Fotos: Farol de Notícias / Celso García

Publicado às 04h40 desta terça-feira (14)

Em tempos de bares cada vez mais elitizados, pubs e casas de shows, os pequenos botecos resistem em meio a selva de pedra com clientes fieis, fiados e boas histórias. Um desses pequenos recantos, parada obrigatória para molhar o bico e papear por alguns minutos é o Bar do Neto, na Rua Padre Ferraz, bem no centro comercial de Serra Talhada.

Acumulando 20 anos de jornada das 6h30 às 15h, o agricultor e proprietário do bar, Manoel Neto de Lima, de 62 anos, sai todos os dias de sua casa no Sítio Juazeiro Grande, há cerca de 14 km do centro da cidade, para abrir as portas do barzinho que só cabe ele, três bancos e as grades de cachaça e cerveja do estoque.

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Junto com um de seus filhos toca o negócio para ajudar a pagar as contas e fazer os tratamentos de saúde. Casado há 32 anos com Maria Gilvaneide, 52 anos, ele tem 6 filhos, o mais velho com 37 anos e o mais novo tem 10 anos. Hoje divide o estabelecimento com o filho, pois alega não ter mais a mesma saúde para o trabalho, mas não larga do balcão.

“Lá eu planto feijão, planto milho, crio uns bichinhos, umas galinhas, mas é só para consumo mesmo. Eu boto para tomar de conta com os filhos, hoje o dono é Ivan, eu fico só ajudando porque já estou meio velho e aleijado, tenho oito hérnia de disco. Aqui a gente vende cachaça, cerveja, água, refrigerante, vendo de tudo. E meu menino também vende em grosso. O povo aqui gosta mais de Pitú e de raizada com quebra faca e bom nome, casca que serve para remédio também”, fez a propaganda.

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COBRA GARÇONETE E CACHAÇA NA REDE

Visualmente, o Bar do Neto é um ambiente inusitado e cheio de elementos que carregam a memória do local. Duas histórias ganham destaque nas décadas do estabelecimento. Na parede o retrato guarda a lembrança da época que a cobra de estimação de Neto ajudava no bar a servir as doses, afugentar os fiados e proteger o apurado.

“Eu tinha três cobras, essa da foto era uma jiboia. Tinha uma pequena que ficava aqui comigo, eu enrolava no pescoço e ela ficava com a cabecinha aqui no meu pé do ouvido”, disse o divertido proprietário, em meio as risadas junto a equipe de reportagem do Farol.

 

Ao lado dos chifres, que representam as histórias de dor de amor e traição que Neto já ouviu esse tempo todo de bar, tem uma pequena rede no teto. A miniatura da preguiçosa deita uma latinha de cachaça, paga pelo cliente que pediu para deixar “a bichinha descansando” até ele voltar. Isso já tem cinco anos e nada do retorno.

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“Até com Lula eu já fui confundido, um povo da Alemanha veio aqui e quando viu minha foto com a cobra perguntou se eu era primo de Lula, eu disse que era e eles tiraram uma foto para levar e mostrar que tinham conhecido um parente”, disse Neto pela gaiofa.