Fotos: Farol de Notícias/Max Rodrigues

Publicado às 04h52 deste sábado (5)

Elas vêm lutando para conquistar espaços que outrora jamais imaginariam ser da mulher. Como frutos dessas lutas, hoje lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive, nas artes marciais. Pensando nisso, o Farol traz um pouco da trajetória de algumas mulheres serra-talhadenses neste esporte, especificamente no Karatê. Foram entrevistadas quatro caratecas, sendo 3 faixa preta e uma faixa amarela. Para elas, assim como para o instrutor Roosevelt Luiz, 50 anos, faixa preta 5º Dan, as artes marciais são de suma importância para as mulheres, visto que podem usar como defesa pessoal e evitarem agressão que é um fato cada vez mais recorrente na atualidade.

YASMIN OLIVEIRA

Além das 4 caratecas entrevistadas, a Capital do Xaxado conta com 10 mulheres que abraçaram o Karatê como esporte e até mesmo como uma válvula de escape. Dessas 10 guerreiras, 5 já atingiram a tão sonhada faixa preta. Uma figura feminina histórica no Karatê em Serra Talhada é Yasmin Inácio de Oliveira, 33 anos,  professora de karatê na Academia Bushikan, primeira mulher de Serra Talhada a conquistar a faixa preta.

Ela começou treinar na mesma academia a qual é professora há 7 anos uma semana antes completar 15 anos. Queria praticar algum esporte diferente, porém não gostava de  jogar bola, nem de capoeira e quando viu as pessoas passando vestidas de kimono, ficou curiosa e logo soube o que queria. Revelou que não era muito boa nos estudos, mas com o incentivo do instrutor melhorou tanto nos estudos quanto na violência, pois ela era agressiva. A partir desse primeiro passo, muito esforço e treino, Yasmin conseguiu a faixa preta e já está finalizando o 3º Dan.

”Quando eu comecei a treinar nem pensava de chegar na preta, pensava que ia desistir na roxa. Achava que não ia aguentar a pressão, depois, pensando bem, eu disse: não, a pressão está boa, vamos para a preta!? Quando atingi a emoção foi grande e hoje passo isso para outras mulheres porque muitas pensam que se entrar nas artes marciais vai se machucar, que é pesado e toda arte marcial tem um treinamento puxado, às vezes acontece se machucar sem querer porque está pegando uma técnica, mas conforme vai treinando não se machuca mais. Tem uma frase que diz: ”mulher é sexo frágil, se ela quiser” então se ela quiser, mas ela pode aprender defesa pessoal, derrubar um homem e fazer a mobilização, só vai depender dela”, afirmou a faixa preta.

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Yasmin treina crianças, adolescentes e adultos, no entanto,  o treino de crianças é totalmente diferente dos demais, não é tão puxado é um treino mais educativo. Para a professora, são como uma família e não há resistência por parte dos homens em treinarem com ela por ser mulher. Segundo a treinadora, o único receio é no início quando chega um faixa branca e ver os faixas pretas, no entanto, ela tranquiliza-os e depois se acostumam.

Durante a entrevista ao Farol, Yasmin ainda falou sobre os 5 princípios de orientação do praticante de Karatê e o quanto eles são importantes tanto antes da prática do esporte quanto para levar para a vida, pois são indispensáveis para a formação profissional e pessoal dos Caratecas. Essa orientação é chamada de dojo kun, é como se fosse uma oração. Os princípios são: esforçar-se para a formação do caráter; fidelidade ao verdadeiro caminho da razão; criar o intuito de esforço; respeitar acima de tudo e conter o espírito de agressão.

DANIELY MORAES

Daniely de Lima Moraes, 22 anos, empreendedora, faixa amarela, aluna de Yasmin, iniciou como faixa branca em novembro de 2020, atualmente é faixa amarela e diz que desde quando entrou no esporte sonha também conquistar a faixa preta, assim como sua professora e as demais colegas.

A escolha do Karatê teve um ”empurrãozinho” da sua mãe e se inspiraram na própria Yasmin, por isso disse que é importante divulgar a inserção da mulher nesse espaço para inspirar outras guerreiras.

”Quando a gente entra no karatê já é um sonho chegar na faixa preta, eu quero muito chegar porque é o topo. Eu comecei ser aluna de Yasmin através da minha mãe porque ela tinha mais contato com ela por trabalhar na parte de segurança e desde pequena eu sempre tive vontade de fazer artes marciais, mas era muito em dúvida qual faria. O fato de minha mãe conhecer Yasmin influenciou um pouco e ela foi uma inspiração, eu já sabia que ela treinava. Entrei para fazer o teste e simplesmente me apaixonei, hoje eu gosto muito, é muito desestressante e é muito tranquilo ser aluna dela”, afirmou Daniely continuando:

”Sempre que a gente posta fotos e vídeos no karatê, as pessoas perguntam e a gente influencia a entrar porque eu percebo que a visão, principalmente de mulheres, de entrar no Karatê, é de receio acreditando que é agressividade, que é para bater, que vai apanhar, mas não é isso. Então, é importante mostrar, divulgar porque não é apenas um esporte, um treino, mas como defesa pessoal num caso de necessidade por isso que é importante, principalmente nos dias de hoje.”

