?

NIVALDO – Eu ia fazer o quê? É minha mãe que está ali! A última coisa que eu podia fazer para ela, eu estava de máscara e de luva, o mesmo procedimento que os rapazes do BM fizeram eu fiz, minha mãe estava em dois sacos, como ia contaminar? Falaram que o coveiro está doente, que pegou uma infecção.

FAROL – Mas o senhor não acredita?

NIVALDO – Tem um vídeo dele dançando na rua, quando a pessoa está doente ou está numa cama ou em casa isolado, dentro de casa, agora a pessoa ficar andando para cima e para baixo? Um cara desse tá doente? E ainda depois que paguei 100  reais para o coveiro cavar ainda vieram cobrar na minha porta, não é nem pelo o dinheiro é a falta de humanidade.”

Veja também:   Aliados de Márcia e Sebastião já caminham juntos em ST

O OUTRO LADO

Após a circulação do vídeo, a Prefeitura de Flores emitiu um nota de esclarecimento afirmando que o cemitério dispõe de um servidor responsável pelo procedimento e que deve haver um comunicado oficial sobre o funeral para poder o município autorizar o sepultamento, que também deve ser solicitado mediante apresentação da Declaração de Óbito.

O município disse que se compromete a apurar a conduta do profissional do coveiro e ainda disse que houve desrespeito, por parte de Nivaldo Soares, às normas de sepultamento de vítimas de Covid-19. A Prefeitura responsabiliza o filho por ter invadido um equipamento público, realizado sepultamento sem autorização e por não cumprir os protocolos de saúde necessários.

NOTA PREFEITURA DE FLORES

”Considerando a necessidade de esclarecer aos munícipes, quanto a circulação de um vídeo onde um homem aparece realizando o sepultamento da própria mãe, tecendo questionamentos quanto a inexistência de um profissional – coveiro; assumindo que quebrou o cadeado e afirmando ter visto o coveiro na rua.

Esclarecemos que o sepultamento de um cadáver só poderá ser realizado com a autorização do município após a apresentação da Declaração de Óbito (documento fornecido pelo médico, hospital ou Instituto de Medicina Legal – IML) e que, o equipamento funerário dispõe de um servidor para realização do procedimento, desde que seja oficialmente comunicado sobre o funeral; o que mesmo assim firmamos o compromisso de administrativamente, apurar a conduta do profissional em questão.

Veja também:   Grande empresa de ST é alvo de investigação do MPPE

No caso específico do sepultamento do cadáver em questão, houve um grave desrespeito às normas para o Manejo de Corpos no Contexto do Novo Coronavírus – COVID-19, já que todo o procedimento deverá ser realizado por profissionais da saúde, observando as medidas de precaução individual como o uso de EPI´s (como máscaras, luvas, capotes, tocas e botas).

Diante dos fatos, não só assumimos o compromisso de apurar uma possível negligência do coveiro, como também, responsabilizar o intérprete por ter invadido um equipamento público, realizar sepultamento sem autorização da Administração Municipal e por não cumprir os protocolos de saúde, em casos de sepultamento de cadáver vítima da COVID – 19.