O caos tomou conta da saúde de Serra Talhada nesta sexta-feira (6). Quem procurou atendimento médico no Hospital Regional Agamenon Magalhães (Hospam), pela manhã, deu de cara com o aviso: “Hoje não temos clínico”. Muita gente da zona rural acabou sendo afetada, gente que saiu de casa ainda de madrugada à procura de socorro no Hospam com problemas de urgência como crises de alergia, casos de infarto, vômitos, diarreias, dores de cabeça, desmaios, febre e fraturas. Desamparadas, cerca de 40 pessoas – entre homens, mulheres e crianças – procuraram atendimento no posto municipal, que, sobrecarregado, não conseguiu suprir a demanda adicional. No início da semana, o Hospam demitiu um médico. Ele alegou perseguição política.  

“O nosso atendimento no posto não é de emergência, é de pré-agendamento. Estamos fazendo milagres por aqui, porque não é da alçada do posto atender tanta gente com quadros de urgência. Não dá para suprir a quantidade de gente que está chegando”, lamentou a recepcionista do Centro Municipal de Saúde, Wanderly Nunes. Segundo ela, até às 13h desta sexta-feira, cerca de dez pessoas – entre elas crianças – tiveram que voltar para casa passando mal devido a sobrecarga de atendimentos. “Chegou um momento em que tivemos que aconselhar os pacientes, que vinham chegando aos montes, a procurar o Ministério Público”, revelou Wanderly Nunes.

SOBRECARGA

JONICLEYTON: "ISSO É UMA FALTA DE RESPEITO"

Na manhã desta sexta, o Centro Municipal de Saúde tinha apenas um clínico geral para atender toda a demanda do Hospam e ainda os mais de 20 serviços que já estavam pré-agendados. “Eu vim do distrito de Logradouro e cheguei no Hospam às 6h30. Lá, me disseram que não tinham médico. Eu perguntei: ‘como assim?’ e não me deram explicação nenhuma. Então fiquei desesperada porque minha filha está até agora (12h30) passando mal”, reclamou a dona de casa Maria das Dores da Silva, 34 anos. Com falta de ar, febre e dores de cabeça, o vendedor Jonicleyton dos Santos, 26, procurou o Hopam às 8h30.

“Eles não disseram nada, só indicaram para procurar atendimento pelo município, ou no posto de saúde ou no Nasf (Núcleo de Atendimento de Saúde da Família). Eu achei uma falta de respeito com a gente. Nós somos trabalhadores e pagamos impostos para ser bem atendidos. Estou aqui ainda passando mal, e já são 12h. E posso ser prejudicado no meu trabalho por isso”, reclamou. Em outro caso, a dona de casa Lúcia Alves de Andrada, 60 anos, precisava ser atendida devido um grave quadro de alergia. Suas mãos, rostos e pernas estavam inchados. “Eu ouvi aqui no posto que não existe medicamento para esse tipo de enfermidade, só lá no Hospam”, lamentou.   

PACIENTES AGUARDARAM ATENDIMENTO NO POSTO DE SAÚDE DO MUNICÍPIO

“O MÉDICO SAIU SEM AVISAR”, AVISA DIREÇÃO

Segundo a diretora clínica do Hospam, Mauriciana Pereira, o médico plantonista, por nome de Jodeval, simplesmente abandonou o trabalho sem qualquer justificativa. Em menos de uma semana, este já foi o segundo caso de demissão no hospital. “Ele saiu sem avisar. Não apareceu e sequer oficializou o afastamento”, lamentou Mauriciana Pereira, que responde de forma interina pela direção do Hospam.

Nesta sexta-feira (6), também não tem pediatra de plantão no Hospital Regional, o que agrava ainda mais o problema. “Procuramos vários médicos para tirar o plantão clínico mas ninguém aceitou. Infelizmente, a carência de profissionais é grande”, admitiu Mauriciana Pereira. A direção informa que apenas um ortopedista e um cirurgião estão atendendo no Hospam, nesta sexta-feira.

LÚCIA DE ANDRADE, 60, MOSTRA MÃOS E BRAÇOS INCHADOS E AVERMELHADOS DEVIDO ALERGIA