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KETLLY LIMA

O karatê é um esporte possível para mulheres dos mais variados perfis, inclusive para uma mãe de 3 filhos. Esse é o caso de Maria Ketlly de Lima, 33 anos, empresária, mais uma mulher que conquistou a faixa preta em Serra Talhada. Ela também iniciou muito jovem, pois em 2005 já era faixa verde. Após casar-se e ter os filhos, Ketlly passou 14 anos sem praticar o Karatê, mas o coração permanecia no dojô e finalmente, em 2019, pode retomar a prática do esporte. Nesse mesmo período, fez exame para a faixa roxa, foi promovida a faixa marrom, em abril atingiu a faixa preta e hoje também incentiva os filhos a treinarem.

”Essa última troca de faixa foi muito emocionante porque era um sonho e passar tanto tempo parada, ter filho e conquistar aquilo que tinha sonho desde criança é muito gratificante. Eu viajava para campeonatos brasileiro e pernambucano para competir e eu amava, mas veio as consequências de casada e ter filho, algo que tomava todo o tempo e não dava para ir para o karatê. Mas, hoje treino e meus filhos já iniciaram também, embora que devido à pandemia deu uma parada, mas depois vão reiniciar. Eu trabalho o dia todo e o karatê para mim é como um escape para tirar o estresse, quando eu estou triste eu chego de um jeito e saiu de lá de outro”, disse Ketlly.

SOLANGE FERRAZ

A outra faixa preta Maria Solange de Lima Ferraz, 31 anos, educadora física, conquistou a faixa há 10 anos. Iniciou os treinos aos 13 anos em outra academia, e quando chegou a Academia Bushikan já era graduada na faixa verde.

Durante a entrevista ao Farol, ela afirmou que os preconceitos ainda existem em relação à mulher nas artes marciais, mas quando as pessoas passam a conhecer o esporte e percebem o quanto é transformador mudam de visão

”Eu sou educadora física, então para mim não só o karatê, mas o esporte em si é muito importante porque é um meio transformador. A gente treina diariamente não só o físico como também a mente. Temos regras, disciplina e os fundamentos que a gente segue todos os dias, então o karatê hoje vem como um ambiente acolhedor. Nós somos uma família, todos se respeitam tanto dentro quanto fora da academia, então vem para agregar na nossa vida e na nossa profissão também, disse continuando:

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”Para mim, foi algo transformador porque eu segui aqueles fundamentos que já vinham do karatê e levei para minha profissão. Sempre existe preconceito de algumas pessoas pelo receio, inclusive sempre vem da própria família da gente por ser mulher e treinar. Minha mãe não queria que eu treinasse, tinha medo porque eu era agressiva e o karatê foi transformador porque eu aprendi a domar aquela agressividade, me transformei e com o passar do tempo as pessoas vão vendo o processo de transformação na vida da gente e começam ter outra visão.”

INSTRUTOR EM MEIO AS MULHERES

Dentro de uma escala hierárquica no karatê, todas essas caratecas citadas são da ”linhagem” do instrutor  Roosevelt Luiz dos Santos, faixa preta-5º Dan, proprietário da Academia Bushikan. Yasmin, Ketlly e Solange são filhas porque foram treinadas por ele e Daniely é neta porque é treinada por Yasmin. Tendo em vista essa ligação do professor com essas guerreiras, o Farol conversou com ele sobre a importância de treinar mulheres. O profissional também pontuou a questão da defesa pessoal, contudo, frisou que as treina para se defenderem e não para agredirem, pois, agredir alguém imobilizado seria uma atitude de covardia.

”No meu entendimento, a importância de treinar mulheres, além de ser uma atividade física, a questão de defesa pessoal porque sabemos que o Brasil é um país que ainda se registra muita violência contra a mulher, embora que a ideia das artes marciais não é agressividade, mas é de defesa. Então, essas mulheres são capazes de se defenderem, não agredirem, mas evitar uma agressão contra elas. Algumas têm crianças e é muito louvável essa questão da mulher saber se defender e sem precisar de armas, ela apenas se esquivando e imobilizando porque essa é nossa orientação. Não bata, se esquive, imobilize, domine e chame a polícia porque a partir dali a polícia toma todo o procedimento. Eu não oriento bater porque é até covardia quem sabe bater e bate a pessoa estando imobilizada, então é covardia.” explicou Roosevel.