Bom dia, boa tarde e muito boa noite aos diletos faroleiros e faroleiras. Chegamos a mais um domingo de setembro, num calor da bixiga-lixa que vem torrando o meu juízo e por isso optei em mudar o rumo da prosa. Fui forçado a deixar de lado as crônicas dividindo nossas memórias, porque fui acionado pelo o filósofo de Água Branca, o meu amigo Chico Preá, para uma assembleia alcoólica extraordinária no pé do umbuzeiro. Segundo ele, algo de muito ruim estava para acontecer e era necessário a minha presença como imprensa.

Pois bem. O caso eu conto como o caso foi. Logo que cheguei no meu pedacinho de chão, Água Branca, toda a turma já se encontrava debaixo do pé de Umbuzeiro. Uma espécie de altar e confessionário sagrado. De longe, já dava para ouvir os gritos de Tonho Pé-de-Bomba e Manezin Patola, além da agonia de Beroaldo que não parava de andar em círculo ao redor da árvore. Barrufa esmurrava uma banda de tijolo, e Chico Préa, tal como um rei, se encontrava num tamborete e na mão direita o cetro: Uma garrafa de cana.

Fui recebido com abraços e tiradas de onda: “Diz jornalista sem futuro, parece que inricou depois desse negócio do candeeiro”, atirou Chico Préa, e de pronto eu rebati: “Estou do mesmo jeito e não é candeeiro é FAROL”.  Mas o Preá não ficou sem resposta dizendo que candeeiro e Farol era a mesma coisa e tudo vivia aceso. Mas isto é uma outra história.

Indo direto ao ponto, fui informado que o Ministério Público tinha pedido o fechamento do Bar do Barrufa. Um recém empreendimento 3X4 que ele tinha aberto na rua do distrito. Uma coisa simples: balcão feito de madeira rústica, oito tamboretes, fogão de duas bocas com apenas uma funcionando e um monte de garrafas de cachaça na prateleira. Vendo o nervosismo da turma, questionei as razões alegadas pela promotoria:

– Tudo frescura. Vá por mim. Tão dizendo que por lá tem sujeira e que tenho que trocar meus copos de estanho por de plastro. Eu num sô ômi de modernidade e meus estanhos não dou a ninguém, gritou Barrufa, sendo aclamado pelos gritos de apoiado. Antes de emitir a minha opinião, Chico Preá logo fez uso da palavra:

-Jornalista sem futuro, tu tá aqui para cobrir um furo de reportagem. Nóis vamo protestar. Assim como o nosso grande líder, Dr. Luciano Duque, levou sua turma prá comer dentro do mercado de Serra nóis vamo comer no Bar do Barrufa e você vai fazer a cobertura.

ÊEEEEEEE. VIVAAAAAA ! gritaram todos.

Diante da proposta inusitada, o dono do bar se empolgou e botou mais lenha na fogueira. “E nóis vai comer dentro do banheiro, que era isso que o prefeito deveria ter feito seguindo o conselho de Rosimerio de Cuca”. Foi terminando de falar e Manezin Patola começou a engunhar querendo vomitar. Mas era uma estratégia de batalha.

O GRANDE ATO

Não tinha uma outra saída. Peguei minhas anotações e a câmera fotográfica e nos dirigimos em passeata até o Bar do Barrufa. Nessas alturas, já tinha gente se arrastando de tanta cachaça. Agora, se o bar era tipo 3×4 imaginem o tamanho do banheiro. Pois bem. O caso eu conto como o caso foi. Uma bacia de ovo cozido com tripa já estava pronta para o consumo.  Cerca de dez pessoas estavam espremidas no mictório mas todas com os sorrisos nos rostos à espera do flash. Antes, porém; Chico Preá subiu na bacia sanitária e iniciou o discurso.

-Meus amigos, neste calor e aperto da bixiga-lixa, quero informar que assim como os ladrões do mensalão tiveram direito aos embargos refrijorios nóis também tem. Dura metes cede metes. A lei tem que ser justa. E quero dizer mais: se fecharem o Bar do Barrufa, vamos invadir a cozinha da promotoria e só saimos de lá após uma audiência com o bocão Joaquim Barbosa. E tenho dito.

Nestas alturas, todos suavam feito uma panela de pressão até o Manezin Patola soltar um torpedo anal que acabou com a festa. Foi um empurra-empurra para sair do banheiro e para o desespero de Barrufa, a bacia sanitária  quebrou-se  e a merda literalmente virou boné. “Não destruam o patrimônio público. Não destruam o patrimônio publico”, repetia o pequeno empresário, pondo fim a uma assembleia que não deu em nada.

O caso eu conto como o caso foi. Um bom domingo para todos e até a proxima!