Não deveria, mas a humanidade vive de mitos. O primeiro mito é um Deus, que é cultuado religiosamente – literalmente. Afora esse, adotamos alguns artistas e desportistas como mitos. Como se isso não fosse suficiente, mitificamos os políticos. Tivemos o mito Getúlio Vargas, que governou o Brasil por 19 anos.

Nos primeiros 15 anos (de 1930 a 1945), foi um ditador. No segundo governo (de 1951 a 1954), tantas fez no poder que findou suicidando-se. Depois, tivemos Juscelino Kubitschek, que construiu Brasília, trouxe o Brasil para a modernidade, mas deixou uma dívida imensa para o país e um legado de inflação, duas heranças malditas que nos castigaram por décadas. Sem falar que era um boêmio infiel à esposa, Dona Sarah.

Na sequência mitológica, veio Fernando Henrique, que debelou a inflação, nos deu uma moeda respeitável, privatizou empresas públicas ineficientes e perdulárias, legou-nos a responsabilidade fiscal, mas bancou a criação da reeleição e também era infiel à esposa. Teve um caso extraconjugal com uma jornalista da Globo. Ela teve um filho e o casal achava ser seu. Um exame de paternidade à época confirmou isso.

Há pouco mais de um ano, um exame de DNA confirmou que não é. Sendo ou não – e não é – causou um profundo constrangimento à sua esposa, Dona Ruth Cardoso. Por fim, na esfera federal, tivemos o mito Lula. Este teve a sorte de encontrar uma estrutura de estado mais ou menos saneada por FHC, manteve a política econômica do PSDB e colheu os frutos plantados pelo governo anterior. Em nome da “governabilidade”, fez um pacto com o que de pior existe na política brasileira, fechando os olhos para a corrupção, que explodiu no país.

Com todo o seu cacife político, podia, mas não quis fazer as reformas de que o Brasil precisa para deslanchar de vez, quais sejam a reforma política, a trabalhista, a tributária, a previdenciária e a sindical, entre outras. Não quis desgastar seu prestigio político.

O Brasil perdeu uma oportunidade de ouro. Na esfera estadual, tivemos Miguel Arraes que pairou como mito por décadas em Pernambuco e no Brasil até o estouro do escândalo dos precatórios nos anos 90 desmascará-lo e desmoralizá-lo de vez. Até Eduardo Arraes estava envolvido nisso. Qual é o mito político de Serra Talhada? Olhe sua história e verá seus pés de barro.

Como veem, todo mito tem os pés de barro, quer dizer, não se sustenta em pé com sua pompa arrogante. Portanto, nada de mitificar políticos nem bajulá-los. Eles têm que ser levados é na rédea curta, senão passam a se achar os reis da cocada preta pintando e bordando com o nosso dinheiro.